Depois de Fukushima, a retomada do programa nuclear americano é comprometida
O aumento previsível dos custos de segurança compromete a rentabilidade dos projetos.
A empresa NRG, maior fornecedora independente de eletricidade nos Estados Unidos, anunciou, em 19/04, estar desistindo da construção de uma usina nuclear no sul do Texas. Esse projeto era um dos quatro mais avançados, nos Estados Unidos, de retomada do programa nuclear civil – uma opção que havia sido abandonada no país após o acidente ocorrido na usina de Three Miles Island, em 1979. A NRG e sua parceira Toshiba (fabricante dos dois reatores previstos) haviam obtido as autorizações preliminares. Elas estavam na fase de negociação das garantias públicas de empréstimos e 120 pessoas já participavam dos trabalhos de limpeza no local.
A empresa japonesa Tepco, proprietária da usina de Fukushima, onde o tsunami do dia 11 de março provocou o maior risco nuclear desde o acidente de Chernobyl, em 1986, deveria entrar na operação com 10%, uma vez adquirido o financiamento, antes de aumentar sua participação.
O diretor-geral da companhia elétrica americana, David Crane, justificou essa desistência pelas incógnitas que pairam sobre sua viabilidade, especialmente sobre seu custo real, uma vez que a Comissão Reguladora Nuclear americana (NRC) teria adiado as conclusões da auditoria que está conduzindo sobre a melhoria da segurança nas usinas americanas. Essa decisão foi adotada diante do que se aprendeu com o desastre de Fukushima. Mas mesmo antes deste, a NRG já havia emitido suas primeiras dúvidas sobre a viabilidade financeira de seu projeto.
Em um Estado onde a distribuição de energia não tem nenhuma regulamentação, o setor nuclear corre o risco de sofrer a concorrência de uma outra fonte de energia da qual foram descobertas grandes quantidades no Texas, e cujo preço caiu 53% no mercado americano em três anos: o gás natural.
“Os extraordinários desafios enfrentados pelo desenvolvimento do setor nuclear nas atuais circunstâncias e as já consideráveis somas gastas pela NRG em cinco anos nesse projeto tornaram impossível, para nós, justificar novos compromissos financeiros para nossos acionistas”, concluiu Crane.
“Rei da década”
Sua referência aos “extraordinários desafios” é clara: sem esperar pelo veredito da auditoria nacional da NRC (que deve durar três meses), a NRG convenceu-se de que os reforços da segurança que lhe serão impostos após a catástrofe japonesa gerarão custos proibitivos para a rentabilidade de seu projeto.
A agência Bloomberg calculou que a melhoria da segurança do parque existente de usinas nucleares deverá passar de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 15,7 bilhões). E isso agora que o gás natural é cada vez mais visto nos Estados Unidos como o “rei da próxima década”, reconheceu John Rowe, diretor-geral da Exelon, primeira operadora nuclear civil americana.
Em 2007, Spencer Abraham, ministro da Energia (2001-2005) de George W. Bush, garantia que “a retomada do programa nuclear havia se tornado inevitável” para os Estados Unidos. Mas, dez dias após o início da tragédia de Fukushima, Thomas O’Malley, presidente da PBF Energy Company, um grande fornecedor do setor, afirmava o contrário: “O programa nuclear está queimado. Quem assinaria hoje uma autorização de construção? Ninguém, depois dessa catástrofe”.
Claramente é a conclusão à qual também chegaram os diretores da NRG, os primeiros entre os iniciadores dos cerca de trinta projetos de novas usinas apresentados até hoje às autoridades americanas. (EcoDebate)
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