MP 998: Fim do subsídio às
renováveis abre divergências.
Associações defendem a
remoção dos subsídios de todas as tecnologias de geração de energia elétrica.
Pela proposta, os descontos
para as renováveis terminarão em 21/09/2021. Qualquer nova solicitação de
outorga a partir dessa data não terá mais o subsídio da TUST e TUSD, que variam
entre 50% a até 100%, dependendo da tecnologia. O empreendimento que já é
beneficiado pelo subsídio terá seu direito garantido até o fim do contrato de
concessão vigente e depois não será renovado.
Em 2020, os subsídios da TUST
e TUSD custarão aos consumidores R$ 4,2 bilhões, segundo informações da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No entanto, essa conta cresce R$ 500
milhões por ano à medida que as renováveis puxam a expansão da matriz elétrica.
O objetivo do governo é estancar essa conta que hoje onera os consumidores de
energia elétrica de todo o país.
Em contrapartida, o governo
terá 12 meses para implementar um mecanismos que valore os benefícios
ambientais das tecnologias de produção de energia renovável, inclusive
considerando requisitos técnicos de segurança energética. Não foi por
acaso que o governo suprimiu o termo “valorização de atributos” na redação da
MP 998, pois, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
Thiago Barral, a terminologia gerou dúvidas no passado entre o que poderia ser
classificado como atributos de suprimento energético e externalidades.
O executivo disse que os
subsídios às renováveis não são mais adequados a realidade dos custos e a
competitividade das tecnologias de energia solar, eólica, biomassa e PCHs.
Reforçou que essa medida não é surpresa para o mercado, pois é algo que já foi
discutido em 2017 durante a Consulta Pública MME n° 33 e que depois veio a
incorporar suas contribuições a redação final do PLS n° 232/16, aprovado em
março/2020 na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal.
De acordo com Barral, a MP se
propôs a antecipar algumas mudanças regulatórias que já estavam previstas na
reforma do setor elétrico. Essa antecipação tem o objetivo de realizar ajustes
considerados “consensuais” no setor e que visam trazer algum
benefício tarifário à população.
Barral disse que a EPE vai
prestar todo o apoio ao MME, apresentando estudos técnicos e o detalhamento das
informações que contribuam para esclarecer as mudanças propostas ao
Congresso Nacional durante o processo de conversão da MP em Lei. Esse prazo é
de 180 dias contados a partir da publicação da MP.
Associações indicam resistência
O fim do desconto no fio
deverá enfrentar resistência de agentes bem articulados que discordam da
mudança. O presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais
Hidrelétricas (Abrapch), Paulo Arbex, disse que pedirá reunião com o Ministério
de Minas e Energia (MME) para discutir o assunto. O executivo pretende apresentar
argumentos técnicos e ambientais que justificariam a preservação de incentivos
econômicos às pequenas usinas hídricas. “O que nos preocupou foi o fim do
desconto no fio. Precisamos diferenciar uma fonte da outra”, disse à Agência CanalEnergia.
Para ele, antes de acabar com
o subsídio as renováveis é preciso por fim aos subsídios aos combustíveis
fósseis. “Os números mostram que 65% dos subsídios da CDE+REPETRO vão para
indústria do petróleo, mas só se fala em desconto do fio e não se faz o estudo
que verdadeiramente precisávamos, que é verificar quem está usando as redes,
quem está pagando por elas e redistribuir estes custos de acordo com o uso”,
disse Arbex.
A Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE), a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), a subvenção ao
carvão mineral e o Repetro custarão R$ 40,4 bilhões em 2020. Em 2019, o custo
foi de R$ 38,2 bilhões. Para Arbex, a MP é uma oportunidade para o governo
Bolsonaro corrigir o que ele classifica como “injustiças”. “A MP é uma
oportunidade para fazer essas correções”, afirmou.
Em áudio enviado pelo
Whatsapp à imprensa, o CEO da Associação Brasileira de Energia Solar
Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, defendeu que os subsídios sejam
removidos de maneira “isonômica” e “transversal” e que antes de serem
encerrados, que seja testado o novo modelo e que tenha um prazo de transição
maior do que proposto na MP 998/20.
“Um ponto importante a destacar é que quando se fala da retirada de incentivos existentes para fontes. Que se aplique o princípio da isonomia, de tal modo que se o governo propor uma retirada de incentivo, essa remoção precisa ser transversal e aplicada a todas as tecnologias de geração de energia elétrica que hoje possuem incentivos via CDE e não apenas fontes renováveis”, disse Sauaia.
A MP 998 dá prazo para o fim de benefícios a parques eólicos que hoje são arcados pelo consumidor.
Medida provisória altera
regras do setor elétrico para reduzir tarifas.
O representante do setor
solar destacou que, embora as avaliações ainda sejam preliminares, o governo
precisa considerar um cronograma que proporcione tempo adequado para mercado se
adaptar a mudança do modelo de subsídio para o de valorização ou valoração das
externalidades de cada fonte.
“Essa transição é fundamentalmente
relevante para as fontes renováveis e para fotovoltaica. O prazo que hoje é
colocado é demasiadamente curto”, disse Sauaia, que ainda argumentou que não se
pode retirar um incentivo sem que um novo modelo esteja implementado.
“Existem inúmeros atributos
que as fontes renováveis trazem ao setor elétrico, e eles precisam ser
valorizados nesse processo, como atributos elétricos, energéticos, sociais,
econômicos, ambientais, e também atributos estratégicos, por exemplo, de
diversificação da matriz e aproveitamento de recursos de forma geograficamente
[distribuídos]”, disse Sauaia.
Por fim, Sauaia ainda disse
que a mudança não pode trazer desequilíbrio entre as fontes utilizadas na
matriz elétrica, nem afetar a competitividade destas e pediu que Governo
Federal e o Congresso tomem suas decisões considerando a transição energética
mundial.
Assim como a Absolar, a
presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica),
Elbia Gannoum, disse que os descontos na TUSD e TUST são importantes para o
mercado de energia elétrica e que se pudesse, mantê-los-ia. Mas que, por outro
lado, o governo aponta para uma tentativa de modernização do setor elétrico e
esse ajuste é fundamental para o país.
Ela reconheceu que esse custo
é uma “bomba relógio” e que pode se transformar em uma “conta impagável” pelo
consumidor. Destacou que o prazo para pedidos de outorgas é importante para
evitar “projetos de prateleira” e o mais importante, não alterou os contratos
vigentes, garantindo segurança jurídica e regulatória.
Para Elbia, o fundamental é
que a regra seja igual para todas as fontes de geração. E avisou que se ocorrer
assimetria de tratamento entre as tecnologias, a entidade acionará suas
bancadas no Congresso para defender os seus interesses. Ela já prevê desafios
durante a tramitação do texto no Legislativo.
A executiva reconhece a dificuldade de acordo geral, pois ninguém quer perder o incentivo. “O melhor mundo é não retirar. Porém, temos maturidade e compreensão de que a sustentabilidade do setor de energia no Brasil precisa ser garantida com a eficiência econômica. Não adianta querer ficar com o ‘curralito’ porque depois teremos um setor desequilibrado”, disse Elbia.
Thiago Barral, da EPE, pediu que os agentes olhem as transformações do sistema de uma forma abrangente e não fragmentada, pois as pautas particulares prejudicam a modernização do setor elétrico brasileiro. A Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), representante do setor de biomassa, disse que ainda se reunirá com os seus associados antes de chegar posição sobre as mudanças trazidas na MP 998. (canalenergia)
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