Vinte e cinco anos após acidente, moradores da aldeia russa de Stary Vyshkov têm de lidar com radiação e estresse.
Svetlana Ivanovna e seu marido, Pyotr Ivanov, riram quando souberam que os habitantes de Stary Vyshkov, para onde se mudaram há 17 anos, chamavam o pagamento de US$ 4 por mês para morar na zona contaminada pelo acidente de Chernobyl de dinheiro para o funeral. Há três anos, Pyotr voltou de uma viagem a Moscou saiu no jardim "para fumar" e se enforcou.
"Todos moramos em casas radioativas, respiramos ar radioativo, comemos comida radioativa, bebemos água poluída. Somos como prisioneiros", diz Svetlana. Mãe de três filhos, ela admite que, às vezes, acorda e pensa em se matar também.
Uma convergência trágica de acontecimentos fez com que a aldeia sofresse uma série de suicídios relacionados ao estresse. No início dos anos 90, dezenas de milhares de refugiados de língua russa fugiram dos conflitos de ex-repúblicas soviéticas e as casas desabitadas de Stary Vyshkov mostraram-se úteis.
Segundo um funcionário do distrito, a vila deveria ter sido realocada há anos, mas recebeu os refugiados. "Eles começaram a chegar da Ásia Central e precisavam ser instalados em algum lugar", diz.
É o caso da família de Vladimir Laptev, o primeiro morador a se suicidar na vila. Dez anos atrás, ele brigou com a mulher, foi para a casa da irmã, trancou-se no quarto do fundo e se enforcou. Desde então, cinco outros jovens se mataram dando origem a um boato sobre uma misteriosa epidemia de suicídios na aldeia de 450 pessoas, que fica a 176 km de Chernobyl.
Roza Lapteva, mãe de Laptev, culpa o local pela morte do filho. Ela chegou a Stary Vyshkov em 1992, vinda do Casaquistão. "Agora vemos o que este lugar fez com a gente. Tarde demais". Ela perdeu o marido, vítima de câncer, e o genro, que também se matou. Para Galina Rumyantseva, do Instituto Serbsky de Psiquiatria Social e Forense de Moscou, não é a radiação que leva as pessoas ao suicídio, mas o estresse. "Elas simplesmente desistem de viver". (OESP)
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