Biocombustíveis, especulação e catástrofes elevam preço de alimentos
Especialistas não têm dúvida ao apontar as principais vítimas da alta nos preços dos alimentos: as populações pobres dos países em desenvolvimento e emergentes, que gastam até 80% do que ganham para comprar comida.
A diretriz da União Europeia que obriga os países-membros a usar 10% de energias renováveis no setor de transportes até 2020 gerou polêmica não somente entre governo e oposição na Alemanha, mas também entre os próprios motoristas. Eles têm dúvidas se seus carros aceitam a nova mistura de combustível fóssil com ingredientes de base vegetal.
Para as organizações de combate à fome, esse não é nem de longe o maior problema: um maior emprego de combustíveis de base vegetal também pode ter efeito nos preços dos alimentos.
Em setembro de 2010, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) anunciara que o número de pessoas passando fome no mundo caíra para menos de 1 bilhão em setembro de 2010. Ao mesmo tempo, o diretor-geral da FAO, Jaques Diouf, alertava para o aumento dos preços dos alimentos. Ele identificava a variação de preços nas bolsas de valores como um sinal preocupante.
Os biocombustíveis são apontados como causa da elevação do preço dos alimentos no mercado internacional. Mas não são a única.
Catástrofes naturais
Em 2010 havia sinais claros de que uma crise na produção de alimentos se aproximava. As secas na Rússia provocaram a devastação de imensas áreas pelas queimadas. O primeiro-ministro Vladimir Putin chegou a proibir as exportações de grãos. A medida causou impacto em vários países porque a Rússia é um dos principais exportadores de trigo.
No Paquistão, as cheias arruinaram imensas plantações em áreas tidas como “celeiros” do país. Poucos dias depois, os alimentos dispararam, ficando cerca de três a quatro vezes mais caros.
“Uma área do tamanho da Itália ficou embaixo de água. Cinco usinas de energia elétrica e 60% das rodovias foram destruídas. Eu nunca vi as pessoas tão abatidas. E as pessoas aqui já sofriam com a fome e escassez de alimentos mesmo antes das cheias”, diz a diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos, Josette Sheeran.
Especialistas ainda discutem se as duas catástrofes ambientais têm relação com o aquecimento global. Mas não há dúvidas sobre as maiores vítimas: as populações pobres. Seja nos países africanos, seja nos países emergentes como a Índia e a China: o aumento dos preços dos alimentos atinge primeiro aqueles que gastam até 80% de seus ganhos para comprar comida.
A fome e o jogo de interesses
A lei do mercado internacional é simples e dura: oferta e procura determinam os preços dos alimentos. Assim, a equação envolvendo produção de combustível vegetal, investimentos em commodities e catástrofes naturais define o preço dos mantimentos no mundo. Se há promessas de ganho, os investidores procuram o setor de alimentos, de olho nos lucros.
“Temos na verdade trigo suficiente nos silos. Não haveria porque os preços aumentarem. Mas é claro que os investidores têm o interesse de reter o produto para ver se os preços não continuam a subir. Isso encarece mais o produto para os pobres”, diz Ralf Suedhoff, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas.
Como destaca Tobias Reichert, responsável por Comércio Internacional e Alimentação da Germanwatch, a fome está presente onde na verdade os alimentos são plantados. (EcoDebate)
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