O urânio é um elemento
considerado comum na crosta terrestre. Tão comum quanto o ouro, cobre, estanho
ou o zinco, e é um constituinte da maioria das rochas e até do mar. Já o
minério de urânio é toda concentração natural de minerais na qual o urânio
ocorre em concentrações que permitam sua exploração econômica dentro de um
contexto estratégico.
No Brasil, de acordo com a Lei
Nº 4.118, de 27/08/1962, constituem monopólio da União a prospecção, a lavra, o
comércio e a produção de materiais com características nucleares. Ainda assim,
atualmente este monopólio está sendo motivo de muitos questionamentos, onde a
ideia central é de parceria com o setor privado ligado a prospecção mineral.
Embora o conhecimento geológico do urânio no Brasil seja limitado, os dados
divulgados pela World Nuclear
Association em 2017 apontam que o Brasil é detentor da nona maior
reserva de urânio do mundo, com 276.800 mil toneladas de U3O8, em sua maior
parte localizada nos Estados da Bahia e Ceará.
Na África do Sul, os corpos
auríferos de Witwatersrand, correlatos com as rochas da Serra de Jacobina, são
minerados desde 1886 e contêm níveis de urânio na ordem de 100 a 300 ppm.
Inicialmente, o urânio associado com ouro nessas rochas não foi aproveitado, e
todo o resíduo foi despejado nas barragens de rejeito. Esta realidade só mudou
na década de 1950, durante a guerra fria, quando o urânio se tornou um recurso
estratégico e a primeira planta de recuperação entrou em produção. Ainda assim,
estima-se que as barragens de rejeito da mina de ouro de Witwatersrand possam
conter pelo menos 100.000 toneladas de urânio.
Nesse contexto, vários estudos
têm demonstrado a existência de uma liberação descontrolada de urânio nas minas
sul-africanas, principalmente das bacias de rejeito, o que tem causado uma
série de doenças nas populações do entorno. O fato é que o urânio na Serra de
Jacobina ocorre naturalmente no ambiente geológico, conforme já demonstrado por
diversos autores. Nesse cenário, é provável que em baixos níveis de exposição,
os efeitos radioativos possam ser tolerados pelos seres humanos, pois
encontra-se seguro no subterrâneo geológico, entretanto esta é apenas uma
hipótese, pois não existem estudos de Geologia Médica sobre os efeitos da
radiação na população local. Em outros locais do mundo, estudos demonstram que
quando minerais de urânio são trazidos a superfície e ficam acumulados nas
áreas mineiras, pode existir riscos à saúde, principalmente devido as
concentrações no ar, na forma de poeira, e devido a solubilidade do urânio nas
águas subterrâneas.
Portanto, considerando que o
urânio fornece energia “limpa”, e que hoje no mundo existem mais reatores
nucleares em operação e em construção (566) do que em março/2011, ou seja,
antes do acidente de Fukushima, qualquer país que afirme ter uma política de
energia limpa, necessariamente terá energia nuclear em seu portfólio.
Sendo assim, no futuro, com a crescente demanda mundial por energias renováveis e limpas, somado ao fato de o Brasil ser um dos poucos países que possuem domínio da tecnologia e do ciclo do combustível nuclear, poderá o urânio da Serra de Jacobina torna-se um recurso geológico estratégico e economicamente viável? (ecodebate)
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