quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

UHEs devem se juntar a renováveis para impulsionar crescimento sustentável

Declaração de Bali diz que UHEs devem se juntar a renováveis para impulsionar crescimento sustentável.

O Congresso Mundial de Energia Hidrelétrica divulgou em 02/11/23 a Declaração de Bali, que teve como mensagem principal que a água, o vento e o sol devem juntos impulsionar o crescimento sustentável do futuro, antes da COP 28.

Congresso Mundial de Energia Hidrelétrica aponta que a fonte hídrica deve ser a espinha dorsal de desenvolvimento em economias de baio carbono.
Declaração de Bali sobre a Potencialização do Crescimento Sustentável

A Declaração de Bali sobre a Potencialização do Crescimento Sustentável apela a que a energia hidroelétrica sustentável seja a espinha dorsal das estratégias nacionais para construir economias hipocarbônicas prósperas, apoiadas por energia limpa e renovável.

Enquanto maior fonte mundial de geração e armazenamento de energia renovável, a energia hidroelétrica sustentou o desenvolvimento industrial em muitas das economias mais avançadas do mundo, ao mesmo tempo que robusteceu a gestão hídrica. A maior parte do potencial hidroelétrico inexplorado ainda existente situa-se em regiões em desenvolvimento, conforme sublinhado pela Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA) no seu relatório de 2023: A Mudança do Papel da Energia Hidroelétrica. O desenvolvimento desse vasto potencial pode promover o desenvolvimento económico sustentável e apoiar a implantação maciça da energia eólica e solar necessária para concretizar a transição para energias limpas.

O planeamento para o desenvolvimento sustentável deve basear-se num entendimento holístico à escala de todo o sistema, aproveitando a combinação ideal de fontes de energia renovável para apoiar o desenvolvimento económico e a transição social.

A energia hidroelétrica sustentável e o armazenamento reversível proporcionam um complemento hipocarbônico às tecnologias renováveis variáveis, mas o desenvolvimento está a ser travado pela falta de quadros de políticas e mercados adequados. Em resultado, muitos países que desenvolveram energias renováveis variáveis a um bom ritmo sem investir também numa fonte de armazenamento ­fiável estão agora a sentir di­ficuldades para manter a estabilidade da eletricidade e, por conseguinte, o crescimento sustentável. Esta é a crise ignorada dentro da crise.

A comunidade hidroelétrica mundial rea­rmou o seu compromisso para com o desenvolvimento sustentável de projetos através da adoção da Declaração de San José sobre Energia Hidroelétrica Sustentável e da adoção do Padrão de Sustentabilidade da Energia Hidroelétrica. Mas esse compromisso não é su­ficiente. O mercado só por si tem dificuldades para recompensar a h­abilidade, a exigibilidade e o equilíbrio. Cabe aos governos assegurar que os quadros políticos e regulamentares correspondam à ambição dos objetivos climáticos globais e aos bancos multilaterais providenciar os mecanismos ­financeiros inovadores necessários para estimular um novo desenvolvimento. Tal só pode ser alcançado reconhecendo, facilitando e incentivando o desenvolvimento hidroelétrico sustentável para que este desempenhe plenamente o seu papel na transformação econômica.

Esta Declaração apresenta recomendações para acelerar o desenvolvimento da energia hidroelétrica sustentável em paralelo com outras energias renováveis. Baseia-se num amplo processo de consultas a governos, sector privado, instituições fi­nanceiras internacionais e organizações da sociedade civil.

“A revolução industrial foi alimentada pela água; a água, o vento e o sol em conjunto alimentarão o crescimento sustentável do futuro”.

Privilegiar o desenvolvimento que é sustentável

A energia hidroelétrica pode dar um contributo vital para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A sua capacidade única de proporcionar armazenamento de energia em grande escala e de longa duração, juntamente com um leque de benefícios multifuncionais, pode apoiar o avanço de:

Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todos;

Assegurar o acesso a energia módica, fi­ável, sustentável e moderna para todos;

Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;

Tomar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos;

Reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Tal como acontece com qualquer desenvolvimento de grandes infraestruturas, quando não é desenvolvida de forma responsável, a energia hidroelétrica pode ter impactos negativos nas comunidades e nos ecossistemas. A Declaração de San José sobre Energia Hidroelétrica Sustentável reconhece que todos os tipos de infraestruturas pluviais e hídricas devem proporcionar benefícios líquidos positivos às comunidades afetadas pelos projetos e ao ambiente em geral para justi­ficar a sua construção e o seu funcionamento contínuo.

