País
é hoje dependente de hidro e termoelétricas. Para especialistas, modelo é
arriscado e caro. E saída passa por explorar fontes renováveis e potenciais das
regiões. Solução em curto prazo, porém, é vista com ceticismo.
Segundo
o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão de terça-feira, que
atingiu partes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, não foi causado, em
princípio, por excesso de consumo. Mas de acordo com especialistas ouvidos pela
agência alemã de notícias DW, o Brasil precisa diversificar urgentemente sua
matriz energética, hoje altamente dependente das hidroelétricas e, em casos de
emergência, das termoelétricas.
As
termoelétricas são acionadas sempre que o setor hidroelétrico responsável por
63% da energia gerada no país ameaça não dar conta da demanda de consumo.
Segundo especialistas, a curto prazo, nenhuma outra fonte de energia renovável
será capaz de suprir as atuais necessidades do sistema, mas, para os próximos
anos, é preciso investir em alternativas.
-
As energias renováveis não são oportunidades que possam ser implementadas a
curto prazo, porque a lição não foi feita. O planejamento do Brasil é só aumentar
a oferta de hidroelétricas. E o governo acaba não atentando para as
alternativas – avalia Artur de Souza Moret, professor do Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade
Federal de Rondônia (Unir). “A tendência ‘monotecnológica’ do país é um entrave
à eficiência do planejamento enérgico.”
Nesta
semana, com as termoelétricas ligadas, a energia no Brasil é vendida ao preço
recorde R$ 822,23 de reais por megawatt-hora (MWh), quase o dobro do valor
praticado na última semana de janeiro. Segundo a Associação Brasileira de
Energia Eólica (ABEEólica), o preço da energia oriunda das termoelétricas é
oito vezes mais cara do que a produzida em parques eólicos, por exemplo.
Como
são usadas geralmente em ocasiões de emergência, o valor da energia gerada
pelas termoelétricas precisa compensar o período de manutenção em que a usina
não foi utilizada. “Ninguém tem dúvida de que qualquer sistema elétrico que
queira ter certa eficiência na segurança do atendimento precisa de usinas
termoelétricas, mas os preços precisam ser mais baixos”, argumenta Elbia Melo,
presidente executiva da ABEEólica.
Para
isso, o coordenador do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), Arno Krenzinger, defende que a matriz energética do
país seja mais diversificada. “Não adianta o governo fazer um decreto e tentar
implementar tudo ao mesmo tempo. Os custos estão baixando. A soma de pequenas
contribuições pode levar o país a um melhor desempenho energético”, opina.
Potencial
perdido
De
acordo com os últimos leilões promovidos pelo governo, o preço da energia
eólica tem sido equivalente à hidroelétrica. Já a térmica e a solar são três
vezes mais caras. A atual capacidade instalada de energia eólica, no entanto,
não é suficiente para atender às necessidades do sistema.
Segundo
a ABEEólica, 48 parques que correspondem a 1,2 gigawatts de capacidade
instalada estão ainda sem linha de transmissão. A entidade espera que até o
final de março 26 dessas usinas entrem em funcionamento.
-
Se o Brasil tivesse investido 30 anos atrás para termos um parque de usinas em
funcionamento, o país não seria tão suscetível ao problema de falta de chuva. O
potencial hídrico do Brasil é suficiente para abastecer o país inteiro, mas o
potencial eólico é muito superior ao que é necessário – analisa Krenzinger.
Para
o diretor do Laboratório de Energia dos Ventos da Universidade Federal
Fluminense, Geraldo Tavares, a realização de leilões de energia eólica
representa um entrave para o setor.
-
Isso nunca deu certo no mundo todo. O governo deveria permitir que quem quiser
produzir energia eólica faça a ligação com a rede, desde que haja um preço fixo
por megawatt/hora. O leilão não permite que o preço baixe muito e se torne
competitivo – explica.
Segundo
o professor Artur de Souza Moret, da Unir, o risco de falta de energia poderia
ser “zero” se houvesse mais investimentos em energia solar e fotovoltaica. “No
Brasil inteiro, a quantidade de sol é muito grande. Com os painéis solares, o
consumo de energia subiria na mesma proporção, mas parte disso poderia ser
atendido pela própria energia solar”, afirma.
Altos
custos
Com
percentual baixo de capacidade instalada em relação às demais fontes, a energia
solar ainda é muito cara no país por causa do alto custo dos equipamentos, mas
poderia reduzir o uso de energia térmica em momentos de crise.
-
Por causa do alto preço do diesel, as usinas fotovoltaicas são competitivas em
relação às termoelétricas, mas em nenhum país do mundo a energia solar pode ser
tida como base. Ela sempre vai ser complementar, porque não está disponível a
todo momento. Não existe energia solar à noite, por exemplo – diz o coordenador
do Laboratório de Energia Solar da UFRGS.
Segundo
Moret, o Brasil precisa trabalhar com as regionalidades no setor energético.
“As fontes devem ser mais localizadas. Por exemplo, porque não substituir o
diesel por óleo vegetal ou biodiesel em Mato Grosso e Rondônia, que têm grande
produção de soja? Em São Paulo, por que não utilizar ainda mais o bagaço de cana?”,
questiona.
Krenzinger,
por sua vez, avalia que a segurança do sistema elétrico também depende do
investimento em várias fontes de energia: “Acredito que no futuro essa
proporção venha a se corrigir, porque a energia eólica tem oferecido um preço
interessante em relação à hidroelétrica. Nenhuma matriz pode ser única. O
sistema é mais seguro se há várias fontes.”
Sistema
elétrico
O
sistema elétrico nacional e as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste,
separadamente, bateram recordes de carga de energia na quarta-feira, segundo
informações de relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
divulgado nesta quinta-feira.
O
Sistema Interligado Nacional (SIN) atingiu o recorde de carga no sistema
elétrico às 15h41 minutos, a 85.708 megawatts (MW), informou o ONS, no
Informativo Preliminar Diário de Operação. O recorde anterior tinha sido
registrado em 03/02/14.
A
região Sudeste/Centro-Oeste registrou um recorde também às 15h41, a 51.187 MW,
sendo que o recorde anterior tinha ocorrido em 03/02/14.
Já
a região Sul, registrou um recorde às 14h30 de 05/02/14, a 17.771 MW, ante
recorde anterior de 04/02/14. (portalpch)
Nenhum comentário:
Postar um comentário