terça-feira, 14 de junho de 2011

Em defesa da energia nuclear

Publicação importante diz que há exageros
Mark Lynas é um conhecido ativista inglês no cenário do jornalismo ambiental. Em artigo na New Statesman, ele diz que o abandono da energia nuclear é um passo para um aquecimento global catastrófico. É importante manter a perspectiva em meio a uma crise, mas é isto que o terremoto japonês, o tsunami e os acidentes nucleares resultantes exigem, ele afirma.
“Não há dúvida que as explosões e os vazamentos radioativos na usina Fukushima Daiichi representam o pior desastre nuclear desde a explosão da usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986”. No entanto, isto não significa que a resposta correta é pânico. No momento, o resultado mais provável de longo prazo é que nem o público, nem os trabalhadores da usina irão morrer ou ser afetados pelas doses de radiação que receberam.
“Pode-se argumentar que, no contexto de um tsunami que matou 10 mil pessoas ou mais, o foco predominante na crise de Fukushima é desproporcional”. Mas o governo japonês está numa sinuca: se o primeiro-ministro Naoto Kan tentar acalmar o medo público, pode ser acusado de conspirar para acobertar coisas. Mas, se disser para as pessoas ficaram em casa, não beberem água de torneira ou serem evacuadas de uma área de 30 km no entorno da usina, o governo arrisca provocar pânico, numa hora em que ainda se busca sobreviventes e que aqueles que perderam suas casas precisam ser ajudados e alimentados.
“Ainda é cedo demais para fazer qualquer avaliação significativa do efeito de longo prazo do acidente nuclear”. Neste momento, a situação está sob controle e pode deteriorar. Mas mesmo um derretimento total seria muito menos letal que Chernobyl, onde um reator ainda estava operando quando explodiu, espalhando fogo e poeira radioativa sobre grandes áreas. Além disso, na época, o desenho das usinas soviéticas tinham falhas.
"Se a crise no Japão levar a uma mudança de grande escala nas atitudes contra a energia nuclear, o resultado será a piora do impacto humano sobre o ambiente. O caso japonês é um exemplo de que consertar o aquecimento global sem o aumento do uso da energia nuclear é quase impossível: o país têm poucos recursos de energia solar ou eólico e é fortemente dependente de combustíveis fósseis importados. As energias nuclear e de carvão respondem cada uma por cerca de 25% das necessidades japonesas de energia.
“Qualquer diminuição da energia nuclear no curto ou médio prazo levará a um aumento do uso de carvão e gás, maiores emissões de gases estufa e a intensificação da colaboração com o aquecimento global”.
É importante ter em mentes que qualquer fonte de energia comporta riscos. O desastre da BP no Golfo do México no ano passado matou 11 trabalhadores e poluiu uma grande área no oceano e na costa, mas o governo americano ainda está liberando áreas para a perfuração offshore. Infraestruturas de gás natural ocasionalmente explodem, por vezes matando civis (como no caso mais recente da Itália, quando, em 2009, um trem com gás natural descarrilou e explodiu). Milhares de pessoas morrem por ano em desastres em minas de carvão. As hidroelétricas também são vulneráveis a terremotos e correm o risco de causar tsunamis longe da costa caso transbordem. Turbinas eólicas têm de ser instaladas em zonas de exclusão.
Nada disso deve ser interpretado como argumento para a complacência com a engenharia nuclear. Novos designs de reatores incluem novos elementos de segurança, e sem dúvida graves lições serão aprendidas com os acontecimentos no Japão. É notável que a usina de Fukushima, que tem 40 anos e deveria ter sido fechada, teve sua vida prolongada pela demanda de eletricidade.
A crise nuclear japonesa veio em um momento em que muitos, por conta do aquecimento global, estavam reexaminando sua oposição à energia nuclear civil. Os ativistas contra ela devem estar se sentindo vingados, mas têm de tomar cuidado com o que esperam: se abandonarmos a energia nuclear vamos nos preparar para um futuro de aquecimento global catastrófico, colocando em risco a sobrevivência da civilização e de grande parte da biosfera do planeta". (planetasustentavel)

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