Com a previsão de atingir um
recorde de 230 GW em novas instalações eólicas e solares neste ano, a China
lidera o mercado global de energias renováveis segundo o último relatório da
Wood Mackenzie. O volume representa mais do que o dobro das novas usinas
combinadas nos Estados Unidos e Europa, a partir de investimentos de US$ 140
bilhões. O vice-presidente e chefe de Pesquisa de Energia e Renováveis da
Ásia-Pacífico da consultoria, Alex Whitworth, destacou que o gigante asiático
anunciou sua meta de neutralidade de carbono para 2060 em 2020 e desde então
tem reorganizado silenciosamente todo seu setor elétrico para apoiar uma rápida
eletrificação e expansão de renováveis.
“Enquanto outros mercados
estão moderando suas metas em matéria de energias renováveis, a China aumentou
suas perspectivas para 2025 em 43% ou 380 GW em apenas alguns anos”, complementa.
Segundo Whitworth, investimentos significativos foram redirecionados para
linhas de transmissão, armazenamento de energia e backup flexível, e que à
medida que os custos da eólica e solar caíram, o país também retirou as tarifas
preferenciais para esses tipos de projetos em 2022, poupando ao governo de
bilhões em subsídios.
A informação é de que o país orçou US$ 455 bilhões em aportes na rede entre 2021 e 2025, aumento de 60% em relação à década anterior. O valor inclui LTs de longa distância com mais de mil km de extensão, que desbloquearam mais de 100 GW de desenvolvimento de fontes renováveis no interior chinês. Quanto aos sistemas com baterias ligados à rede, o país também se tornou líder global com previsão de 67 GW para esse ano, e com perspectivas de expansão para 300 GW até 2030.
Flexibilidade da rede
A pesquisa também aponta que
a China tem sido criticada por um pipeline de mais de 200 GW de centrais a
carvão em desenvolvimento, mas acrescenta que novas políticas também levaram à
criação de uma frota de mais de 100 GW de centrais flexíveis que queimam menos
carvão e são concebidas para aumentar a produção de fontes renováveis
intermitentes. O lado da demanda também foi repensado, tais como preços de pico
mais elevados e a definição de metas entre 50 GW a 80 GW de Gestão do Lado da
Procura (DSM, na sigla em inglês) ou “centrais elétricas virtuais” até 2025.
Sobre a relação com as tecnologias fósseis, Whitworth comentou que os esforços do país para renováveis e infraestruturas de apoio nos últimos anos ultrapassou o que estava para ser aplicado na energia térmica à carvão por um fator de 5 para 1. A quota do insumo na produção de energia tem caído continuamente, em 10 pontos percentuais nos últimos cinco anos para cerca de 55% atualmente. “Cerca de 80% da redução foi substituída por energias renováveis e o restante principalmente pela energia nuclear”, acrescenta.
Triplicar energias renováveis no mundo até 2030 será difícil.
Fatores competitivos
De acordo com a análise do
relatório, o crescimento da energia ambientalmente mais amigável foi ajudado
pelas baixas taxas de redução da tecnologia solar e eólica, que atingiram
níveis de 2% e 4% no ano passado, melhorando significativamente a economia dos projetos
em comparação com a retração de mais de 10% registada antes de 2020. É esperado
que ainda que o recuo aumente novamente dos atuais níveis baixos observados,
embora ainda permaneçam em níveis administráveis.
“Embora a inflação de custos
tenha sido um grande obstáculo em outros mercados, a China alavancou a sua
enorme escala interna e o forte crescimento das exportações para expandir
rapidamente a produção solar e reduzir os custos dos módulos, dominando mais de
80% da capacidade da cadeia de abastecimento global”, complementa a analista
sênior de Energia da Wood Mackenzie baseado em Pequim, Sharon Feng.
Ela cita também a queda das
taxas de juros, os baixos custos da energia, a intensa concorrência de preços
entre os fornecedores nacionais e o apoio governamental à Investigação e
desenvolvimento de uma indústria transformadora como fatores que apoiaram a
queda dos custos e tornaram o mercado chinês maior do que o da Europa e dos EUA
juntos. “Os preços para o utilizador final na China são menos de metade dos
praticados na Europa ou na Austrália e isto apoia uma forte vantagem
competitiva no comércio global”, salienta.
Programas trouxeram 128 GW em
dez anos
As empresas chinesas também fizeram progressos significativos nos ativos energéticos envolvendo a iniciativa Belt & Road (B&R) ao longo da última década. Com um valor de investimento estimado em cerca de US$ 200 bilhões, mais de 300 projetos instalaram 128 GW de energia, o equivalente a 1,3 vezes a capacidade instalada da Austrália em 2022.
No entanto, surgiram desafios que levaram ao cancelamento ou arquivamento de mais de 20% dos projetos até hoje, segundo outro levantamento da Wood Mackenzie, intitulado “Belt & Road at 10: Powering on through growth pains”. No entanto o país caminha para deter mais de 80% da capacidade global da fabricação de polissilícios, wafers, células e módulos entre 2023 e 2026, após direcionar mais de US$ 130 bilhões ao segmento. (canalenergia)