O Padrão de Sustentabilidade da Energia Hidroelétrica, regido por um conselho multilateral e avaliado de forma independente, proporciona uma referência internacional para boas e melhores práticas em matéria de sustentabilidade hidroelétrica.

10 maneiras pelas quais a energia hidroelétrica possibilita o crescimento sustentável

De acordo com números e projeções da ONU, mais de 2 mil milhões de pessoas em todo o mundo não têm hoje acesso a água potável gerida de forma segura, enquanto cerca de 660 milhões de pessoas ainda carecerão de acesso a eletricidade em 2030.

Os projetos hidroelétricos, quando localizados, planeados e executados segundo boas práticas internacionais de sustentabilidade, proporcionam benefícios ao desenvolvimento industrial sustentável que vão muito além da mera produção de eletricidade:

1. Geração de eletricidade hipocarbônica e de longa duração. Uma vez construída, uma unidade hidroelétrica pode fornecer energia durante muitas décadas e não necessita de queimar combustível para funcionar. No geral, a energia hidroelétrica apresenta emissões de gases com efeito de estufa ao longo do ciclo de vida semelhantes ou inferiores às de outras opções renováveis.

2. Gestão de recursos hídricos. Quase 40% das barragens hidroelétricas de todo o mundo prestam vários serviços não energéticos. Tal inclui a gestão da água doce através da atenuação de cheias e secas, o abastecimento de água potável, a irrigação e a navegação fluvial; serviços cada vez mais vitais num mundo com restrições climáticas.

3. Equilíbrio da rede através de flexibilidade, despachabilidade, regulação da frequência e armazenamento. A energia hidroelétrica, em especial o armazenamento reversível, é a única tecnologia renovável de grande escala comprovada que pode prestar os serviços necessários para assegurar a estabilidade e a resiliência do sistema elétrico nas redes hipocarbônicas do futuro.

4. Sinergia com outras energias renováveis. Ao funcionar como uma “bateria de água”, a energia hidroelétrica é um complemento natural de energias renováveis variáveis, como a eólica e a solar. Pode armazenar o excesso de energia eólica e solar e libertá-la rapidamente quando o vento não sopra ou o sol não brilha. Os reservatórios hidroelétricos também oferecem oportunidades para o desenvolvimento de sistemas híbridos, como a integração de energia fotovoltaica flutuante.

5. Descarbonização de indústrias difíceis de reduzir. A indústria consome mais energia do que qualquer outro sector. Alimentar as indústrias pesadas com energias renováveis em vez de combustíveis fósseis pode acelerar o desenvolvimento sustentável, dissociando as emissões da industrialização.

6. Atenuação climática e resiliência. A oferta de armazenamento flexível pela energia hidroelétrica, a geração hipocarbônica de eletricidade e os benefícios polivalentes (incluindo o controlo de cheias e secas) serão cruciais na adaptação a um mundo mais quente, marcado por fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes. Ao mesmo tempo, novos avanços tecnológicos nas gamas de funcionamento das unidades hidroelétricas ajudarão a minimizar o impacto dos padrões climáticos no seu desempenho e na sua fiabilidade.

7. Modicidade. Ao longo da sua vida útil, a energia hidroelétrica proporciona uma das opções de geração de eletricidade de menor custo entre todas as principais fontes de combustíveis fósseis e energias renováveis. A tecnologia proporcionou uma espinha dorsal de energia módica a países que investiram historicamente no seu desenvolvimento.

8. Sustentabilidade. As práticas hidroelétricas sustentáveis têm sido aperfeiçoadas ao longo de muitos anos através do diálogo construtivo entre a indústria, as comunidades, os povos indígenas, os governos, as ONG e as instituições financeiras. Este processo resultou no Padrão de Sustentabilidade da Energia Hidroelétrica, um sistema de certificação reconhecido internacionalmente que faculta um quadro para assegurar que os projetos sejam desenvolvidos de forma sustentável.

