Combustíveis alternativos: um futuro sem
petróleo é possível?
Tecnologia é o foco de montadoras para descobrir maneiras
inovadoras de reduzir emissões.
Ônibus movido a diesel B20 já é testado no
Rio de Janeiro
MAN lançou caminhão com motor híbrido
diesel/hidráulico que recupera energia de freadas
Caminhões movidos a diesel com mistura de 20%
de biodiesel foram testados com sucesso
Caminhão flex, da MAN, pode rodar com diesel
e etanol
O melhor rendimento da biomassa e de outras
fontes limpas de energia é o foco de pesquisadores da áreaCaminhão da Mercedes-Benz roda com diesel feito 100% de cana-de-açúcar
Embora o Brasil esteja
acostumado a figurar na vanguarda do uso de energias limpas, esta fama não
inclui o setor de transportes comercial, ainda muito dependente do diesel. A
evolução das fases do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores (Proconve) – a mais recente chamada de P7 ou Euro 5 – melhorou o
quadro, mas ainda há muito a evoluir, principalmente quanto ao nível de
emissões de dióxido de carbono (CO2).
As montadoras têm
investido tempo e dinheiro para encontrar soluções capazes de reduzir a poluição
dos motores mantendo a produtividade. Segundo pesquisa da Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), desde a primeira fase do
Proconve, no fim dos anos 1980, as emissões de material particulado - resíduos
formados na queima incompleta do combustível - por veículos pesados já caíram
97% e as de óxidos de nitrogênio (NOx), 86%.
O desafio hoje está
justamente em diminuir também o nível do CO2, ainda não contemplado pela
legislação. O setor de transporte, incluindo todos os modais, é responsável por
17% do total de emissões globais da substância. O resto é dividido em 22%
causado pelo desmatamento, 25% sob responsabilidade da indústria, 27% para
geração de energia e 9% entre famílias e pequenos consumidores. A previsão para
2020, mesmo com uma frota seis vezes maior de pesados, é positiva: a emissão de
material particulado será o equivalente a 36% do total registrado no fim dos
anos 1980. Na contramão, haverá o aumento de 18% das emissões de NOx, na
comparação com o mesmo período.
Entre os principais
objetivos da indústria está a utilização de combustíveis menos dependentes de
matrizes fósseis. Embora os aumentos das porcentagens de biodiesel no diesel
comum já sejam realidade, Gilberto Leal, gerente de desenvolvimento de motores
da Mercedes-Benz, ainda vê como distante uma realidade sem petróleo. “Existe um
potencial muito grande de desenvolvimento da biomassa como combustível, mas só
irá crescer se tiver utilização. É muito importante insistir na pesquisa, no
uso de biocombustíveis para alimentar isso, mas pelo menos até 2030 ainda vamos
ter dependência de petróleo”, afirma.
Os novos combustíveis
Os combustíveis
provenientes de oleoginosas, biomassa, gordura animal, cana-de-açúcar e outras
fontes além de reduzir emissões, também apresentam desempenho melhor. Um
exemplo é o diesel de cana, feito 100% da planta. O processo é similar ao da
produção do etanol, mas para fermentar o caldo da cana é utilizada uma levedura
modificada geneticamente, que, em vez de produzir álcool, gera uma gordura,
transformada em diesel. Sem água e enxofre e com substâncias mais limpas, o
combustível não apenas polui menos, mas queima melhor, com ganho de rendimento.
As montadoras também
vêm experimentando porcentagens mais altas de biodiesel nos veículos pesados,
chegando até a versão pura (B100). A mistura B20 (com 20% de biodiesel
adicionado ao diesel comum) já é testada na prática em algumas empresas, sempre
com resultados positivos. Entretanto, segundo Leal, 20% ainda é a melhor
relação entre custo/benefício e balanço ambiental. “Acredito que deva subir a
mistura do biodiesel até 2020, mas ele não deve ter mais de 20%, pensando em
plano nacional. Em uso localizado, podemos ter nichos de mercado, mas serão
setores específicos”, prevê.
Tecnologias híbridas
e o futuro
Outras alternativas,
como veículos híbridos, aos poucos ganham corpo. De acordo com Gian Gomes
Marques, engenheiro executivo responsável pelo pré-desenvolvimento de sistemas
avançados de propulsão e combustíveis da filial brasileira da MAN, testes com
tecnologias de duplo combustível, com um segundo tanque exclusivo para
biodiesel puro, tiveram resultados promissores. Há também a opção pelo uso de
propulsão elétrica auxiliar, aproveitando a inércia do veículo para recarregar
as baterias.
Porém, quando se fala
em veículos pesados comerciais, ainda não há perspectivas para deixar de
utilizar a combustão a diesel. “O diesel tem características vocacionais para
aplicações comerciais, como robustez, confiabilidade, durabilidade e baixo
consumo”, explica Marques. Um dos desafios tecnológicos, segundo ele, é a
densidade de energia. A densidade de 1kg de diesel é 100 vezes maior do que de
uma bateria de íon de lítio do mesmo peso, considerada de alto desempenho. Isso
quer dizer, na prática, que a quantidade de energia presente em 1kg de diesel
corresponde a incluir no veículo 100kg em pacotes de bateria.
Tanto Leal quanto
Marques defendem múltiplas alternativas aos combustíveis tradicionais. “Existem
várias opções e acho que elas não são globais. Cada região vai identificar, em
função da sua necessidade, da sua riqueza, aquilo que for melhor para ela”,
explica Marques. Leal aposta no biodiesel como uma fase de transição, com a
vantagem de ser mais sustentável, já que as plantas, além de conter energia,
ajudam a diminuir o CO2 pela fotossíntese. “Acredito que o biodiesel
fica por um bom tempo. Tenho certeza de que o elétrico vai chegar, mas ele tem
condição de retorno bastante definida. Também dá para usar o hidrogênio como
combustível, só que hoje o preço é impagável, a esperança é que baixe”,
completa Leal. (transporteelogistica)
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