Tabaco energético é testado como matéria-prima para
biodiesel
Uma iniciativa inédita no Brasil está sendo elaborada no interior do Rio
Grande do Sul. O grupo italiano Sunchem e a gaúcha M&V Participações
realizam no município de Rio Pardo testes com o chamado tabaco energético. A
planta, diferentemente da convencional, não pode ser utilizada para a produção
de cigarros, mas pode ser aproveitada para a fabricação de óleo vegetal e,
consequentemente, de biodiesel ou bioquerosene de aviação. Ainda propicia
subprodutos como biomassa para geração de energia e ração animal.
A semente de tabaco energético foi desenvolvida pela empresa italiana de
biotecnologia Plantechno. Como resultado dessa pesquisa, em 2003 foi aprimorada
uma variedade de tabaco com características que a tornam única em seu gênero:
com baixíssimo teor de nicotina e rica em óleo. Em 2007, a Plantechno e a
Idroedil criaram a Sunchem e passaram para uma fase de provas em escala
mundial. Desde então, experiências foram realizadas em países como Itália,
Egito, Estados Unidos, Namíbia, Senegal e Costa do Marfim. No ano passado,
Sunchem e a M&V resolveram conduzir testes no Brasil.
Ao final de 2011, o tabaco energético foi plantado em cerca de 10
hectares, em Rio Pardo, e a primeira colheita deverá ocorrer em junho. O
economista Sérgio Camps de Morais acredita que em 2013 será possível atingir um
patamar que permita uma produção em escala comercial. Morais, que já foi
produtor de soja e arroz em São Gabriel e presidente do Grupo CEEE durante o
governo de Yeda Crusius, será o CEO da Sunchem South Brazil (que deve ser
formalizada até junho, com sede em Porto Alegre). A companhia assumirá a responsabilidade
do projeto no País.
Ele adianta que para 2014 o objetivo é implementar uma unidade
industrial para viabilizar a produção de biocombustíveis. A perspectiva é de um
investimento de aproximadamente R$ 20 milhões para concretizar uma estrutura
com capacidade para esmagar em torno de 250 mil toneladas do tabaco energético
ao ano. Para atender à demanda do complexo, será preciso alcançar uma área
plantada entre cinco e dez mil hectares.
Conforme Morais, a variedade desenvolvida no Estado é resultado de um
trabalho de seleção, porém em outras nações já há pesquisas envolvendo
transgênicos. O sistema de plantio é igual ao tabaco tradicional, entretanto há
a possibilidade de mecanização no transplante e na colheita. Ele acrescenta que
o tabaco energético produz de seis a dez toneladas de semente por hectare, com
conteúdo de óleo de 35% a 40%, enquanto a soja tem 18%. Além disso, é mais
resistente ao clima. O ciclo de plantio e colheita é de 120 a 270 dias e a
semente possui diâmetro de aproximadamente 0,6 milímetros.
O economista salienta ainda que a cada ano surge uma nova dificuldade
para a comercialização do fumo tradicional, com restrições impostas ao cigarro.
“O energético é uma alternativa, não é algo para substituir o fumo, mas
queremos que os fumicultores agreguem essa atividade, diversificando a
produção”, diz Morais. Ele revela também que, caso o óleo vegetal oriundo do
tabaco energético enfrente dificuldade de comercialização dentro do mercado
brasileiro, o produto poderá ser exportado e uma das compradoras deverá ser o
grupo Argos, empresa de energia global sediada na Holanda. (biodieselbr)
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