A
energia de origem biológica (biomassa e biocombustível) tornou-se em 2011 a
principal fonte energética da Suécia (31,6%), ultrapassando o petróleo (30%). É
o primeiro país industrialmente avançado a conseguir este feito, com uma
estratégia essencialmente assente no consumo eficiente de combustíveis fósseis
e no desenvolvimento da "economia verde" baseada na criação de um
cluster energético derivado da indústria celulósica e papeleira.
Para
termos uma noção aproximada da magnitude da revolução em curso naquele país
nórdico, é preciso termos em conta que na década de 70 do século passado mais
80% do mix energético sueco era composto por petróleo, totalmente importado. Os
choques petrolíferos foram especialmente severos para aquela sociedade
escandinava, dada a aspereza do inverno.
O
défice energético extremo mobilizou a sociedade sueca para definir como
objectivo estratégico nacional a conquista da independência energética.
Só
que ao contrário da Dinamarca, a Suécia não tem petróleo, nem gás, nem em terra
nem no mar. Mas possui uma das três maiores manchas florestais da Europa
(portanto, muita biomassa disponível) e uma indústria da celulose e do papel
avançada e competitiva.
Diversificar as fontes e transformar subprodutos em
energia
Então
a partir da década de 70 os governos suecos iniciaram o desenvolvimento de uma
estratégia de diversificação energética da produção de electricidade,
introduzindo a energia nuclear, o gás natural (residual e não importam um metro
cúbico da Rússia), a hidroeléctrica e a biomassa, esta última inclusive para a
geração de calor para aquecimento descentralizado de bairros (district
heating).
Nos
anos 90 do século passado a Suécia introduziu um imposto sobre o carbono e
iniciou o desenvolvimento de biocombustíveis de origem celulósica para a
produção de etanol para transportes e começou a importar biocombustível
brasileiro. Além disso, lançou um vasto programa de eficiência energética a
nível nacional.
Na
primeira década do século XXI os resultados desta estratégia notaram-se no
reforço da segurança energética assente no uso racional da energia e da
bioenergia: já em 2008 a Suécia tinha conseguido diminuir 60% do consumo de
combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) e aumentado 40% o consumo de
biomassa.
E
agora em 2011 tornou a bioenergia a principal fonte energética do país, a par
com o petróleo.
Entre
os principais factores que contribuem para o sucesso da bioenergia na Suécia é
o seu grande excedente agrícola e as fábricas de celulose que produzem etanol
como subproduto. Ou seja, valorizaram os resíduos endógenos e tornaram-nos um
produto estratégico para a segurança energética da economia.
Além
disso, os automóveis suecos podem utilizar misturas com elevada percentagem de
biocombustíveis, como o E85, que podem conter até 85 por cento de etanol e
biogás.
Por
sua vez, a biomassa para aquecimento representa mais de metade da climatização
dos espaços residenciais e comerciais suecos. Existem mais de 100 mil sistemas
de aquecimento de pequena escala consumidores de pellets (combustível orgânico
de forma cilíndrica, produzido através de biomassa densificada).
Small is beautiful
A
principal lição da Suécia a nível da segurança energética é que desenhou e
implementou uma estratégia que soube maximizar as suas vantagens comparativas
face a outras nações, aliada a uma forte racionalização da utilização da
energia.
Com
uma indústria energeticamente eficiente, um mix energético muito diversificado,
uma pequena área territorial e uma população também de diminuta dimensão, e
vastos recursos florestais, os suecos estão na rota da sua auto-suficiência
energética sustentável, dinamizadora de uma economia verde pujante e
competitiva. (expresso)
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