Enquanto relatório da AIEA diz que houve falhas no projeto dos reatores, Tóquio admite despreparo para desastre na central nuclear de Fukushima.
As autoridades do Japão afirmaram ontem que a quantidade de radiação que vazou da usina nuclear de Fukushima, danificada pelo terremoto seguido de tsunami que atingiu o país em 11 de março, foi o dobro do que a divulgada anteriormente. Num relatório que será entregue à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Tóquio admite que estava "despreparado" para enfrentar um desastre nuclear.
Segundo a agência reguladora do setor no Japão, a radiação emitida por Fukushima na semana seguinte ao tsunami é sete vezes maior do que a produzida pelo acidente na usina nuclear de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979. Mas a emissão de partículas no território japonês - estimada em 770 mil terabecquerels - foi equivalente a apenas 15% da descarga radioativa ocorrida no desastre de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Quase três meses após o desastre natural que matou cerca de 24 mil pessoas no Japão, a usina de Fukushima continua emitindo radiação. Mais de 80 mil moradores do entorno da central nuclear, num raio de 20 quilômetros, deixaram suas residências. O porta-voz do governo, Yukio Edano, afirmou que mais retiradas estão sendo consideradas, pois monitoramentos indicam que o relevo japonês, aliado com o vento, está favorecendo a elevação dos níveis de contaminação em outras regiões.
"À luz das lições aprendidas no acidente, o Japão reconheceu que uma revisão fundamental dos preparativos e capacidade de resposta relativos à segurança nuclear é inevitável", afirmou o relatório de 750 páginas à AIEA. O documento afirma que, provavelmente, o derretimento de combustível nuclear em três reatores de Fukushima rompeu os vasos de contenção internos dos equipamentos - não ocorreu apenas nos núcleos. Segundo o estudo, o derretimento no reator 1 começou horas antes do que o estimado anteriormente.
Falhas
O relatório indica que falhas de projeto nos reatores, modelo Mark-1, da General Eletric (GE), causaram vazamentos de água radioativa e dificultaram o reparo.
A arquitetura de Fukushima, que agrupa em pares seus seis reatores, também dificultou a resposta ao incidente. Problemas que facilitaram o vazamento radioativo foram encontrados nos equipamentos de ventilação da central.
"Para que seja reconstruída a confiança no Japão, o mais importante é dar informações transparentes à comunidade internacional sobre esse acidente", disse o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan. (OESP)
CRONOLOGIA
11 de março
As autoridades situam no nível 4, em uma escala que vai até 7, o perigo causado pela radiação de Fukushima
16 de março
Tóquio afirma que a contaminação atingiu o nível 6
12 de abril
O governo admite que o nível 7 de contaminação - o mesmo do acidente de Chernobyl - atingiu a região de Fukushima (OESP)
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