“Obedecemos suas leis
mesmo quando lhe resistimos, agimos com ela mesmo quando julgamos desafiá-la”
(Goethe: “Sobre a Natureza”)
Leonardo Boff, em “A
Opção-Terra”, nos adverte que “no momento atual, se parássemos tudo em nosso
processo de produção e de consumo, a Terra precisaria de cerca de mil anos até
recuperar-se das chagas que lhe temos infligido”.
Talvez esse seja um
dos argumentos mais plausíveis para evidenciar que, diante do modelo de
produção e consumo que ocupa as decisões econômicas das principais economias no
momento, não há mais capacidade de continuar aumentando a produção física das
economias.
A Terra não suporta
mais essa agressão; 60% dos serviços ecossistêmicos estão completamente
esgotados, causando essas chagas sobre o meio ambiente, em especial, uma
poluição sem o menor controle que tem dizimado milhões de vidas humanas todos
os anos.
A causa principal
dessas chagas, portanto, está no modelo econômico que expande a qualquer preço
a capacidade de produção econômica. Esse fato, por sua vez, se vincula ao
principal dogma das ciências econômicas, vale dizer, à ideia de que a atividade
econômica tem que crescer continuamente, para propiciar a todos uma vida boa e
farta. Essa é a ideia corrente do mito do crescimento contínuo.
A questão que mais se
aflora em torno disso é que os tomadores de decisão econômica parecem esquecer
que a atividade humana se desenrola dentro da ecosfera terrestre. Esquecem,
ademais, que a atividade econômica consome energia e que não há capacidade
ilimitada desse recurso.
Por isso é importante
não perder de vista que a economia está vinculada à energia. Este vínculo abre
a possibilidade de aprofundar e ampliar os estudos e os conceitos econômicos,
vinculando a economia à ecologia e à termodinâmica, temas, por sinal,
esquecidos do “receituário” da economia tradicional, dita neoclássica.
É por isso que os
economistas tradicionais apresentam certas dificuldades em aceitar – parece
mesmo que esquecem e ignoram – a relação existente entre a economia e a
ecologia, como se a atividade econômica funcionasse no vazio, e não dentro do
meio ambiente, como se essa atividade econômica somente produzisse mercadorias,
e não uma poluição como resultado final.
Os economistas
tradicionais esquecem e ignoram ainda o fato que a queima de petróleo, de
carvão mineral e de florestas, está introduzindo mais de 30 bilhões de
toneladas por ano de gás carbônico na atmosfera (85% originado dos combustíveis
fósseis).
A queima de
combustíveis fósseis produz também monóxido de carbono, óxidos de enxofre,
óxidos de nitrogênio e outros gases, além de poeiras, vapores e partículas de
combustível mal queimado. Estes gases e resíduos são os responsáveis pela
famosa poluição das grandes cidades (hoje são mais de 20 cidades no mundo com
mais de 10 milhões de habitantes ante duas nos anos 1960) e das áreas
industriais.
A poluição,
entretanto, não fica permanentemente no ar. É levada pelas chuvas e acaba
contaminando mais a água e o solo do que o ar, diz Francisco F.A. Fonseca, em
“O Mundo em Crise – Economia, Ecologia e Energia”.
A gravidade dessa
poluição, que aumenta à medida que as economias crescem e as megacidades
avançam no processo de industrialização, tem dizimado quase 2,0 milhões de
pessoas todos os anos ao redor do mundo, em especial na Ásia, que concentra as
cidades mais poluídas do mundo.
Os dados sobre isso
são assustadores: somente na China há 16 das 20 cidades mais poluídas do
planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A cada aproximação do
inverno (dezembro-março), o céu de várias cidades chinesas, sobretudo no norte
do país, é tomado pelo smog, vale dizer, uma combinação de nevoeiro com
fumaça poluente.
Em outubro de 2013,
Harbin, cidade de 10,6 milhões de habitantes, teve de paralisar suas atividades
por causa de níveis de poluição superiores ao recorde do ano (registrado em
Pequim), que reduziram a visibilidade local a menos de 10 metros.
Os números que
mostram esse drama, segundo estudos divulgados pelo Greenpeace são: 260
mil crianças chinesas morreram prematuramente em 2011 por causa da poluição
atmosférica, 320 mil crianças e 61 mil adultos sofriam de asma
em 2011 por causa do problema poluição, 32 mil mortes prematuras
adicionais ocorrerão por ano quando 570 novas usinas a carvão entrarem em
funcionamento.
Não é mais possível
ignorar que a economia está vinculada à ecologia e que o crescimento econômico,
em escala mundial, traz, como subproduto, o drama da poluição e do esgotamento
constante dos principais serviços ecossistêmicos dos quais à vida humana tanto
necessita. (ecodebate)
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