“O fato é que essa matriz tão
diferente da que a gente tem hoje, consistente com a transição energética,
aponta para paradigmas de operação completamente diferentes”, concluiu Marcelo
Prais, Diretor de TI, Relacionamento com os Agentes e Assuntos Regulatórios do
ONS, ao comentar o estudo em evento virtual do Energyear.
Ele destacou que os reservatórios das hidrelétricas, que naturalmente fazem a transferência de energia armazenada no período úmido para o período seco, vão ficar muito próximos de uma operação flat ao longo do ano. Essas usinas começam a aportar outros tipos de serviços, em complementariedade às fontes não controláveis, como são chamadas as usinas eólicas e solares.
Outro exemplo da mudança de paradigma são os custos marginais de operação da região Nordeste, que ficarão mais baratos no período seco do que no período úmido e devem descolar o CMO médio não apenas localmente, mas nas demais regiões do país. “Todos esses números são reflexões para a gente fazer com relação a mudança que está por vir, o grande desafio da transição energética.”
Diante da evolução da matriz é importante observar os atributos de cada fonte, o que pode ser feito por meio da contratação de lastro ou mesmo no mercado competitivo de serviços ancilares. É possível, por exemplo, contabilizar a emissão de CO2, o custo da infraestrutura, os serviços de geração em termos de modulação, sazonalização, confiabilidade, robustez. Por isso, destacou o executivo, a importância da modernização do setor elétrico, que tem entre as principais medidas a separação lastro e energia, a abertura de mercado e a redução de encargos e subsídios.
O principal desafio para o operador do sistema, em um cenário de prevalência das novas renováveis na matriz elétrica, é a flexibilidade operativa. Segundo Prais, ela pode ser traduzida como “equipamentos e soluções para fazer o balanço carga/geração em todos os patamares, em todos os horários, em todas as contingências e nas situações de perturbação.” Esses recursos de flexibilidade podem ser de geração (hidrelétricas e térmicas, principalmente de partida rápida), de transmissão, ou mesmo soluções como resposta da demanda.
O fundador da consultoria Carpe Vie, Alécio Barreto, definiu flexibilidade como a capacidade de dispor de diferentes alternativas. Para o especialista, um dos avanços que deve ser feito é no próprio conceito de serviços ancilares, que é definido como um serviço auxiliar, de suporte. Ele vê potencial de exploração desse mercado inclusive por usinas eólicas e solares.
Para Gabriel Cavados, gerente sênior de Desenvolvimento de Projetos da Wärtsilä, é preciso dar um sinal para o futuro ao escolher a tecnologia que vai atender o sistema elétrico brasileiro, porque ela vai ficar por 40, 50 anos, e pode afetar o custo da flexibilidade. “Usinas a carvão, gás em ciclo combinado e nuclear eu acredito que estão com os dias contados”, previu o executivo.
Ele citou levantamento feito pela empresa mostrando que o mercado de usinas a gás em ciclo combinado caiu pela metade desde 2012. “Isso é um rápido reflexo dessa revolução que a gente está experimentando. É provável que a gente veja cada vez menos energia inflexível e as térmicas sendo deslocadas para a ponta. Não só as térmicas, mas toda aquela fonte que pode ser controlável”, corrigiu, acrescentando as hidrelétricas.
O debate sobre a importância da flexibilidade na incorporação continua de fontes renováveis foi conduzido pelo gerente sênior regional da First Solar, Guilherme de Souza, e teve também com convidada a gerente de Assuntos Regulatórios da Powertis, Mayra Noronha. (canalenergia)
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