Inaugurada usina que vai transformar em gás natural o lixo
produzido por oito municípios do Rio
A Usina de Tratamento
de Biogás do Aterro Dois Arcos, inaugurada em 04/08/14 pelo governo do Rio em
São Pedro da Aldeia, em conjunto com as empresas Osafi e Ecometano, vai
transformar em gás natural cerca de 600 toneladas de lixo produzidas
diariamente por oito municípios da Região dos Lagos, que formam o consórcio que
construiu o aterro sanitário. São eles: São Pedro da Aldeia, Búzios, Iguaba
Grande, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Silva Jardim e Araruama.
O projeto recebeu investimento de R$ 18 milhões.
A usina ainda não
está ligada à rede da Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro (CEG-Rio), e,
até que o gasoduto seja construído, o biogás produzido no local será comprimido
e entregue a um consumidor industrial. Também nesta fase inicial, o gás obtido
vai abastecer os caminhões que fazem o recolhimento do lixo e os veículos da
própria companhia, que funcionarão com gás natural veicular (GNV).
“Depois, quando o
gasoduto estiver pronto – são quatro quilômetros, que devem ficar prontos entre
março e abril de 2015 – este gás vai ser misturado com gás da CEG-Rio”,
adiantou a coordenadora do Programa Rio Capital da Energia, Maria Paula
Martins. A distribuição do produto aos consumidores será feita sem custos
adicionais, segundo ela. “O consumidor não vai distinguir que está consumindo
uma mistura [de gás natural e biogás], nem tem mudança no preço”. De início, a
produção diária será de 6 mil metros cúbicos de gás e, em oito anos, deve
chegar a 20 mil metros cúbicos, com produção estimada de 5 milhões de metros
cúbicos de biogás purificado por ano.
Maria Paula lembrou
os benefícios ao meio ambiente e disse que a usina vai evitar o lançamento na
atmosfera de cerca de 470 mil toneladas de dióxido de carbono até 2020 e poderá
gerar créditos de carbono, que serão emitidos pela Organização das Nações
Unidas (ONU). “Tem um aproveitamento nobre. O setor energético é caro, e a
gente acaba usando [o lixo] de forma produtiva para a empresa”, avaliou.
De acordo com o
pesquisador do Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciano
Basto, o Brasil economizaria cerca de R$ 32 bilhões por ano se reaproveitasse
todo o lixo produzido. Se a conta incluir os resíduos da pecuária confinada e
da agricultura, a economia ultrapassaria R$ 100 bilhões anuais.
O tratamento e
destinação adequadas dos resíduos também resolvem questões sanitárias. O gás
que seria naturalmente produzido e iria poluir a atmosfera é armazenado para
aproveitamento energético. Na forma de gás, como produzido na Usina de
Tratamento de Biogás do Aterro Dois Arcos, a utilização é bastante flexível,
segundo Basto. “Pode servir para geração elétrica no local ou fora,
transportado por caminhões; para fins veiculares; e até para injeção na
tubulação de gás que distribui pelo estado. Aí, pode ser usado para comércio,
indústria, residência”, listou.
Na avaliação do
pesquisador da Coppe-UFRJ, o caminho economicamente viável e ambientalmente
mais adequado “é pensar na substituição de combustível veicular, porque o
Brasil é importador de diesel e gasolina, que podem ser substituídos por
biometano”. De acordo com Batso, este gás tratado é competitivo do ponto de
vista financeiro na comparação com combustíveis líquidos. “Para a balança
comercial do país, pode ser muito interessante e mais vantajoso esse caminho”,
disse à Agência Brasil. O combate ao desperdício, por meio da substituição de
combustíveis importados, seria um ganho de produtividade imediato, segundo o
pesquisador.
Apesar das vantagens
dos aterros, Basto destacou que, como os resíduos sólidos são um problema que a
sociedade tem que resolver com urgência, é preciso buscar novas tecnologias de
tratamento para substituição dos aterros, que são difíceis de licenciar. A
partir daí, segundo o pesquisador, poderá haver sistemas de biodigestão que
comecem tratando o lixo, mas sirvam também para os resíduos da pecuária
confinada e da agricultura. “Isso se caracteriza como um mercado gigantesco no
Brasil, que sempre continuará a ser produtor e exportador de produtos
agropecuários”, avaliou. (ecodebate)
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