Enquanto a energia eólica engatinhava, Camargo e Koike chegaram a
fabricar ventiladores.
Nem nos tempos mais difíceis o engenheiro Odilon Camargo
questionou a escolha que fez pela energia eólica ainda na época da faculdade.
Embora fosse apaixonado por aeronaves (voava de planador, asa-delta e havia
tirado brevê como piloto de monomotor), foi arrebatado pelo apelo da fonte
renovável.
Ele lembra com detalhes daquela tarde no hall do alojamento
do ITA, quando ouviu pela primeira vez um colega falar sobre a criação de um
grupo de pesquisa de energia eólica no Instituto de Atividades Espaciais.
"Na hora peguei minha bicicleta e fui pra lá. Encontrei
o chefe do laboratório (Cel Libório Faria) com uma pá de aerogerador americano
e comecei a analisar o equipamento junto com ele. Vi que podia fazer mudanças
significativas para melhorar a aerodinâmica do equipamento. O chefe nem me
conhecia, mas fui contratado na hora como estagiário."
Não demorou para ele convencer Bento Koike - seu amigo de
classe e de apartamento - a entrar no grupo. "Estávamos no quarto ano e
era hora de buscar um rumo para a tese de graduação. Escolhemos fazer uma
turbina eólica." Após a conclusão do curso, os dois amigos trabalharam
juntos no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) até 1983. Depois foram para a
Alemanha participar do projeto de construção de um dos primeiros aerogeradores do
mercado alemão - conhecido como Adler 25.
De volta ao Brasil, tiveram de se virar enquanto a eólica
não prosperava. Chegaram a trabalhar com propaganda de TV (veiculado em São
José dos Campos e Curitiba) e fabricação de ventiladores industriais. "Eu
projetava e Koike produzia. Foi um sucesso. Até exportávamos o produto."
Camargo só ganhou notoriedade no setor após elaborar, em 1999, o mapa eólico do
Paraná, baseado em topografia e rugosidade. "Foi um trabalho pioneiro.
Naquela época não tinha Google Earth nem modelo topográfico digital. Tudo era
mais difícil."
Para concluir o trabalho, lembra ele, teve até de pegar
carona num helicóptero da Copel (que fazia inspeção nas linhas de transmissão)
para mapear locais de difícil acesso. "Mas no fim o trabalho causou grande
impacto no setor. A partir daí, todo mundo queria um mapa: empresas privadas,
os Estados da Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará."
Com o título de Rei dos Ventos, em 2001 o engenheiro foi
contratado pelo governo federal para elaborar o mapa eólico do Brasil. Mas aí
as condições eram outras, com modelos de medição mais refinados. Hoje Camargo
tem até equipamentos a laser para medir a velocidade do vento em áreas com
topografia mais difícil. Sua empresa - a Camargo Schubert - é responsável pela
certificação dos projetos de 60% dos ganhadores dos leilões realizados a partir
de 2009. (OESP)
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