quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fontes renováveis poderão gerar 80% da energia

Fontes renováveis poderão gerar 80% da energia a custos acessíveis, dizem especialistas
As energias renováveis poderão cobrir quase 80% do consumo mundial de energia a partir de 2050, o que reduziria em um terço as emissões de gases de efeito estufa, estima o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), em um relatório muito esperado que foi apresentado em 09/05/11 em Abu Dhabi.
E ainda melhor: embora muitos questionem a capacidade das fontes renováveis de satisfazerem as necessidades do planeta, uma vez que a energia solar e a eólica produzem eletricidade somente de maneira intermitente, os 120 cientistas reunidos pela ONU afirmam que “o potencial técnico das energias renováveis ultrapassa a demanda atual”.
As energias renováveis representam hoje, contando os fogões a lenha, 13% da produção mundial. Mas menos de 2,5% de seu potencial é utilizado, segundo os pesquisadores. “São mais as políticas públicas do que a disponibilidade de recursos que permitirão ou não o desenvolvimento das energias renováveis”, resume o economista cubano Ramon Pichs, um dos três copresidentes desse grupo de trabalho.
Assim como os relatórios sobre a mudança climática, apresentados pelo IPCC a cada cinco ou seis anos, esse trabalho reúne os dados científicos disponíveis em uma síntese de mil páginas, ela mesma condensada de maneira consensual sob a forma de um “Resumo à atenção dos dirigentes políticos” de 25 páginas, discutido e aprovado linha por linha por todos os representantes dos 194 países-membros do IPCC.
Altamente delicado, esse resumo só emergiu após uma difícil negociação – uma vez que alguns países petroleiros como a Arábia Saudita, Omã e Qatar “se empenharam muito para atrasar os trabalhos”, segundo um negociador. Além disso, durante a apresentação do relatório, na segunda-feira, a principal intervenção do representante dos Emirados Árabes Unidos, Sultan Ahmed Al-Jaber, consistiu em lembrar que “a energia nuclear e as técnicas de captura e de armazenamento do CO2 têm seu lugar” nas estratégias de redução das emissões de gases de efeito estufa.
É porque o documento do IPCC toca na questão da guerra do clima: qual política energética subsidiar? Em que ritmo livrar-se dos recursos fósseis? Os cientistas evitam preconizar escolhas. Mas “o relatório mostra claramente que as energias renováveis têm um forte potencial de redução das emissões de gases de efeito estufa, que um uso amplo dessas energias é possível, e que a ausência de energias renováveis elevaria o custo da redução das emissões de CO2”, avalia um de seus copresidentes, o economista alemão Ottmar Edenhofer.
Ao avaliarem o potencial, o custo, as tendências do mercado e as inovações de seis fontes de energia renovável (bioenergias, solar, hídrica, eólica, energia marinha e geotérmica), bem como seus impactos sociais e ambientais, saldos energéticos, ciclo de vida dos materiais utilizados, os cientistas projetaram seu crescimento em função de 164 possíveis situações.
Se a hipótese mais pessimista prevê somente uma participação de 15% em 2050, a maioria das projeções concordam com “um aumento significativo” das energias renováveis: mais da metade das situações previstas mostram uma participação de pelo menos 17% em 2030, e 27% em 2050.
Esses números não se realizarão sozinhos. Um crescimento notável das energias renováveis constitui “um verdadeiro desafio, tanto técnico quanto político”, acredita o IPCC. Segundo as previsões, os investimentos necessários oscilam entre 951 bilhões e 3, 56 trilhões de euros até 2020, e entre 1,04 trilhão e 5,02 trilhões para a década seguinte. “De qualquer forma, esse custo continua sendo inferior a 1% do PIB mundial, e isso mostra que as energias renováveis são acessíveis”, ressalta o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri.
Em alguns casos, as tecnologias das energias renováveis já são competitivas, mas os custos de produção muitas vezes ainda são superiores aos das energias fósseis, reconhece o IPCC. O progresso técnico, associado a políticas públicas direcionadas, deverá fazer com que esses custos diminuam. “Cotar o carbono permitiria também que mais energias renováveis se tornassem competitivas”, acrescenta Edenhofer.
A principal dificuldade notada pelo IPCC foi a adaptação das redes elétricas. “A participação das energias renováveis deverá aumentar mesmo na falta de novas medidas propícias”, acreditam os pesquisadores. Mas isso “levará a novas dificuldades de integração nos sistemas energéticos existentes e nos setores de utilização final”, correndo o risco de limitar a eficácia das políticas de combate ao aquecimento global.
Esse documento será integrado ao quinto grande relatório do IPCC sobre a mudança climática, previsto para 2014. Nesse meio tempo, ele poderá se tornar a bíblia das energias renováveis: mais do que em qualquer outro domínio, no da energia circulam números muitas vezes contraditórios, sendo difícil distinguir informações validadas pela ciência de mentiras espalhadas por certos lobbies.
“Havia uma grande necessidade de síntese: muitas experiências foram conduzidas em torno das energias renováveis, como a implantação de tarifas de compra de eletricidade produzida pelo sistema eólico, e toda uma literatura científica brotou para avaliar essas experiências”, explica Alain Nadai, pesquisador no Centro Internacional de Pesquisa sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, um dos principais autores do relatório.
Os membros do IPCC agora têm feito um apelo para que os políticos se apropriem o mais rápido possível de suas conclusões. (EcoDebate)

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