Usina de Fukushima, no Japão: após acidente, Alemanha, Suíça e China são contra avanço da energia nuclear
De olho na tragédia do Japão, e preocupados com seu próprio quintal, estados brasileiros que estavam na disputa pelas novas usinas nucleares já estão com um pé atrás em relação a esta matriz energética. Bahia e Sergipe já anunciaram uma posição oficial, já em Pernambuco e Alagoas a questão é alvo de posições controversas.
"Depois deste acidente, todos terão que repensar esta questão. Quem já tem usina vai procurar outras alternativas, quem não tem vai resistir muito ou enfrentar uma aversão muito grande da população e dos ambientalistas", afirmou à agência A Tarde o vice-governador da Bahia, Otto de Alencar, posicionando-se sobre a questão. No ano passado, o governador Jaques Wagner chegou a assinar protocolo de intenções para que o estado fosse uma das três unidades da Federação a receber o investimento, que estava orçado em cerca de 13 bilhões, informou a agência baiana.
Em Sergipe, o governador Marcelo Déda divulgou sua posição em nota, afirmando: "Muito embora seja quase impossível se repetir no Brasil os fenômenos naturais (terremotos e tsunamis) que provocaram os problemas nas usinas nucleares do Japão, não resta dúvida que esses acidentes deflagrarão uma ampla discussão sobre a segurança das instalações nucleares e vão aumentar a desconfiança das autoridades, populações e movimentos ambientalistas a respeito do uso da energia nuclear. Creio que o Brasil terá também que reavaliar a segurança das nossas usinas e rediscutir o seu programa de expansão nuclear com novas instalações. A pretensão do Estado de Sergipe em disputar a instalação de uma usina no nosso território pressupõe garantias plenas de segurança das instalações. Sem essas garantias, não há como defender tais empreendimentos".
Em Alagoas, uma das figuras políticas mais conhecidas do Estado, a vereadora Heloísa Helena posicionou-se completamente contra o empreendimento. "Qualquer pessoa de bom senso sabe que existem outros componentes para se gerar energia, com um menor custo", disse.
Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB) procurou tranquilizar a população de Itacuruba sobre a possível instalação de uma usina nuclear no município. "Existem estudos, mas não existe nada definitivo, nem recursos no PPA, nem decisão política da presidente Dilma. Há estudos para a construção de mais 12 usinas nucleares no Brasil, sendo seis no Nordeste, mas o assunto não está na pauta. O programa nuclear é muito maior que uma usina nuclear e não se pode estigmatizá-lo. O programa nuclear brasileiro é bem mais amplo e beneficia a medicina, propicia curas como a do câncer e até mesmo ajuda a tratar pragas de lavouras", lembrou, segundo informou o jornal Diário de Pernambuco. Não há posição oficial, e os senadores do estado possuem opiniões divididas.
Até mesmo o Piauí, que tem sido pouco cotado para receber uma das usinas, pronunciou-se contra. O governador Wilson Martins afirmou na última quinta-feira que vai rever o pedido de instalação da usina em seu estado.
Opinião do especialista
Caminho de expansão é sem volta
O acidente ocorrido na usina de Fukushima, no Japão, em consequência do terremoto seguido de um tsunami, não deverá impedir o ciclo de expansão que a indústria nuclear está vivendo no mundo e no Brasil. O caminho da energia nuclear é sem volta. O mundo não pode abdicar do potencial dessa matriz. O que aconteceu no Japão exige, sim, uma atitude de revisão dos países, que podem transmutar a experiência negativa do acidente em melhorias para seus programas nucleares. É o que faz a indústria da aviação, a cada acidente que acontece. É bom lembrar, por exemplo, que, em abril do ano passado, houve uma tragédia ambiental gravíssima: o vazamento de óleo no Golfo do México. Mas nem por isso países como o Brasil deixaram de prospectar petróleo no oceano. O Japão sofreu com dois fenômenos extremamente fortes seguidos, o terremoto e o tsunami. O Brasil não está sujeito a isso, mas, ainda assim, usinas nucleares de Angra dos Reis estão preparadas para passar por terremoto de até 6,5 graus na escala Richter e para resistir a ondas de sete metros de altura. Não há motivos, portanto, para que o programa nuclear brasileiro seja afetado pelo acidente no Japão.
Edson Kuramoto
Presid. da Ass. de Energia Nuclear
POLÍTICA ENERGÉTICA
Países cancelam programas previstos
Alemanha, Suíça e China já tomaram sua decisão: são contra o avanço da energia nuclear. No caso do primeiro, a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel afirmou que quer acelerar o abandono da energia nuclear em seu país.
"Vamos usar o período de moratória, que definimos propositalmente para que seja curto e ambicioso, para incentivar e acelerar onde for possível a mudança de política energética, pois queremos chegar à era da energia renovável no menor prazo possível", disse Merkel, com informações da agência Reuters. O governo suíço, por sua vez, anunciou na última segunda-feira a suspensão dos projetos que possuía de reforma das centrais nucleares. A decisão foi comunicada pela ministra da Energia, Doris Leuthard, que ainda pediu à Inspeção Federal de Segurança Nuclear (IFSN) que analise as "causas exatas do acidente no Japão e tire as conclusões sobre a eventual elaboração de novas normas mais rígidas, sobretudo nos aspectos de segurança sísmica e resfriamento", segundo dados divulgados pela agência France Presse.
Suspensão na China
Por último, veio a China, que decidiu suspender a construção de 27 novos reatores para geração de eletricidade. Atualmente, 17% da energia elétrica gerada no mundo é de matriz nuclear. São, no total, 443 reatores, sendo 104, nos Estados Unidos, 58 na França, 55 no Japão e 32 na Rússia. (diariodonordeste)
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