Você os vê despontar em todos os lugares quando viaja nas rodovias da capital para Munique e o Sul, ou para Hannover ou para o Oeste: com o seu zumbido humilde, as pás dos grandes moinhos eólicos rompem o silêncio da zona rural alemã. Em todos os lugares, nas pequenas casas dos ricos bávaros ou nos grandes palácios pré-fabricados ao estilo soviético que o oeste de Berlim herdou do comunismo, você vê os painéis fotovoltaicos.
A energia renovável voa na Alemanha. Não só na Bolsa, em que, nas últimas horas, os títulos da Solarworld, Q-Cells, Nordex ou do banco de energias limpas da Siemens registraram um salto de 20% a 40%. Você a vê por trás de todos os cantos, tornou-se um fator constitutivo do cotidiano. A Alemanha conservadora de Angela Merkel, que diz “na dúvida, somos a favor da segurança” e para por pelo menos três meses sete dos seus 16 reatores, é também a potência economia que, mais do que qualquer outra, se lançou a pensar e projetar estrategicamente o mundo novo da energia.
“A política ecológica é a política do futuro, também para a economia”, explicou o ministro do Ambiente Norbert Roettgen, democrata-cristão como a chanceler. Os dados oficiais do seu gabinete, que nem as empresas nem os “verdes” contestam, falam claramente: a eficiência no uso das matérias-primas na economia alemã aumentou 46,8% entre 1994 e 2009, isto é, no mesmo período em que o PIB crescia 18,4%. Os custos do sistema econômico da Alemanha caíram 100 bilhões de euros. Justamente enquanto, paralelamente, o percentual de energia nuclear produzida caía de 27,3% em 1991 para uma cifra em torno dos 20% (até o fechamento dos sete reatores, decidido nesta terça-feira), e o das renováveis voava no mesmo arco de tempo de 3,2 para 17%. E só de 2004 a 2009 duplicou.
“O desligamento das sete centrais, decidido pelo governo, não deveria produzir contragolpes nem para a economia, nem para o consumidor, nem um aumento de tarifa, nem problemas de produção de eletricidade”, explica Aribert Peters, da União dos Consumidores de Energia: depois da reviravolta de Merkel sobre a energia nuclear, os mercados, segundo ele, apostam em preços estáveis. Talvez tenham as suas razões: não esperem militantismo para o meio ambiente ou desejo de prados floridos na Bolsa de Frankfurt.
Para o sistema da Alemanha, explicam Dietmar Edler e Marlene O’Sullivan, em um relatório para o instituto econômico DIW, as energias renováveis alternativas tornaram-se um negócio. Assim como com as BMWs e as Mercedes, com os Airbus e os Eurofighters, aqui também o “made in Germany” é o melhor no mercado. De 2007 a 2009, os investimentos nas energias renováveis passaram de 11,4 para 20,4 bilhões de euros. O faturamento do setor, incluindo as exportações, está em 21 bilhões de euros. Portanto, em três anos, cresceu quase 40%. Também durante o 2009 da grande crise econômica e financeira internacional.
Fundos públicos e desagravos fiscais ajudam o crescimento. Uma produção de energia elétrica confiada em 100% nas renováveis é possível até 2050, diz o ministério de Roettgen, e o governo colocou o objetivo de chegar a 80%. “A maioria da centro-direita deveria fazer mais e não só fechar centrais antes de eleições difíceis”, nota Baerbel Hohn, uma das mais ouvidas líderes dos “verdes”. Mas esconde apenas a satisfação sobre como a centro-direita e o establishment estão assumindo os valores constitutivos do movimento ecológico.
Consenso transversal não declarado, em nome dos números: enquanto os reatores nucleares alemães dão trabalho, segundo Gruenen, a cerca de 30 mil pessoas, os ocupados no setor das renováveis aumentou de 277 mil em 2007 aos cerca de 340 mil atuais. E continuarão a crescer longamente, antes que o setor se torne saturado como a siderurgia automobilística. “O adeus à energia nuclear poderá ser um processo longo – discutimos abertamente se serão precisos 10 ou 20 anos ou mais – mas é possível”, pensa o líder dos “verdes” europeus, Daniel Cohn-Bendit. (EcoDebate)
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