sábado, 16 de abril de 2011

Buscas de pertences em ''cidades fantasmas''

Famílias buscam pertences em ''cidades fantasmas''
Japoneses voltam à área de restrição perto de usina nuclear para reaver documentos e objetos abandonados na fuga.
Proteção
Policiais usam trajes contra radiação nas buscas
Quando a família Satoh teve de fugir de sua casa na cidade de Odaka em meados de março, eles não puderam levar nada. Soldados e ônibus do governo vieram buscá-los. A casa tinha sobrevivido durante séculos, suportando terremotos e o recente tsunami. Mas, após a explosão do reator de Fukushima, a família Satoh foi obrigada a sair.
Quatro semanas depois da tragédia, eles retornaram secretamente a Odaka, cidade localizada dentro dos 20km da zona de restrição em torno da usina, para encher o porta-malas. Satoh empilhou cobertores e embrulhou o televisor. Sayoko reuniu documentos, lençóis e a melhor panela de arroz da família.
Semáforos ainda funcionam e são o último sinal de vida nesta cidade morta. Havia 13.400 habitantes em Odaka antes do desastre. Atualmente, o lugar é uma cidade fantasma, tão silenciosa que é possível ouvir o bater das asas dos pássaros.
Milhares de japoneses que viviam na zona de risco próxima aos reatores danificados estão na mesma situação. Muitos tiveram subitamente de abrir mão de suas profissões. Outros puderam ficar em suas casas, mas trancados.
A zona de restrição de 20km é o legado de uma tecnologia incontrolável. Enquanto potência econômica faminta por energia, o Japão apostou muito no sonho de uma fonte infinita de eletricidade e agora as pessoas afetadas pelo desastre são abandonadas à própria sorte diante das perigosas consequências.
As casas de madeira de Odaka são construídas perto umas das outras, e algumas estão agora apoiadas nas edificações vizinhas. Outras desabaram com o terremoto, mas em certas casas as paredes simplesmente cederam. Pés de repolho e vasos com plantas ainda estão dispostos na frente do supermercado. Alguns moradores fecharam as cortinas antes de partir, mas a maioria trancou apenas a porta da frente. Um táxi abandonado está estacionado na frente da estação de trem no fim da rua principal.
Um edifício que abrigava trabalhadores da construção civil transmite a impressão de que seus habitantes acabam de partir para o serviço. Uma garrafa de molho shoyu, palitos, saleiros e recipientes de pimenta estão organizados sobre cada mesa do refeitório. Há um esfregão apoiado contra a parede. O relógio acima do micro-ondas parou exatamente no momento em que o tsunami interrompeu o fornecimento de energia. Parte das águas da onda gigante chegou a Odaka. Os bairros são agora uma terra arrasada e lamacenta, cheia de destroços, madeira e carros que a água arrastou e depositou em pilhas retorcidas.
Cães perdidos estão por toda parte. São tímidos, como se precisassem se reacostumar à presença das pessoas, e famintos.
O criador de cavalos Shinjiro Tanaka deixa periodicamente o abrigo de emergência onde vive para alimentar os cavalos que abandonou na fuga da cidade. "Parte meu coração vê-los com tanta fome", diz Tanaka. (OESP)

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