Depois de um ano desafiador para o setor em 2023, o mercado fotovoltaico
se adapta e deve pelo menos repetir o ritmo de instalações apresentado em 2022
e 2023, acima dos 8 GW. A geração distribuída soma 30,7 GW de potência
instalada da fonte solar, com mais de 3,8 milhões de unidades consumidoras
atendidas no país.
A redução no preço dos módulos fotovoltaicos no último ano, de mais de
50% no período, tem sido um grande impulsionador dos novos projetos de GD solar
no Brasil, avalia o presidente do Conselho de Administração da Associação
Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Ronaldo Koloszuk. “De
acordo com o ritmo observado de expansão da GD solar nos primeiros meses de
2024, que totaliza 4 GW adicionados entre janeiro e junho deste ano, é possível
constatar um crescimento robusto este ano. No momento, a previsão da Absolar é
de um crescimento da GD solar superior a 7 GW ao longo de todo 2024”.
Já o CEO da Greener, Marcio Takata, faz uma projeção mais otimista. “Levando em consideração a potência já instalada em 2024, a recuperação da microgeração [usinas com até 75 kW] e principalmente dos projetos de GD remota, além da expectativa para os próximos meses com base no acompanhamento da importação de módulos fotovoltaicos, esperamos a inclusão de algo em torno de 8,5 GW neste ano. O valor seria levemente maior do que o adicionado em 2023, que foi equivalente a 8 GW”, avalia.
Geração na própria unidade consumidora segue na liderança
Segundo dados da Absolar a partir da base na Aneel, nos seis primeiros
meses do ano, a geração na própria unidade consumidora representou 74,4 % da
nova potência instalada em GD solar, seguido pelo autoconsumo remoto com 22,1%.
“Historicamente, estas são as modalidades que mais impulsionam a modalidade.
Neste contexto, é fácil notar que a geração junto à carga continua sendo o
grande impulsionador deste mercado”, afirma Koloszuk.
A modalidade, que demanda menos o uso da rede de distribuição, é mais vantajosa para o consumidor, destaca a CEO da Clean Energy Latin America (Cela), Camila Ramos. “A maior modalidade da GD é o autoconsumo local, uma vez que é a que mais oferece desconto para o consumidor de energia, especialmente devido à simultaneidade da geração e do consumo”, explica a executiva. “A GD remota tem crescido de forma muito expressiva, especialmente nesses dois últimos anos, para enquadramento no direito adquirido [nas regras anteriores à Lei 14.300 que dá um tratamento igual ao autoconsumo local para esses projetos]. No futuro, vemos a GD local como o modelo de negócio mais competitivo, especialmente com a mudança regulatória”, adiciona.
Geração compartilhada começa a deslanchar, mas enfrenta desafios
Apesar da dominância da geração local, a GD compartilhada está em franca
expansão no país. Os consumidores que não têm condições de investir em um
sistema fotovoltaico – por falta de espaço ou de capital – contam com a geração
compartilhada como uma alternativa para economizar na conta de energia. A
modalidade consiste na distribuição dos créditos de energia solar para um grupo
de consumidores que se associam em consórcios, cooperativas e outros modelos
jurídicos.
De acordo com a Aneel, o número de usinas de geração compartilhada
quintuplicou nos últimos dois anos e meio no Brasil, dando um salto de 2 mil
(445 MW) até o final de 2021 para mais de 10,5 mil até o final de junho (1,1
GW), atendendo 360 mil unidades consumidoras. Grandes empresas do varejo vêm
lançando a oferta de energia solar por assinatura para seus clientes,
oferecendo desconto de até 15% na conta de energia, frequentemente em parceria
com empresas do setor, como Órigo Energia, Lemon, SunMobi, Matrix Energia,
GreenYellow e Raízen Power, entre outras.
