O mundo caminha para um
crescimento sem precedentes no uso de fontes renováveis. Foi assim que o
economista-chefe da BP, Spencer Dale, definiu a tendência global para o período
dos próximos 30 anos em termos de expansão energética. Em todos os três
cenários que compõem a versão 2020 do BP Energy Outlook, a curva é de crescimento
no uso das novas fontes e de queda em combustíveis fósseis.
A velocidade dessas mudanças
será determinada pela adoção – ou não – de políticas de incentivo às
renováveis. Dale citou fontes como a eólica, solar, biomassa e a geotermal como
as protagonistas para essa expansão, sendo que as duas primeiras estão na
liderança desse processo. Esse panorama apresentado pela BP via internet tem
como premissa a perspectiva de que a demanda global de energia cresce,
impulsionada pelo aumento da prosperidade e dos padrões de vida no mundo
emergente. Ele citou a eletrificação dos sistemas e mobilidade com destaque na
impulsão desse consumo.
O crescimento das renováveis está claro na curva dos gráficos apresentados ao ponto de ser a maior fonte primária de energia, já excluindo as hidrelétricas. Contudo, antes de chegar ao final do horizonte, destacou o executivo, há uma época de transição com a matriz energética bem diversificada que será vista com mais propriedade em meados desta década até 2040, aproximadamente. A escala da mudança varia significativamente entre os cenários, com a participação dos hidrocarbonetos na energia primária diminuindo cerca de 85% em 2018 para entre 65-20% em 2050 e as energias renováveis aumentando para 20-60%.
Energia renovável e o futuro da matriz energética do Brasil.
Quanto ao petróleo e os
combustíveis fósseis, todos os cenários mostram uma queda na demanda nos
próximos 30 anos: 10% menor até 2050 no que é chamado de business-as-usual
(BAU), cerca de 55% menor no rapid e 80% menor no net zero. No BAU há uma
estabilização da demanda no início dos anos 2020 e nos demais nunca se recupera
totalmente da queda causada pela covid-19. Apenas no transporte atinge seu pico
em meados da década de 2020.
Por sua vez, o gás natural
pode, potencialmente, desempenhar dois papéis importantes em uma transição
acelerada para um sistema de energia de baixo carbono. O primeiro é suportar
uma mudança afastada do carvão em economias em desenvolvimento de rápido
crescimento, onde as energias renováveis e outros combustíveis não fósseis
podem não ser capazes de crescer suficientemente rápido para substituir o
carvão. E ainda, combinado com CCUS (carbon capture use and storage) como uma
fonte de energia de (quase) zero carbono. O gás combinado com CCUS é
responsável por 8 a 10% da energia primária em 2050 no rapid e net zero.
Na publicação anual a BP
apontou as principais características de cada cenário. O rapid assume a
introdução de medidas políticas, lideradas por um aumento significativo nos
preços do carbono, que resultam em emissões provenientes do uso de energia
caindo cerca de 70% até 2050 em relação aos níveis de 2018. Está em linha com
os cenários consistentes em limitar o aumento das temperaturas globais até 2100
para bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais.
Em geral, o net zero assume
que as medidas políticas do rapid são reforçadas por mudanças significativas no
comportamento e nas preferências da sociedade e do consumidor – como maior
adoção de economias circulares e compartilhadas e a mudança para fontes de
energia de baixo carbono. Isso aumenta a redução nas emissões de carbono até
2050 para mais de 95%. O cenário está alinhado com uma variedade de cenários
consistentes com aumentos de temperatura limitados a 1,5°C.
Já o BAU é o mais lento dos
três e pressupõe que as políticas governamentais, tecnologias e preferências
sociais continuam a evoluir de maneira e velocidade vistas no passado recente.
As emissões de carbono a partir do uso de energia atingem o pico em meados da
década de 2020, mas não diminuem significativamente, com emissões em 2050 menos
de 10% abaixo dos níveis de 2018.
Nos dois primeiros cenários
há a perspectiva de um aumento significativo nos preços do carbono, atingindo
US$ 250/tonelada de CO2 no mundo desenvolvido em 2050, e US$
175/tonelada nas economias emergentes. Esse valor é significativamente menor no
cenário BAU, com os valores em US$ 65 e US$ 35/tonelada de CO2 em
média em 2050 nas economias desenvolvidas e emergentes, respectivamente.
Brasil
“É um país abençoado e com um
grande potencial”, foi assim que Dale definiu o Brasil durante o evento,
citando, especificamente a biomassa para biocombustíveis. Além disso, o
crescimento das energias renováveis por aqui aliado à base hidrelétrica tornam
o país uma das regiões com o mix de energia mais baixo em carbono.
Dentre os pontos que estão em
destaque na publicação estão: crescimento da demanda por energia em cerca de
dois terços nos três cenários; no cenário rapid, o consumo de energia a partir
de fontes renováveis quase quadruplica até 2050 para chegar a 46% da matriz
energética; e a produção de petróleo no cenário rapid atinge seu pico no final
da década de 20. No cenário BAU, o crescimento continua na década de 2030,
atingindo o pico apenas no final dos anos 30.
Outras tendência apontadas
pela BP indicam que o consumo de energia primária no Brasil expande entre 60% a
66% até 2050, com o consumo de energia per capita aumentando em cerca de 50%. A
maior parte do crescimento vem da indústria, que expande 83% no BAU, 101% no
rapid e 111% no net zero. O setor de transporte é a segunda fonte de
crescimento da demanda por energia.
E ainda, a demanda por energia elétrica mais do que dobra em todos os cenários até 2050. A participação das energias renováveis aumenta de 17% em 2018 para 45% no BAU, 47% no net zero e 51% no rapid.
Como sempre, Dale lembrou que esses números não indicam o que será o futuro, mas que apenas apontam tendências para servir de um orientador. (canalenergia)
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