sábado, 14 de maio de 2011

Mercado e energia (nuclear?)

Queiramos ou não (gostemos ou não) o mercado é uma força colossal. Tem as suas virtudes e dinâmicas, louváveis, mas é cego ou pior obcecado – pelo lucro. Não pode ser a entidade central e muito menos todo poderosa da condução e regulação do mundo e da humanidade.
O mercado é vivo, ativo, estável até onde lhe interessa, para se tornar inovador encontrando sempre o lucro – onde a humanidade ganha e perde, sorri e sofre, num equilíbrio sempre difícil e tantas vezes doloroso, o mercado ganha sempre. Não é por inovação é por essência.
Quando tudo se agita, os bolsos ressentem-se e muitos sofrem com os aumentos do petróleo e dos combustíveis derivados. O mercado sorri com os lucros diretos e agita-se com “as novas oportunidades de negócio”.
As novas oportunidades são muitas delas velhas, uma delas é o nuclear. A energia do átomo. A reação química (ou física) que, qual toque de Midas, liberta quantidades tais de energia que esta passa a ser barata e ao alcance de todos, portanto democrática, igualitária, e tudo o mais que quiserem ouvir.
Já Midas sabia que entre outras coisas não podia tocar a sua amada, pois esta transformada em ouro perdia o seu valor de ente amado (ainda que eventualmente se pudesse valorizar no tal mercado).
Desenvolvida num contexto histórico e político conhecido, a energia nuclear alimentou um segmento do mercado tecnológico, próspero e lucrativo (no “ocidente”), apoiada, defendida e controlada por estados fortes (tanto no “ocidente” como para lá das diversas cortinas), há quem diga que tendo como grande e real interesse a produção de combustível atómico suficiente para as bombas e armas (o plutónio e o urânio menos rico ou empobrecido, que levantou alguma polémica relativa às munições nomeadamente na guerra da ex Iugoslávia).
O certo é que do ponto de vista meramente económico o investimento no nuclear não é de fato o “eldorado” que referem, senão não teria tantas dificuldades em impor-se. A Alemanha e a Suécia definiram a sua eliminação em curto prazo, o Reino Unido hesita se as moderniza, a Finlândia iniciou recentemente a construção da única central nuclear dos últimos dez anos, mas as dificuldades têm sido enormes e o seu atraso é já algo impensável (para a Finlândia claro, cá seria mais uma derrapagem lucrativa). Na realidade não passa de “uma oportunidade de negócio” para aqueles que ganham com todos os negócios e que quanto maiores e mais centralizados melhores (o risco – esse elemento mítico que justificará alguns lucros – é mínimo quando apoiado e benzido, pelo estado).
Temos necessidade de outras energias, em teoria até o nuclear se deveria estudar, mas o seu estudo é no momento atual claro – torna-nos dependentes de tecnologias centralizadas em meia dúzia de produtores mundiais, enormes multinacionais pouco diferentes das do petróleo, para além de, não menos importante, todos os inconvenientes ecológico/sociais que são conhecidos e que comprometem já o mundo para a eternidade (os resíduos da indústria nuclear tem que ser guardados inacessíveis por milhares de anos) – por isso, para além da investigação e investimento na inovação real, é importante pensarmos mesmo que utopicamente, num mundo novo, num novo paradigma, numa relação diferente entre a humanidade e desta com a terra e com as suas energias ou potencialidades energéticas, tanto no aspecto do consumo como, sobretudo no da poupança.
O mercado, não sei (até a morte se vende), mas a terra é finita. (esquerdanova)

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