quinta-feira, 12 de maio de 2011

Riscos e benefícios de usinas nucleares

Riscos e benefícios de usinas nucleares dividem moradores de Angra dos Reis
A presença em Angra dos Reis, no Estado do Rio, das duas centrais nucleares em operação no Brasil divide a opinião dos moradores, que encaram as usinas como parte da rotina local, mas alternam sentimentos de aprovação, indiferença ou resistência.
A cada dia 10 do mês, uma sirene toca na comunidade do Frade. Os moradores todos já sabem: é o teste de rotina do sistema de alerta instalado pela Eletronuclear nos bairros que ficam no perímetro de cinco quilômetros da usina.
Mesmo sabendo ser apenas uma medida de segurança, a dona de casa Elisabete Moreira Rodrigues, de 41 anos, diz que fica “alarmada” toda vez que a sirene toca.
“Eu fico com medo mesmo, e penso: ‘será que está acontecendo alguma coisa? Será que vai ser preciso a gente abandonar os nossos lares?’ Aí penso que não, que não vai acontecer nada, não, que é só lá longe que acontece. Mas no fundo não é, né? Para a nossa redondeza todinha, é perigoso.”
A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é composta pelas usinas de Angra 1, 2 e 3 – a terceira ainda em construção. O complexo é instalado à beira do mar no Estado do Rio, a cerca de 200 km da capital, entre os destinos turísticos de Angra dos Reis e Paraty.
Saindo da usina, a sinuosa Rodovia Rio-Santos (BR-101) leva aos bairros mais próximos, como Parque Mambucaba e Frade, que pertencem ao município de Angra e têm cerca de 50 mil moradores. São bairros humildes, com comércio simples, prédios baixos, muitas bicicletas e moradores sentados na calçada em frente às suas casas.
Elisabete tem medo da sirene porque se lembra de quando, em 1989, o alarme disparou no meio de uma chuva e os moradores acharam que era para valer. “Todo mundo abandonou tudo, correu para a pista, veio até gente embrulhada na toalha. Não tinha socorro na hora, mas o pessoal conseguiu sair de carro e caminhão até Angra dos Reis. Aí adianta? Se acontecer um desastre desses, acho que morreria todo mundo.”
Era alarme falso. A sirene teria disparado por causa de um raio, conta a moradora. Mas o acidente na usina de Fukushima, no Japão, novamente acendeu o alarme entre alguns dos moradores da comunidade. “Só quando acontece isso que a gente passa a ter noção do perigo que é”, diz a dona de casa Maria Lúcia de Oliveira Figueira, de 46 anos. “Isso mexeu com muita gente do bairro”, afirma ela, moradora do Frade.
Plano de emergência
Logo após o acidente causado por um tsunami no Japão, a Eletronuclear anunciou medidas para aumentar a segurança na operação da usinas de Angra e aprimorar o plano de emergência.
De acordo com o coordenador de Comunicação e Segurança da empresa, José Manuel Diaz Francisco, as medidas já estavam sendo estudadas, mas serão “aceleradas” após o ocorrido em Fukushima.
A empresa estuda construir uma pequena central hidrelétrica como mais uma alternativa para suprir energia em caso de acidentes (as usinas já contam com geradores a diesel para emergências).
A Eletronuclear também planeja construir píeres nas praias vizinhas para que moradores possam ser transportados pelo mar caso uma evacuação seja necessária. E contratou uma empresa para monitorar as encostas próximas à usina e beirando a estrada, que são suscetíveis a deslizamentos em épocas de chuva.
Fonte de empregos
Para muitos moradores de Angra, porém, a convivência com a usina é matéria pacífica, e isso não mudou após Fukushima.
“Eu acredito que existem lugares muito mais perigosos, como o Rio de Janeiro”, diz o inspetor de controle de qualidade Maurício Gomes da Silva, que já trabalhou na usina.
“A violência preocupa muito mais do que a gente estar vivendo perto de uma usina nuclear, uma unidade que nós acreditamos que seja muito segura”, acrescenta o morador de Parque Mambuca.
Assim como Gomes da Silva, muitos moradores da vizinhança trabalham ou já trabalharam no complexo de Angra, e apontam que é uma fonte de empregos importante para a região.
“Gera bastante emprego. Os únicos benefícios que a gente tem aqui são através da usina”, diz o comerciante Moacir Viana Rabello, dono de um mercado no Residencial Paraíso, comunidade no Parque Mambucaba.
Presidente da Associação de Moradores do Residencial Paraíso, Carlos Alberto dos Santos diz que a usina beneficia a comunidade com ônibus, programas sociais e ajuda para fazer obras e festas de fim de ano.
“A usina é de muito benefício porque repassa uma verba para a Prefeitura de Angra, que distribui os investimentos entre os bairros. Deveria até dar mais para a nossa região, pois somos os que estão mais próximos”, cobra.
Estrada estreita
Em contrapartida, Santos diz que a comunidade se preocupa com o lixo nuclear e o plano de evacuação da Eletronuclear.
“Esse resíduo que é retirado da usina é de grande proporção, e agora que estão fazendo Angra 3, esse lixo será de uma quantidade muito maior”, afirma. “A nossa preocupação é onde vão pôr esse lixo, como vai ser guardado esse rejeito.”
Santos considera ainda que o plano de evacuação é precário e que a população ficaria “à deriva” em caso de acidente. O principal entrave, avalia, é a Rodovia Rio-Santos, onde frequentemente caem barreiras quando chove e mesmo em dias normais há engarrafamentos na entrada de Angra dos Reis.
Renato Seixas, um dos diretores da Associação de Moradores do Frade, também cobra providências. “Nós não temos pista para tirar esse povo todo do Frade. Estão querendo melhorar, a rodovia vai aumentar, mas vai demorar dois ou três anos para ficar pronto. E se acontecer algo agora? A gente vai esperar dois, três anos para ser evacuado?”, questiona.
No fim do ano passado, o Ministério dos Transportes anunciou que a duplicação da rodovia entre Itacuruçá e Paraty seria incluída no PAC 2 – segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento.
O trecho, de 160 quilômetros, contempla o percurso das usinas de Angra até a capital do Rio de Janeiro. A obra deverá ser licitada no meio deste ano e levar no mínimo 18 meses para ficar pronta.
Em dezembro último, foram inauguradas obras de duplicação de 26 quilômetros da rodovia entre Itacuruçá e Santa Cruz (na entrada da capital fluminense), que levaram quatro anos e custaram R$ 245 milhões. (EcoDebate)

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