Eficiência energética e o desenvolvimento econômico
Em tempos de revisão tarifária muito tem se falado sobre o
custo da energia elétrica e seu papel estratégico no plano traçado pelo governo
federal visando fomentar a atividade industrial e o crescimento econômico. Por
outro lado, têm sido recorrentes as interrupções no fornecimento de energia
elétrica as quais atribuem-se causas diversas, gerando um grau de incerteza
sobre os investimentos a serem priorizados pela iniciativa privada.
Temos um sistema elétrico nacional robusto, proporcional às
dimensões continentais do pais. No entanto, de forma a sustentar o crescimento
econômico estimado no âmbito do Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030),
deveríamos ser capazes de gerar energia nova na proporção direta desse
crescimento. Ocorre que atrasos no andamento das obras das usinas, sejam
hidrelétricas, termelétricas, eólicas ou PCHs e mesmo em obras de transmissão,
vêm impedindo a concretização dessas metas. Na outra ponta, a despeito dos
esforços do Poder Executivo, não se confirmaram os índices previstos para a
expansão econômica. De forma que, se houvéssemos crescido o esperado, muito
provavelmente, o Sistema Interligado Nacional (SIN) não teria sido capaz de
atender à essa demanda.
Na perspectiva de maior crescimento, outros fatores impõem
limitações: deficiência da malha ferroviária como alternativa de transporte,
portos ineficientes, carga tributária excessiva, mão-de-obra sem qualificação e
outros elevam os custos de produção. Mas, no que concerne à questão energética,
além da revisão tarifária, outras medidas podem ser consideradas ou mesmo,
devem ser consideradas de modo a fortalecer o setor e restaurar a confiança
necessária para gerar novos investimentos.
A complexidade cada vez maior na implantação de unidades
geradoras, seja pela necessidade de extensas linhas de transmissão ou pelas
restrições socioambientais desafia análises e métodos de projeção. Portanto,
parece essencial a otimização do uso dos recursos energéticos por meio de
medidas de conservação de energia como um caminho natural de desenvolvimento
econômico sustentável, seja pela redução dos elevados investimentos na
infraestrutura e dos impactos ambientais, seja pelo aumento da produtividade.
Priorizar sistemas mais eficientes é uma porta de
oportunidades para o aprimoramento tecnológico através de incentivos para a
indústria e o direcionamento de recursos de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) para áreas prioritárias: bioenergia, eficiência energética e energias
renováveis. Em longo prazo, pode contribuir para a tão desejada mudança na
matriz de exportação brasileira, reduzindo a participação de produtos primários
em detrimento de outros com valor tecnológico agregado. Esse processo poderá
fortalecer programas governamentais como o Procel (Programa nacional de
Conservação de Energia Elétrica) e o PBE (Programa Brasileiro de Etiquetagem),
através dos quais iniciativas sistemáticas vêm sendo empreendidas há mais de 20
anos com resultados expressivos. Com efeito, a Eletrobras avalia em 51,2 bilhões
de KWh o montante de energia elétrica conservada no período 1986-2011 com a
aplicação do programa (1). Somente em 2011 a energia economizada correspondeu a
6,696 bilhões de KWh, resultado que equivale a 1,56% do consumo total e ao
consumo anual de aproximadamente 3,6 milhões de residências, o que permitiu
postergar o investimento de R$ 756,5 milhões na expansão da geração de energia
elétrica.
Apoiado nesses dados históricos o PNE 2030, estima-se um
percentual de 5% de redução da demanda de energia elétrica, a ser atingido até
o horizonte do Plano, através de um progresso tendencial, resultado do
aprimoramento das práticas de uso e da substituição gradual dos equipamentos
por outros mais eficientes. O mesmo percentual de redução seria possível como
resultado de um progresso induzido, através de medidas de estímulo a serem
aplicadas pelo Poder Executivo. Esse total de 10% representaria a energia conservada,
ou seja, a diferença entre o consumo final, incluindo ganhos de eficiência
energética e o consumo sem qualquer atualização tecnológica, mantidos os
padrões atuais.
Caso este percentual não seja alcançado serão necessários
investimentos da ordem de R$ 10 bilhões para uma expansão
adicional da oferta de energia. Por outro lado, confirmando-se as estimativas,
é possível deduzir que, mantendo-se a produtividade com menor demanda
energética, diminuímos o impacto desse custo nas atividades humanas, assim como
do passivo ambiental do setor energético, possibilitando o redirecionamento
desses recursos para investimentos, aumento da poupança interna ou mesmo do
consumo de bens e serviços e, consequentemente, da atividade econômica como um
todo. (ambienteenergia)
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