Potencial de geração elétrica de mares e oceanos pode ser
mais de mil vezes maior do que toda capacidade instalada do Brasil.
Mares e oceanos
cobrem 70% da superfície terrestre; era de se esperar que o homem – além de
explorá-los como vias de transporte, laser e fontes de alimento, água potável e
matéria prima – buscasse também extrair energia de suas águas. Afinal, 60% dos
habitantes do planeta, ou quase 3,5 bilhões de pessoas, vivem em zonas
costeiras.
Os diferentes
movimentos das águas de mares e oceanos exercem um papel fundamental sobre o
equilíbrio da biosfera, determinando o clima e regulando a temperatura do
planeta.
Mas também
representam um gigantesco potencial energético, estimado entre 500 bilhões e 1
trilhão de kWh (quilo watt hora) por ano; a melhor estimativa equivale a pouco
mais de mil vezes toda a capacidade elétrica instalada no Brasil, que é de
cerca de 110 GW (giga watt).
Além
dos movimentos das marés, ondas e correntes, as diferenças de temperatura (água
quente na superfície e fria nas profundezas) e de salinidade podem ser usadas
para produzir eletricidade. As tecnologias mais maduras atualmente são aquelas voltadas
para o aproveitamento do movimento das marés, a chamada “energia maremotriz”.
Para que uma usina
elétrica maremotriz seja viável, a amplitude média das marés (diferença de
altura entre os picos das marés alta e baixa) deve ser de 10 a 15 m.
O princípio de
funcionamento é o mesmo das usinas hidrelétricas: uma queda d’água aciona uma
turbina acoplada a um gerador elétrico. Uma barragem represa a água na subida
da maré até ela atingir o nível máximo; com o descenso da maré, a água
aprisionada é liberada e direcionada para as turbinas, gerando energia elétrica
(imagem).
Como a maioria das
fontes renováveis, a energia das marés é intermitente. Mesmo assim, ao
contrário de outras como a solar e a eólica, a maremotriz tem a vantagem de ser
previsível, uma vez que a periodicidade entre a preamar e a baixamar é
conhecida há séculos. Registros do uso da energia maremotriz para mover
pequenos moinhos na Europa remontam ao século XI.
A França foi
pioneira na geração de eletricidade a partir da energia das marés; em 1967
entrou em operação a usina de La Rance (imagem), com uma capacidade de 240 MW
(mega watt). Era a maior usina maremotriz do mundo até 2010, quando entrou em
operação a usina de Sihwa, na Coréia do Sul, com uma potência total de 260 MW.
Outros países
empreendedores dessa tecnologia são a Rússia, com uma usina de 1,7 MW, em
operação desde 1968, a China (3,2 MW) e o Canadá (20 MW), com usinas
inauguradas em 1980. A Coréia do Sul planeja colocar em operação até 2017 mais
três usinas, com capacidade total de 2.650 MW.
Usinas maremotrizes
tem um alto custo de construção, provocam alterações nos níveis das marés e nas
correntes, como também nos ecossistemas em seu entorno, o que requer um estudo
aprofundado do impacto ambiental (sobre a flora e a fauna), especialmente nos
estuários. Outro problema é a dificuldade de manutenção dos equipamentos, que
estão permanentemente sujeitos à corrosão salina e a degradações causadas por
microorganismos.
Nosso país, com
quase 9 mil quilômetros de costa, dispõe de inúmeras zonas com grandes
amplitudes de marés, a exemplo da Baía de São Marcos, no Maranhão. Isto sem
falar da possibilidade de se explorar a energia das ondas; estima-se que até
2020 a tecnologia para uso dessa energia estará consolidada. Vários
projetos-piloto encontram-se em desenvolvimento mundo afora, com destaque para
uma instalação de 2 MW na Holanda.
No Brasil, uma
unidade piloto de 50 kW, baseada em uma tecnologia pioneira de conversão de
energia das ondas, está sendo testada na Coppe/UFRJ, em um gigantesco
simulador, o Tanque Oceânico (foto).
Água sob alta
pressão – obtida com o auxílio de bombas acopladas em flutuadores que convertem
a energia das ondas – é armazenada em uma câmara. Ela é então liberada na forma
de um jato d’água, com pressão e vazão controladas, acionando uma turbina
acoplada a um gerador elétrico.
Tanque Oceânico da Coppe/UFRJ
Outra alternativa
energética oferecida por mares e oceanos é o aproveitamento da diferença de
potencial térmico de suas águas, que pode ser convertido em eletricidade
(esquema abaixo).
O princípio de
funcionamento é o mesmo de uma usina termelétrica, sendo que o fluido de trabalho
tem um baixo ponto de ebulição. O fluido é vaporizado pela troca de calor com a
água da superfície (quente), se expande em uma turbina (que alimenta o gerador)
e se condensa interagindo com a água fria do fundo do mar.
O rendimento
termodinâmico é muito baixo; o máximo teórico que se pode obter – com as
temperaturas indicadas na figura – é de quase 7%. Mesmo assim, tal como o
movimento das marés, o “gradiente de temperatura” existe em permanência e,
portanto, é um recurso renovável que pode ser explorado como alternativa
energética.
A tecnologia de
conversão da energia térmica do oceano (OTEC, na sigla em inglês) foi
desenvolvida pioneiramente pelos Estados Unidos na década de 1980, em razão dos
altos e sucessivos aumentos no preço do petróleo naquele período.
Era um programa
ambicioso, que pretendia atingir uma capacidade instalada ao longo da costa
americana de 10 GW até o final de 1999. Uma usina piloto com capacidade de 50
kW chegou a ser construída e testada no Havaí, mas o projeto foi abandonado
quando o mercado de petróleo voltou a ser atraente.
Na atual conjuntura
– de incertezas no suprimento de combustíveis fósseis e restrições a emissões
de CO2 – a National Oceanic
and Atmospheric Administration (NOAA) dos EUA está apoiando novos
projetos e estudos de impacto ambiental, para relançar em escala comercial a
geração elétrica baseada em OTEC.
Apesar dos desafios
tecnológicos e ambientais que o uso em larga escala da energia dos mares e
oceanos tem pela frente, a crescente preocupação mundial com emissões de
carbono e a volatilidade do mercado de petróleo, podem tornar esses recursos
atraentes para a produção de eletricidade nas próximas décadas. (ofrioquevemdosol)
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