Para
evitar crise, Brasil precisa diversificar matriz energética
País é hoje
dependente de hidro e termoelétricas. Para especialistas, modelo é arriscado e
caro. E saída passa por explorar fontes renováveis e potenciais das regiões.
Solução em curto prazo, porém, é vista com ceticismo.
Segundo o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão de 05/02/14, que atingiu
partes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, não foi causado, em princípio,
por excesso de consumo. Mas de acordo com especialistas ouvidos pela DW, o
Brasil precisa diversificar urgentemente sua matriz energética – hoje altamente
dependente das hidroelétricas e, em casos de emergência, das termoelétricas.
As
termoelétricas são acionadas sempre que o setor hidroelétrico – responsável por
63% da energia gerada no país – ameaça não dar conta da demanda de consumo.
Segundo especialistas, a curto prazo, nenhuma outra fonte de energia renovável
será capaz de suprir as atuais necessidades do sistema, mas, para os próximos
anos, é preciso investir em alternativas.
“As energias
renováveis não são oportunidades que possam ser implementadas a curto prazo,
porque a lição não foi feita. O planejamento do Brasil é só aumentar a oferta
de hidroelétricas. E o governo acaba não atentando para as alternativas”,
avalia Artur de Souza Moret, professor do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Federal de Rondônia
(Unir). "A tendência 'monotecnológica' do país é um entrave à eficiência
do planejamento enérgico."
Nesta
semana, com as termoelétricas ligadas, a energia no Brasil é vendida ao preço
recorde de R$ 822,23 por megawatt-hora (MWh), quase o dobro do valor praticado
na última semana de janeiro. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica
(ABEEólica), o preço da energia oriunda das termoelétricas é oito vezes mais
cara do que a produzida em parques eólicos, por exemplo.
Como são
usadas geralmente em ocasiões de emergência, o valor da energia gerada pelas
termoelétricas precisa compensar o período de manutenção em que a usina não foi
utilizada. “Ninguém tem dúvida de que qualquer sistema elétrico que queira ter
certa eficiência na segurança do atendimento precisa de usinas termoelétricas,
mas os preços precisam ser mais baixos”, argumenta Elbia Melo, presidente
executiva da ABEEólica.
Para isso, o
coordenador do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), Arno Krenzinger, defende que a matriz energética do país
seja mais diversificada. “Não adianta o governo fazer um decreto e tentar
implementar tudo ao mesmo tempo. Os custos estão baixando. A soma de pequenas
contribuições pode levar o país a um melhor desempenho energético”, opina.
Potencial
perdido
De acordo
com os últimos leilões promovidos pelo governo, o preço da energia eólica tem
sido equivalente à hidroelétrica. Já a térmica e a solar são três vezes mais
caras. A atual capacidade instalada de energia eólica, no entanto, não é
suficiente para atender às necessidades do sistema.
Painéis
solares na China, líder mundial no setor
Segundo a
ABEEólica, 48 parques que correspondem a 1,2 gigawatts de capacidade instalada
estão ainda sem linha de transmissão. A entidade espera que até o final de
março 26 dessas usinas entrem em funcionamento.
“Se o Brasil
tivesse investido 30 anos atrás para termos um parque de usinas em
funcionamento, o país não seria tão suscetível ao problema de falta de chuva. O
potencial hídrico do Brasil é suficiente para abastecer o país inteiro, mas o
potencial eólico é muito superior ao que é necessário”, analisa Krenzinger.
Para o
diretor do Laboratório de Energia dos Ventos da Universidade Federal
Fluminense, Geraldo Tavares, a realização de leilões de energia eólica
representa um entrave para o setor.
“Isso nunca
deu certo no mundo todo. O governo deveria permitir que quem quiser produzir
energia eólica faça a ligação com a rede, desde que haja um preço fixo por
megawatt/hora. O leilão não permite que o preço baixe muito e se torne
competitivo”, explica.
Segundo o
professor Artur de Souza Moret, da Unir, o risco de falta de energia poderia
ser “zero” se houvesse mais investimentos em energia solar e fotovoltaica. “No
Brasil inteiro, a quantidade de sol é muito grande. Com os painéis solares, o
consumo de energia subiria na mesma proporção, mas parte disso poderia ser
atendido pela própria energia solar”, afirma.
Altos custos
Com
percentual baixo de capacidade instalada em relação às demais fontes, a energia
solar ainda é muito cara no país por causa do alto custo dos equipamentos, mas
poderia reduzir o uso de energia térmica em momentos de crise.
Usina
hidroelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins
“Por causa
do alto preço do diesel, as usinas fotovoltaicas são competitivas em relação às
termoelétricas, mas em nenhum país do mundo a energia solar pode ser tida como
base. Ela sempre vai ser complementar, porque não está disponível a todo
momento. Não existe energia solar à noite, por exemplo”, diz o coordenador do
Laboratório de Energia Solar da UFRGS.
Segundo
Moret, o Brasil precisa trabalhar com as regionalidades no setor energético.
“As fontes devem ser mais localizadas. Por exemplo, porque não substituir o
diesel por óleo vegetal ou biodiesel em Mato Grosso e Rondônia, que têm grande
produção de soja? Em São Paulo, por que não utilizar ainda mais o bagaço de
cana?”, questiona.
Krenzinger,
por sua vez, avalia que a segurança do sistema elétrico também depende do
investimento em várias fontes de energia: “Acredito que no futuro essa
proporção venha a se corrigir, porque a energia eólica tem oferecido um preço
interessante em relação à hidroelétrica. Nenhuma matriz pode ser única. O
sistema é mais seguro se há várias fontes.” (dw.de)
Nenhum comentário:
Postar um comentário