quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quem precisa de energia-ameaça nuclear?

É um verdadeiro crime de lesa-pátria admitir que o país precise da construção de usinas nucleares para gerar energia cara e de alto risco
O acidente de Fukushima deveria ser a pá de cal a sepultar projetos de geração nuclear de energia elétrica, não fossem os rumos da civilização guiados pela insensatez.
Do ponto de vista da raridade de tais acidentes, o argumento da segurança na geração dessa energia não se sustenta.
O professor de física da USP José Goldemberg afirma que, desde Chernobyl, inúmeros “incidentes” têm ocorrido e que “a probabilidade de acidentes maiores cresce com a proliferação das usinas”.
O descontrole dos fenômenos climáticos, por conta do aquecimento global, torna impossível garantir a manutenção, em equilíbrio permanente, de uma central nuclear com todo o lixo radioativo sob duvidoso controle, à distância do ambiente.
Como não existe meio viável de descarte de resíduos e como não há garantia segura de isolar o material do ambiente por tanto tempo, até o decaimento da meia-vida dos elementos radioativos, é inconsequente espalhar tais elefantes brancos enquanto se transfere às futuras gerações a responsabilidade da manutenção.
Apesar da raridade das catástrofes com termonucleares, as anomalias e incidentes com as centrais são comuns, provocando duradoura contaminação ambiental, a exemplo do que ocorreu em 2008 com usina nuclear francesa em Avignon, que despejou nos rios da região 30 m3 de líquido com urânio, contaminando até o lençol freático.
O governo proibiu a população da cidade de Tricastin de beber a água desses rios ou de usá-la para irrigação e lacrou poços artesianos.
Analisando a situação, avalia-se a insânia de o governo federal anunciar a implantação de usina às margens do rio São Francisco.
Imagine-se ali um vazamento desse nível, o que não é impossível, já que ocorreu em centrais de diferentes países. A tragédia daí decorrente seria de tal ordem que o recente desastre japonês seria irrelevante, porquanto no mínimo 10 milhões de nordestinos abastecidos pelo rio migrariam, promovendo a maior diáspora do mundo.
O Brasil tem situação privilegiada na geração elétrica barata, não poluente, renovável e sem riscos à população. Temos potencial invejável para gerar 260 mil MW por hidrelétricas, dos quais não mais de 30% foram utilizados; dispomos da cana, da qual produzimos o etanol com tal êxito que, juntamente com o bagaço, valioso subproduto, já participa com 18,2% do total da matriz energética, à frente dos 15,2% da energia hidráulica.
Há ainda uma variada biomassa capaz de suprir a demanda por diesel, em montante sem similar no planeta - dendê, babaçu, mamona, soja etc. Mais: 140 mil MW potenciais de energia eólica, além da energia solar e de marés.
É um verdadeiro crime de lesa-pátria admitir-se que, com a nossa fantástica riqueza de alternativas energéticas, necessitemos da construção de usinas nucleares para gerar energia cara, poluente, não renovável e de alto risco. (EcoDebate)

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