O sucesso da modalidade, entretanto, enfrenta desafios. O Tribunal de
Contas da União (TCU) vem investigando o desvio de finalidade na oferta de
energia solar por assinatura, que poderia ser caracterizado como venda para
consumidores cativos, aqueles compulsoriamente atendidos pelas distribuidoras.
Em março, a Aneel reconheceu que algumas peças publicitárias não refletem a
real natureza da estrutura jurídica utilizada na geração compartilhada, dando a
entender que de fato ocorre uma venda da energia.
Em julho, o TCU determinar que a Aneel fiscalize a geração compartilhada
em GD, exigindo a fiscalização das denúncias de que a agência estaria
permitindo que empresas ligadas às distribuidoras de energia elétrica
utilizassem a GD para comercializar energia elétrica.
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Locação solar com geração local
Além da geração compartilhada, o modelo de Energy-as-a-Service, que
funciona como uma assinatura de um serviço, também chegou para as instalações
locais. Ele garante a instalação de kit de energia solar sem custo para os
consumidores, com economia imediata. Um
dos principais players desse segmento é a Revo Energia, que anunciou parcerias
com a fabricante chinesa Huawei Digital Power, e com as distribuidoras de equipamentos
Sou Energy e ConnectWay Solar.
Neste modelo, a Revo fica responsável pela instalação do sistema de
forma gratuita no imóvel do cliente por meio dos integradores/instaladores do
mercado. O consumidor paga pela conta de energia com o desconto dos créditos e
pelo serviço, o que ainda gera economia.
“Essa pode ser uma solução para as pequenas e médias empresas que querem
economia de energia sem se preocupar com a geração de energia do equipamento. A
REVO utiliza os mais tecnológicos e eficientes inversores do mercado com
tecnologia Huawei. Buscamos parceiros que tenham esse objetivo de acelerar a
transição energética para oferecer um serviço inovador e de qualidade para seus
clientes. Essa também é uma forma de aumentar o nível de utilização de energia
solar no Brasil e contribuir com o meio ambiente”, afirma o diretor de Canais
da Huawei Digital Power, Rômulo Horta.
Durante toda a vigência do contrato, o cliente também não precisará
arcar com o custo de manutenção dos equipamentos. A propriedade do kit solar é
transferida ao cliente após um período que varia entre seis e 10 anos, quando
ele passa a ser dono do equipamento e usufruir da economia de pelo menos 80% na
conta de luz, sem qualquer pagamento adicional.
Cooperativas catarinenses contam com a força da energia solar
Cooperativa solar em Santa Catarina mobiliza investimento próprio dos consumidores em geração compartilhada. Imagem: Solarcred Energia
Em contraponto à controvérsia envolvendo a energia solar por assinatura,
uma empresa integradora de Santa Catarina demonstrou outra forma de explorar a
modalidade de geração compartilhada. No interior do estado, um dos principais
desafios dos pequenos produtores de frango e suínos era aumentar a geração de
energia em uma rede monofásica que, muitas vezes, entregava apenas 3.000
kWh/mês para uma necessidade de consumo entre 6.000 e 10.000 kWh/mês.
Para solucionar o problema, a Solarcred Energia criou cooperativas de
geração compartilhada com aproximadamente 50 a 80 sócios, que fizeram o próprio
investimento. As cotas de 1% de participação custam em média R$ 30 mil, gerando
aproximadamente 500 kWh por mês. “Até o momento, das 48 usinas projetadas, 18
já estão prontas em municípios catarinenses de três a 10 mil habitantes.
Algumas cooperativas fizeram dois ou três projetos e todas contam com sistemas
de monitoramento em tempo real pela pv operation”, explica o CEO da Solarcred
Energia, Odair José Demarco.
Demarco também conta que ajudou alguns produtores a conseguir
empréstimos para investir na usina junto ao Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) com linhas de crédito mais atrativas. A
Solarcred ainda conta com outras 20 usinas em construção ou em fase de
construção para investidores interessados. (pv-magazine-brasil)
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