Estudo aponta viabilidade de usinas de cereais para produção
de etanol
A tecnologia para a instalação das usinas conhecida, mas há
dificuldades em relação ao financiamento e marco regulatório, além do mercado
competitivo.
Mato Grosso produz atualmente 15,4 milhões de toneladas de milho e, em
menos de dez anos, deverá chegar a 34,9 milhões de toneladas. Porém, mesmo com
o consumo interno e a exportação, ainda há excedente que poderia ser utilizado
para a produção de etanol. A viabilidade das usinas de etanol de cereais foi
discutida em reunião na Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato
Grosso (Aprosoja-MT) no início de junho.
O estudo “Oportunidades na cadeia de processamento de cereais para
produção de proteínas e biocombustível – Uma avaliação das oportunidades do
Centro-Oeste do Brasil” foi produzido pela Céleres Consultoria a pedido da
associação. Segundo o diretor da Céleres, Ricardo Giannini, não há empecilhos
em relação à tecnologia, que já é bem conhecida dos brasileiros. “O que
precisamos trabalhar é o acesso ao financiamento para a construção ou ampliação
das usinas, e o marco regulatório para a produção”, explicou.
Por enquanto, o governo federal não informou se haverá uma linha de
financiamento diferenciada por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). “Atualmente, a taxa de juros é alta, girando por
volta de 10%, e é indexada em dólar”, explicou Giannini. Em relação ao marco
regulatório, o que existe são regras para a produção de etanol a base de cana
de açúcar. “Não sabemos se a legislação continuará a mesma para a produção de
etanol de cereais”, disse.
Tomando como exemplo uma usina full (que produz etanol somente a partir
de cereais), com o processamento de mil toneladas de milho por dia seriam
produzidos 130 mil m3 de etanol por ano, e 80 mil m3 de
DDG – farelo proteico originado do cereal, muito utilizado para alimentação
animal. Isso sem contar com a geração de CO2, outra oportunidade de
negócio. Nos cálculos feitos no estudo, com a situação atual da legislação
tributária para etanol, o investimento de US$ 69 milhões na construção da usina
teria retorno em 66 meses, contando com a construção. O lucro líquido seria de
10% e a taxa de retorno, por volta de 25%.
Porém, o problema do etanol seria quase o mesmo do milho: a dificuldade
para vender o produto. “Não é simples entrar no mercado de combustíveis”,
pontua o gerente de Planejamento da Aprosoja-MT, Cid Sanches. De acordo com o
conselheiro consultivo da entidade, Glauber Silveira, Mato Grosso produz mais
de 1 bilhão de litros de etanol, dos quais 60% são consumidos no estado e 40%
são vendidos para o norte do Brasil e também para São Paulo.
Silveira acredita que o mercado está saturado e é preciso incentivar o
consumo de etanol. “Para termos um aumento no consumo de etanol, precisamos
aumentar a diferença entre o preço do etanol e o da gasolina. Mas podemos pensar
não apenas no aumento do preço da gasolina, mas também na redução do o preço do
etanol”, comenta. Glauber acredita que, com a aptidão de Mato Grosso em
produzir milho e cana de açúcar (e consequentemente produzir etanol nas usinas
flex), os consumidores poderiam utilizar somente este combustível, pagando
entre R$ 1,90 a R$ 2,00 o litro.
Giannini reforça ainda que mesmo com investimentos em usinas flex e
full, haverá milho suficiente para abastecer o mercado da cadeia de carnes.
“Existe a produção de farelo que abastece esta cadeia e, com a usina, há
potencial de desenvolvimento das regiões por atrair outros negócios”, reforçou
o diretor da Céleres. (noticiasagricolas)
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