quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fukushima e a crise financeira

Fukushima e crise financeira mostram apostas absurdas
As consequências do terremoto japonês, em especial a crise em curso na usina nuclear de Fukushima, ressoaram de forma sombria nos entre observadores da recente crise financeiro. Os dois eventos oferecem duras lições sobre riscos - e sobre a incompetência de mercados e sociedades para lidar com eles.
Em certo sentido, evidentemente, não há comparação entre a tragédia do terremoto - que deixou mais de 25 mil mortos ou desaparecidos - e a crise financeira, à qual não se pode atribuir um sofrimento físico agudo similar. Mas, quanto ao derretimento nuclear em Fukushima, há um tema comum nos dois eventos.
Especialistas do setor nuclear e do financeiro nos garantiram que as novas tecnologias haviam praticamente eliminado riscos de catástrofes. Os fatos provaram o contrário: não só os riscos existiam, mas suas consequências foram tão imensas que facilmente ofuscaram todos os supostos benefícios que os líderes setoriais prometeram.
Antes da crise financeira, gurus econômicos dos EUA - do presidente do Fed (banco central americano) aos titãs das finanças - alardeavam que havíamos aprendido a controlar o risco. Instrumentos financeiros "inovadores", como derivativos e "credit default swaps" permitiam a distribuição do risco por toda a economia. Hoje sabemos que eles iludiram não só o restante da sociedade, mas a si mesmos.
Verificou-se que esses magos das finanças não compreendiam as complexidades do risco, para não falar dos perigos colocados por "distribuições fat-tail" - um termo estatístico para eventos raros com consequências enormes, às vezes chamados de "cisnes negros". Eventos que supostamente deveriam ocorrer uma vez em um século - ou mesmo uma vez no tempo de vida do universo - pareceram ocorrer a cada dez anos.
Pior, não só a frequência desses eventos foi enormemente subestimada; o mesmo ocorreu com os danos astronômicos que causariam - às vezes como os derretimentos que continuam na cola da indústria nuclear.
As pesquisas em economia e psicologia nos ajudam a compreender por que fazemos um serviço tão ruim no tratamento desses riscos. Temos pouca base empírica para julgar eventos raros, por isso é difícil chegar a boas estimativas. Nessas circunstâncias, mais do que pensamento positivo pode entrar no jogo: poderíamos ter poucos incentivos para pensar a fundo no problema. Ao contrário, quando outros arcarão com os custos dos erros, os incentivos favorecem o autoengano. Um sistema que socializa prejuízos e privatiza ganhos está fadado a lidar mal com o risco.
Isso nos leva à pergunta seguinte: há outros eventos "cisnes negros" à espreita? Infelizmente, alguns dos riscos realmente grandes que enfrentamos provavelmente não são nem sequer raros. A boa notícia é que esses riscos podem ser controlados com pouco ou nenhum custo. A má notícia é que fazer isso provoca forte oposição política - pois há pessoas que lucram com o status quo.
Vimos dois dos grandes riscos nos últimos anos, mas pouco fizemos para colocá-los sob controle. Para alguns, a maneira como a última crise foi administrada pode ter aumentado o risco de um derretimento financeiro futuro.
Os bancos "grandes demais para quebrar", e os mercados nos quais eles participam, agora sabem que podem esperar ser salvos se ficarem encrencados. Em consequência desse "risco moral", esses bancos podem captar recursos em termos favoráveis, o que lhes dá uma vantagem competitiva com base, não em um desempenho superior, mas na força política.
Assim, enquanto a Alemanha desligou seus reatores nucleares mais antigos, nos EUA e alhures até usinas que usaram o mesmo projeto falho de Fukushima continuam operando. A própria existência da indústria nuclear depende de subsídios públicos ocultos - os custos suportados pela sociedade em casos de desastre nuclear, bem como os custos da ainda mal resolvida eliminação do lixo nuclear.
Mas chega de capitalismo sem peias! Para o planeta, há mais um risco que, como os outros dois, é quase uma certeza: aquecimento global e mudança climática. Se existissem outros planetas para os quais pudéssemos mudar, alguém poderia argumentar que esse é um risco que vale a pena correr. Mas não existem.
No fim das contas, os que apostam em Las Vegas perdem mais do que ganham. Como sociedade, estamos apostando - com nossos grandes bancos, com nossas instalações de energia nuclear, com nosso planeta. Como em Las Vegas, os poucos sortudos - os banqueiros e donos das empresas de energia - podem se safar com uma fortuna. Mas na média e quase certamente, nós enquanto sociedade, como todos os apostadores, perderemos. Infelizmente, essa é uma lição do desastre no Japão que continuamos a ignorar para nosso risco. (OESP)

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