9. Criação de empregos verdes. O sector hidroelétrico já emprega mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo (IRENA). A incorporação da energia hidroelétrica nas estratégias de crescimento sustentável estimulará um maior desenvolvimento social e econômico através da criação de novas oportunidades de carreira.

10. Desenvolvimento econômico em comunidades locais/rurais. O potencial hidroelétrico situa-se frequentemente em lugares remotos. O desenvolvimento de nova capacidade e das infraestruturas de apoio necessárias para a integrar nas redes expande a eletrificação rural e possibilita o crescimento económico rural.
Recomendações para decisores

Ao ritmo atual de desenvolvimento da energia hidroelétrica, o crescimento industrial nas regiões em desenvolvimento dependerá da produção contínua de combustíveis fósseis e as metas climáticas globais não serão cumpridas. Os governos e as instituições ­financeiras têm de colaborar com o sector hidroelétrico para acelerar o progresso através de quatro medidas essenciais:

1. Planear as necessidades energéticas futuras. Com o uso crescente de energias renováveis variáveis, como a eólica e a solar, os decisores têm de colaborar de modo transfronteiriço sempre que necessário, para identi­ficar a combinação geral ideal de tecnologias hipocarbônicas de energia renovável a ­m de possibilitar o desenvolvimento sustentável.

2. Incentivar o desenvolvimento hidroelétrico sustentável através de mecanismos fi­nanceiros e de mercado. Para cumprir os objetivos do Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a AIE estima que o investimento em energia hidroelétrica precisa de duplicar para US$ 100 mil milhões dos EUA por ano, ao passo que a frota de ativos existentes tem de ser mantida e melhorada. Tal não poderá ser alcançado a menos que a energia hidroelétrica esteja em pé de igualdade com outras energias renováveis. Os decisores devem implementar quadros de mercado adequados para incentivar e reduzir o risco de novos investimentos hidroelétricos e atividades de modernização a ­m de cumprir as metas climáticas, incluindo a remuneração dos serviços não energéticos prestados pelos projetos hidroelétricos.

3. Acelerar o desenvolvimento de energias renováveis através de processos transparentes e e­ficientes de autorização e licenciamento. Os processos de planeamento e aprovação de energia hidroelétrica demoram habitualmente mais de cinco anos até que os novos projetos e atividades de modernização substanciais possam sequer começar a ser construídos; em muitos casos, bastante mais tempo. Entretanto, a opção predefi­nida é, com frequência, o recurso aos combustíveis fósseis. A implantação maciça das energias renováveis necessárias para cumprir os objetivos climáticos globais através do desenvolvimento sustentável deve ser acelerada melhorando a e­ficiência desses processos sempre que possível e sem comprometer a sustentabilidade.

4. Incorporar práticas de sustentabilidade da energia hidroelétrica na regulamentação governamental e nas obrigações do sector ­financeiro. Acelerar o desenvolvimento não signifi­ca cortar custos. A aplicação das melhores práticas de sustentabilidade, criadas e geridas por meio de consenso multilateral, como o Padrão de Sustentabilidade da Energia Hidroelétrica, deve ser integrada nos quadros reguladores ou adotada como ferramenta preferencial para maximizar os benefícios dos projetos e atenuar quaisquer impactos negativos.

Transformar recomendações em ação

A Declaração de Bali sobre a Potencialização do Crescimento Sustentável foi emitida ofi­cialmente em 02/11/2023, na conclusão do Congresso Mundial de Energia Hidroelétrica.

Na qualidade de Secretariado do Congresso Mundial da Energia Hidroelétrica, a Associação Internacional de Energia Hidroelétrica (IHA) compromete-se a promover as recomendações da Declaração de Bali através dos seus programas de trabalho e de patrocínio mundial, em colaboração com os seus membros e parceiros. Tal incluirá o desenvolvimento de recomendações aperfeiçoadas sobre quadros de políticas e mercados, conforme adequado aos diferentes contextos nacionais e regionais.

Até 2026 o uso de fontes renováveis pode crescer 60%.

As organizações e pessoas com interesse na energia hidroelétrica sustentável são incentivadas ao envolvimento no programa de trabalho e no trabalho de patrocínio da IHA para apoiar a implementação das recomendações desta Declaração. (assets-global)

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