Etanol Americano

Etanol Americano: Compromissos e a "desonestidade flagrante" na ciranda do milho

A cada dia que passa a tarifa para importação de etanol e os gordos subsídios para o biocombustível de milho estão mais próximos de expirarem nos EUA. Mas será que realmente vamos presenciar o fim desta subvenção e a queda da barreira ao mercado americano? Robert Rapier, executivo da área de bionergias de alta reputação e reconhecimento internacional. Rapier classificou a atitude da Renewable Fuels Association (RFA), a associação do etanol americana favorável aos subsídios, como "desonestidade flagrante".

Contrariamente ao que o Valor Econômico anunciou sob o título "SAI, NOS EUA, ACORDO PARA PRORROGAR APOIO A ETANOL", várias fontes qualificadas, da Flórida ao Havaí, dizem que a disputa ainda não terminou e que não há indicação concreta de que Barack Obama teria aceito qualquer proposta com os republicanos. Os vídeos das declarações de imprensa recentes da Casa Branca também não fazem alguma menção direta a algum tipo de posicionamento neste sentido.

Paternalismo exagerado

Basicamente existem 3 maneiras para um governo proteger um produto: Estabelecer barreiras de importação, criar uma subsídio e aprovar leis que determinem que um produto seja obrigatoriamente consumido. O etanol americano goza todos estes benefícios sem exceção.

Segundo o grupo de estudos ambientais "Envrionment Working Group" (EWG), os U$6 bilhões por ano representam 75% de toda a verba para o fomento de energias renováveis nos Estados Unidos. Incluindo a energia eólica, solar e outros projetos.  E destes U$6 bilhões, 71% são gastos em apenas 9 estados produtores de milho. O estado de Iowa, na tabela do EWG, é o campeão com 18% dos recursos ou o equivalente a U$1,16 bilhão por ano.

Etanol de milho vs. alimentos

Enquanto isso, outros setores do agronegócio americano como os pecuaristas ou os avicultores sofrem as consequências das rações cada vez mais caras. Segundo dados publicados, os custos para manutenção de bovinos elevaram-se em U$900 por ano por cabeça devido às altas do milho tornando a sobrevivência impossível para muito fazendeiros menores.

Inusitadamente, a luta pelo fim dos subsídios congrega republicanos e democratas, ONGs e ambientalistas, antes antagônicos, num propósito comum. O lobby do etanol concentra-se no meio-oeste e os protestos para que a subvenção termine vão de costa a costa. Este fato é demonstrado pela carta recentemente dirigida ao congresso assinada por 17 senadores, entre democratas e republicanos, e endossada por mais de 50 associações. "O governo federal entrará em 2011 com um déficit projetado de U$1,14 trilhão e ainda há quem insista no congresso em subsídios redundantes", declarou recentemente Geoff Moody, diretor da Associação Nacional dos Contribuintes Tributários.

As meias-verdades da argumentação a favor

Robert Rapier investiga a argumentação da RFA e expões várias contradições nos estudos financiados pela entidade. O primeiro deles é em relação ao desemprego. Segundo a RFA, mais de 118.000 trabalhadores da indústria americana ficariam desocupados caso os subsídios deixem de existir em 2011. Isto significa mais de U$50.000 por trabalhador enquanto o salário médio gira em torno de U$37.500 por ano.

A afirmação da RFA sobre a ameaça de desemprego, diz Rapier, "é absurda e pelo erro na matemática vê-se a tentativa de exagero dos consultores contratados por eles". Estudos independentes estimam que pode haver desemprego, mas isto não deve ultrapassar mais que 1000 postos de trabalho. “Para o governo seria muito mais barato amparar e recolocar este contingente”.

A RFA confunde números e não hesita em propagar falácias contra o Brasil num comportamento onde os fins justificam os meios, não importa como. A entidade afirma que o subsídio é vital diante dos subsídios de U$312 bilhões para a indústria do petróleo sem revelar que esta é a soma de todos os subsídios no mundo a todos os combustíveis fósseis - carvão, gás e etc.

Diante dos recentes dados onde foi demonstrada a redução do desmatamento no Brasil a organização perdeu outra de suas argumentações favoritas. O representante da RFA chegou a chamar Joel Velasco de mentiroso pelo Twitter e usa, sem cerimônias, uma demagogia grosseira.

Confrontado com notícias do Financial Times, CNN e Bloomberg onde é questionada a exportação de etanol destinado ao mercado interno e subsidiado com dinheiro dos contribuintes, o chefe da entidade não foi capaz de negar a alegação afirmando que o FT é "notavelmente exagerado". O salto das exportações, de 40 milhões de galões em 2006 para 140 milhões de galões em 2007, fez muita gente pensar dentro e fora dos EUA.

A previsão de várias fontes de renome nos EUA é que se acabassem as regalias hoje, as indústrias sofreriam do milho e do etanol um solavanco, mas os preços não despencariam. Em compensação os pecuaristas e muitos outros grupos poderiam dar um suspiro de alívio.

Pacotes e "compromissos"

O último pacote de medidas que previa a criação de um "compromisso" com a redução dos subsídios de U$0,45 para U$0,36 por galão e o prolongamento da barreira alfandegária por mais um ano foi derrubado pelo Senado.  Depois das eleições em Novembro, o congresso americano foi apelidado de "o pato manco" pela indefinição deste período de transição entre os representantes que deixam os cargos e os que assumiram os mandatos em Janeiro.

Mas os integrantes do congresso ainda estão no poder e nas próximas 3 semanas uma decisão será tomada. Na pior das hipóteses para os cidadãos americanos serão aprovadas medidas contrárias à lógica da economia, porém favoráveis do lobby do etanol.

Caso os subsídios acabassem hoje a previsão é de uma ligeira queda nos preços do milho. Os preços do etanol também devem cair ligeiramente barateando o combustível para o motorista americano. Mas, contrariamente à técnica a da RFA de propagar a insegurança, o etanol nos EUA tem seus consumo assegurado por lei em taxas crescentes.

A RFA não poupa meios para conseguir a aprovação do que a Forbes chamou de "O Subsidio mais Perdulário". Esta opinião foi apoiada nos editoriais de mais de 70 jornais, entre estes vários editoriais do Wall Street Journal. No universo imprevisível da política pode até ser que a razão prevaleça no final. A situação pede um otimismo cauteloso. (noticiasagricolas)