França antecipa inspeção de segurança de suas instalações nucleares
No dia seguinte ao acidente de Fukushima, o primeiro-ministro francês François Fillon pediu à Autoridade de Segurança Nuclear (ASN) que reavaliasse a segurança das instalações país “no final de 2011”. A agência reguladora decidiu antecipar. Para as instalações mais delicadas, ela anunciou em 09/05/11, as operadoras deverão entregar seus relatórios “no dia 15 de setembro, o mais tardar”, sendo que a ASN se dá dois meses para avaliá-los.
Essa pressa pode ser considerada uma prova de rápida reação frente à catástrofe japonesa. Mas ela abre espaço para críticas a um cronograma apertado demais para permitir investigações suficientemente rigorosas. Esses prazos, reconhece Jean-Christophe Niel, diretor-geral da ASN, fazem com que se baseiem “essencialmente nos estudos existentes”. Em outras palavras, está fora de questão retomar totalmente a avaliação da segurança das usinas nucleares ou realizar testes verdadeiros de resistência. A mesma restrição exclui das análises os acidentes ligados a ações terroristas. “Em prazos tão curtos assim, não é possível conduzir estudos sérios sobre o risco terrorista”, justifica o presidente da ASN, André-Claude Lacoste. Ele diz ainda que o assunto não se adapta bem à “transparência” prometida para essa auditoria.
Esta está sendo lançada agora que a Comissão de Bruxelas e o Grupo dos Reguladores Europeus da Segurança Nuclear (ENSRG) deveriam determinar, em 12 e 13/05/11, as especificações dos testes de resistência aos quais a Europa decidiu submeter seus 143 reatores. Essas duas inspeções de segurança, uma europeia, e a outra francesa, serão conduzidas com a “coerência mais ampla possível”, garante Niel. Assim, os dois procedimentos se basearão nas propostas elaboradas pelo “clube” das autoridades de segurança da Europa Ocidental, a associação Wenra.
Contudo, a França traz dois ajustes. Por um lado, a inspeção cobrirá todas as 150 instalações nucleares nacionais, e não somente os reatores. Por outro, ela integra os “fatores organizacionais, sociais e humanos”, em particular o uso da terceirização. A consideração desses fatores era desejada pelo Alto Comitê para a Transparência e a Informação sobre a Segurança Nuclear (HCTISN, sigla em francês), que emitiu um parecer favorável sobre esse dispositivo.
Foi estabelecida uma lista de instalações “prioritárias” em razão de “sua vulnerabilidade” ou da “importância das consequências de um acidente”. Ela inclui os 58 reatores em atividade da EDF, bem como o reator EPR que está sendo construído em Flamanville (departamento da Mancha), mas também cerca de quinze usinas do grupo Areva, entre elas as unidades de tratamento de La Hague (Mancha), Eurodif e Socatri, em Tricastin (departamento de Drôme), e Melox, em Marcoule (departamento de Gard). Também estão incluídos diversos reatores de pesquisa do Comissariado para a Energia Atômica (CEA), bem como o reator de alto fluxo de nêutrons do Instituto Laue-Langevin de Grenoble (departamento de Isère).
Para esse primeiro grupo, as operadoras – às quais “cabe a responsabilidade primeira da segurança”, ressalta a ASN – deverão apresentar um método de avaliação até o dia 1º de junho, e depois entregar um relatório em meados de setembro que será publicado. Para um segundo grupo de instalações consideradas “menos prioritárias”, das quais fazem parte cerca de vinte laboratórios do CEA, bem como o reator de fusão nuclear ITER de Cadarache (Bouches-du-Rhône), as operadoras terão até o outono de 2012 para entregar seu relatório. Última hipótese: para as instalações “não prioritárias”, que respondem principalmente ao CEA, a inspeção será feita a pedido da ASN.
Em termos concretos, a EDF, a Areva e o CEA deverão “reavaliar as margens de segurança das instalações à luz dos acontecimentos de Fukushima”. Ou seja: analisar as consequências de fenômenos naturais extremos – terremoto, inundações, tempestade ou acúmulo desses eventos – , supondo catástrofes que ultrapassariam pela sua dimensão as situações consideradas durante a concepção das instalações, bem como as consequências da perda das funções vitais de segurança. Os pontos fracos deverão ser identificados, bem como as melhorias que poderão ser feitas. Em se tratando de atividades terceirizadas a prestadoras de serviços, a operadora deverá detalhar como “continuará a garantir sua responsabilidade em matéria de segurança”.
Para a rede Sortir du Nucléaire, esse dispositivo constitui uma “cortina de fumaça”, e o mesmo vale para os testes europeus. “Há muitas omissões absurdas e escandalosas nas especificações, que não levam em conta nem o transporte de dejetos nucleares, nem os erros humanos – responsáveis pelo acidente de Chernobyl – , nem ações de sabotagem ou a possível queda de um avião”, critica uma de seus porta-vozes, Opale Crivello. “Os testes de resistência correm o risco de serem somente ‘testes álibis’, dando a acreditar que podem continuar funcionando por mais trinta anos, como antes”. O Greenpeace também acredita que “a ASN não está querendo enxergar a situação.”
No entanto, Lacoste garante que ao final da avaliação poderão ser feitas exigências suplementares de segurança. E que uma decisão de “fechamento” não está descartada. (EcoDebate)
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