quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Estudo mostra uma “matriz provável” diferente da atual

Crescimento das renováveis deve alterar paradigmas de operação, diz diretor do ONS.
A matriz elétrica provável em um horizonte de longo prazo, considerando um consumo de energia equivalente ao dobro do registrado em 2017 no Brasil, terá aproximadamente 69 GW em usinas eólicas instaladas e 59 GW em geração solar, conclui estudo patrocinado pela organização alemã GIZ, em parceria com o Ministério de Minas e Energia e com participação da Empresa de Pesquisa Energética e do Operador Nacional do Sistema. O documento finalizado este mês e que deve ser divulgado em setembro mostra que a hidrelétrica praticamente não cresce, mas deve haver expansão térmica.

“O fato é que essa matriz tão diferente da que a gente tem hoje, consistente com a transição energética, aponta para paradigmas de operação completamente diferentes”, concluiu Marcelo Prais, Diretor de TI, Relacionamento com os Agentes e Assuntos Regulatórios do ONS, ao comentar o estudo em evento virtual do Energyear.

Ele destacou que os reservatórios das hidrelétricas, que naturalmente fazem a transferência de energia armazenada no período úmido para o período seco, vão ficar muito próximos de uma operação flat ao longo do ano. Essas usinas começam a aportar outros tipos de serviços, em complementariedade às fontes não controláveis, como são chamadas as usinas eólicas e solares.

Outro exemplo da mudança de paradigma são os custos marginais de operação da região Nordeste, que ficarão mais baratos no período seco do que no período úmido e devem descolar o CMO médio não apenas localmente, mas nas demais regiões do país. “Todos esses números são reflexões para a gente fazer com relação a mudança que está por vir, o grande desafio da transição energética.”

Diante da evolução da matriz é importante observar os atributos de cada fonte, o que pode ser feito por meio da contratação de lastro ou mesmo no mercado competitivo de serviços ancilares. É possível, por exemplo, contabilizar a emissão de CO2, o custo da infraestrutura, os serviços de geração em termos de modulação, sazonalização, confiabilidade, robustez. Por isso, destacou o executivo, a importância da modernização do setor elétrico, que tem entre as principais medidas a separação lastro e energia, a abertura de mercado e a redução de encargos e subsídios.

O principal desafio para o operador do sistema, em um cenário de prevalência das novas renováveis na matriz elétrica, é a flexibilidade operativa. Segundo Prais, ela pode ser traduzida como “equipamentos e soluções para fazer o balanço carga/geração em todos os patamares, em todos os horários, em todas as contingências e nas situações de perturbação.” Esses recursos de flexibilidade podem ser de geração (hidrelétricas e térmicas, principalmente de partida rápida), de transmissão, ou mesmo soluções como resposta da demanda.

O fundador da consultoria Carpe Vie, Alécio Barreto, definiu flexibilidade como a capacidade de dispor de diferentes alternativas. Para o especialista, um dos avanços que deve ser feito é no próprio conceito de serviços ancilares, que é definido como um serviço auxiliar, de suporte. Ele vê potencial de exploração desse mercado inclusive por usinas eólicas e solares.

Para Gabriel Cavados, gerente sênior de Desenvolvimento de Projetos da Wärtsilä, é preciso dar um sinal para o futuro ao escolher a tecnologia que vai atender o sistema elétrico brasileiro, porque ela vai ficar por 40, 50 anos, e pode afetar o custo da flexibilidade. “Usinas a carvão, gás em ciclo combinado e nuclear eu acredito que estão com os dias contados”, previu o executivo.

Ele citou levantamento feito pela empresa mostrando que o mercado de usinas a gás em ciclo combinado caiu pela metade desde 2012. “Isso é um rápido reflexo dessa revolução que a gente está experimentando. É provável que a gente veja cada vez menos energia inflexível e as térmicas sendo deslocadas para a ponta. Não só as térmicas, mas toda aquela fonte que pode ser controlável”, corrigiu, acrescentando as hidrelétricas.

O debate sobre a importância da flexibilidade na incorporação continua de fontes renováveis foi conduzido pelo gerente sênior regional da First Solar, Guilherme de Souza, e teve também com convidada a gerente de Assuntos Regulatórios da Powertis, Mayra Noronha. (canalenergia)

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