sábado, 14 de maio de 2011

Testes de resistência das usinas nucleares

Metodologia dos testes de resistência das usinas nucleares divide a Europa
Os testes de segurança nuclear dividem a Europa – A França, o Reino Unido e a Alemanha não querem ampliar os testes das usinas para as ações terroristas.
A decisão sobre a metodologia dos testes de resistência das usinas nucleares europeias deve ser tomada em pouco tempo.  Ela abre espaço para uma intensa queda de braço entre Günter Öttinger, o comissário europeu para a Energia, e os Estados dotados de reatores. O dirigente conservador alemão pede para que sejam instaurados testes “confiáveis”, quase dois meses depois do desastre de Fukushima. Para ele, é necessário examinar a resistência de cerca de 145 reatores europeus aos ataques terroristas e outros desastres aéreos.
Já os Estados dotados de reatores pretendem limitar o alcance da ação somente aos riscos naturais, para melhor proteger um setor abalado pelos acontecimentos japoneses. Essa frente é liderada pela França e pelo Reino Unido, mas ela reuniria quatorze países, entre eles a Alemanha, a Espanha e a Itália. Ou seja, a maior parte do parque nuclear civil europeu.
Em princípio, a decisão final deve ser tomada após conversas entre os 27 países da União Europeia dentro do Grupo dos Reguladores Europeus (ENSRG). Essa instância reúne as autoridades de vigilância de todos os países da UE. Mas o tom subiu, pois os trabalhos foram amplamente destrinchados por uma outra entidade: a Associação dos Reguladores Nucleares da Europa Ocidental (Wenra), que reúne as principais autoridades dos países dotados de reatores.
Dentro desse conjunto, a Autoridade de Segurança Nuclear Francesa, a ASN, e seu diretor André-Claude Lacoste – que foi o primeiro presidente da Wenra – exercem um papel essencial, pois a França possui mais de um terço dos reatores europeus. Ora, a Wenra vem sugerindo há algumas semanas excluir dos critérios de testes a queda de um avião ou erros humanos de manipulação. Somente as consequências de terremotos, inundações ou variações violentas de temperatura seriam examinadas. Mas em um documento datado de 21 de abril, a Wenra avalia que os resultados desses testes seriam pertinentes mesmo em caso de acidente provocado por “atos de sabotagem”.
Outro assunto conflituoso: para a Wenra, as operadoras dos reatores poderiam se contentar com um relatório escrito à Comissão Europeia, sem que especialistas independentes fossem enviados até as instalações. No entanto, Günter Öttinger pede por inspeções multinacionais. “Mas não se deve minar a reputação das autoridades nacionais, que são responsáveis pela confiança em cada país”, adverte um diplomata.
“Lobby intenso”
Nessa queda de braço, Öttinger pode contar com o apoio dos Estados que não dispõem de reatores nucleares, ou que abandonaram essa tecnologia. Como a Áustria, que foi uma das primeiras a exigirem, com pleno apoio do comissário para a Energia, testes de resistência após o acidente de Fukushima. Os austríacos se mostram ainda mais vigilantes pelo fato de que há muito tempo temem incidentes nas usinas instaladas na época da guerra fria nos seus vizinhos da Europa Central.
“Não faria sentido nenhum se as usinas nucleares se testassem a si mesmas”, insistiu, nesta semana, o ministro austríaco do Meio Ambiente, Nikolaus Berlakovich, pedindo pela inclusão de ataques terroristas e informáticos no programa. No Parlamento europeu, os ambientalistas também se manifestam: as autoridades britânicas e francesas “conseguiram, através de um lobby intenso, tirar das especificações básicas os critérios de riscos mais perigosos”, acusa Yannick Jadot, do partido Verde.
Em Paris, estima-se que essas críticas sejam acima de tudo motivadas por considerações políticas. Segundo um especialista na questão, que prefere não ser identificado, o programa dos testes de resistência foi claro desde o início, tanto do lado francês quanto do lado do Conselho Europeu. Ele trata dos riscos expostos pelos acidentes de Fukushima, e deve reavaliar prioritariamente os dispositivos de segurança diante de um terremoto ou uma inundação, mas também dos efeitos acumulados da interrupção de alimentação elétrica e da fonte de resfriamento de um reator. Examinar outros riscos potenciais, como o terrorismo, “não seria compatível nem com os prazos impostos, nem com a transparência exigida para esses testes”, diz essa autoridade.
O risco de um atentado poderia ser alvo de uma avaliação por outras instâncias, com um cronograma diferente e mais confidencialidade. Além disso, a ASN tem lutado pela maior coerência possível entre os testes europeus, cujas primeiras conclusões são esperadas para o fim do ano, e a auditoria das usinas francesas, já solicitada pelo primeiro-ministro François Fillon. (EcoDebate)

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