A tecnologia de produzir
energia elétrica utilizando o calor resultante de reações nucleares como
combustível de uma usina termoelétrica, passa por um período de grandes
incertezas e forte resistência à sua expansão mundial.
Com exceção da China, que
conta com um grande programa de construção de novas usinas, poucos países ainda
se aventuram na direção da tecnologia atômica.
Mesmo depois dos graves
acidentes que ocorreram em Three Mile Island (EUA-1979), Tchernobyl
(Ucrânia-1986) e Fukushima (Japão-2011), os interesses da indústria atômica nos
últimos anos intensificaram suas ações. Um agressivo e poderoso lobby, atuando
em diversos países, tentam impor uma tecnologia completamente ultrapassada,
cara e perigosa. Repetem mantras totalmente falsos, contrário ao que diz a
ciência. Afirmam que a energia nuclear é uma fonte “limpa”, o que contribui
para o enfrentamento do aquecimento global. É segura, pois os riscos de
acidentes acontecerem são praticamente inexistentes, e é competitiva
economicamente com outras formas de geração elétrica.
Argumentos não faltam para refutar tais mentiras, e abolir de vez as usinas nucleares das matrizes mundiais, na perspectiva de uma transição energética justa e sustentável, que privilegia as fontes renováveis de energia.
Acidente nuclear em Fukushima: dez anos após a tragédia.
Às 14h46 de 11/03/2011, um
terremoto de magnitude próxima de 9 causou um tsunami com ondas de 14 metros e
a água inundou a usina nuclear de Daiichi município de Fukushima, na costa
nordeste do país, e mais de 160 mil pessoas tiveram que fugir por causa da
radiação. Foi o pior acidente nuclear desde Chernobyl.
Na atualidade vivenciamos o
retorno à barbárie com a guerra na Ucrânia. Este país, com seus 19 reatores
distribuídos em um território de 603.548 km², e com 44 milhões de habitantes, é
um exemplo a mais da periculosidade que representa a nucleoeletricidade, para
os países que contam com as usinas nucleares em seu território.
É evidente que estamos
tratando uma situação extrema, a guerra. Todavia, fica evidente, em termos da
segurança das instalações nucleares, que estes locais são estratégicos e visados
em um conflito bélico. Foi na Ucrânia que ocorreu um dos maiores desastres, o
de Tchernobyl. Hoje, apenas um mausoléu a eternidade, que simboliza os perigos
desta tecnologia.
Conforme informações
veiculadas, sobre o território em torno de Tchernobyl circularam tropas russas
e veículos pesados que ocuparam a usina. Em seguida, foi detectado e explicado
um aumento da radioatividade no local, conhecido como Floresta Vermelha. O
revolvimento da terra provocou a suspensão de partículas, de poeira radioativa.
Em outra instalação, localizada em Zaporizhzhia, se encontra o maior complexo da Europa, com 6 reatores. Contra este complexo houve o lançamento de mísseis em uma área destinada às edificações administrativas. Conforme monitoramento, não houve liberação de radioatividade. A Ucrânia é o sétimo maior produtor mundial de energia elétrica de origem nuclear, gerando mais de 50% da energia consumida em seu território.
Temporais em Angra dos Reis/RJ impediram rotas de fuga se usinas nucleares tivessem acidente, mas empresa não desligou reatores.
Aqui no Brasil, este início
de ano, mostrou a força e o poder de destruição de eventos extremos provocados
pelas chuvas torrenciais que atingiram municípios nos Estado da Bahia, Minas
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro. Foram recordes em relação ao volume de água
precipitado.
As chuvas que atingiram Angra
dos Reis, no Rio de Janeiro, no início de abril, foram recorde histórico,
mostrando que as mudanças climáticas já promovem tragédias no País. Em 48 horas
choveu em torno de 700 mm. O que acabou provocando deslizamentos de terra, que
soterraram casas, moradias, e provocaram a interrupção das vias de acesso pelo
desmoronamento das encostas. Assim o município ficou completamente isolado, sem
rota para sair ou entrar.
É neste município no Estado
do Rio de Janeiro, na praia de Itaorna (em tupi guarani significa “pedra
podre”), que está localizado a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto
(CNAAA), composto pelas usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3 (em construção).
É aí que mora o perigo.
A cidade completamente
isolada impedia que, diante de um possível problema no complexo nuclear,
pudesse ser ativado o Plano de Emergência, permitindo a evacuação das pessoas
próximas às usinas. Diante da situação desastrosa que o município se
transformou, o prefeito solicitou à empresa Eletronuclear que interrompesse o
funcionamento das usinas, em uma ação preventiva. O Ministério Público Federal
também foi provocado, e acionou a empresa.
Por sua vez, a direção da
empresa, em sua soberba, pouco importando com a vida dos angrenses,
monocraticamente rejeitou a possibilidade do desligamento, justificando que o
funcionamento era normal, e que não havia qualquer anomalia que justificasse
desligar as usinas. Foi alegado que o corte de fornecimento de energia
produzido por Angra 1 e Angra 2 (representam menos de 2% da potência elétrica
total instalada no país), traria consequências sérias ao sistema elétrico
brasileiro. Simplesmente não acatou a solicitação de interromper o funcionamento
das usinas nucleares diante da catastrófica situação no município. Uma decisão
irresponsável, sem tamanho, que colocou a vida das pessoas em risco.
Uma constatação óbvia do que
aconteceu na Ucrânia e em Angra dos Reis é que reatores nucleares são altamente
perigosos não somente em tempo de paz, mas muito mais na guerra.
O que surpreende nas escolhas
das soluções energéticas é que são tomadas por um grupo reduzido de pessoas, de
maneira autoritária, sem a participação efetiva da sociedade civil, um retrocesso
democrático. As decisões sobre a política energética no País são definidas e
centralizadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), cujos
membros quase unânimes são ministros de Estado, representantes do poder
público, deixando de fora do poder decisório a sociedade civil.
Constata-se que as decisões centralizadas deste órgão de assessoramento da presidência da República têm comprometido para pior, a vida dos brasileiros. As escolhas equivocadas, no aspecto econômico, provocaram tarifas exorbitantes. Os impactos dos empreendimentos atingem frontalmente as populações que vivem próximas dos locais das instalações, e seus modos de vida. Do ponto de vista ambiental, a contribuição tem sido o desmatamento, a emissão de gases de efeito estufa, e de outros gases que afetam a saúde das pessoas.
A tragédia em Chernobyl (na atual Ucrânia) em 1986, a União Soviética emitiu um comunicado tão lacônico quanto arrepiante: “Um acidente ocorreu na usina nuclear de Chernobyl, após um reator ser danificado. Medidas estão sendo tomadas para eliminar as consequências do acidente. Aqueles que foram afetados estão recebendo ajuda. Uma comissão governamental foi formada [para acompanhar o ocorrido]”.
Até os mandacarus do meu semiárido, sabem que o Brasil não precisa de usinas nucleares, pois a diversidade e complementaridade entre si, e o potencial das fontes renováveis de energia (sol, vento, água, biomassa) existentes, são suficientes para atender as necessidades energéticas presentes e futuras.
(ecodebate)
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