O setor elétrico brasileiro pode voltar a ter usinas com
reservatórios de regularização, que armazenam a água para garantir o
fornecimento de energia ao sistema interligado brasileiro.
Trata-se de uma forma de energia limpa. Desde o início da
década passada, diante da forte campanha de ecologistas, passaram a ser
construídas apenas as usinas a fio d’água, ou seja, usinas com reservatórios
pequenos, sem capacidade de armazenamento, para reduzir os impactos ambientais.
Só que segundo os especialistas do segmento, a medida, além de elevar o preço
da tarifa aos consumidores aumenta o risco de apagões além de provocar um
aumento das emissões de gás carbônico (CO2), uma vez que operador se
vê na contingência de despachar as usinas térmicas.
“A elevação nas emissões de poluentes acontece porque, de
maio a outubro, meses com menos chuvas, as hidrelétricas, devido à menor vazão
dos rios, se veem com baixa capacidade de geração e são obrigadas a reduzir a
geração de energia. Como não há água suficiente armazenada nos reservatórios, o
sistema tem que acionar as usinas térmicas, muito mais caras e com maior
impacto à natureza”, explica Geraldo Lucio Tiago Filho, professor titular e
diretor do instituto de recursos naturais da Unifei (Universidade Federal de
Itajubá).
Dados da consultoria PSR revelam que, até o fim de 2020, com
a entrada em operação das usinas térmicas, que usam energia mais poluente, o
volume das emissões de CO2 e de outros gases que provocam o
aquecimento da atmosfera vai mais que triplicar em relação ao início desta
década. Passará de 22 toneladas para 72 toneladas de CO2 para cada
gigawatt por hora (GWh) gerado. A PSR estima que, a cada 1% de perda de
capacidade dos reservatórios no país, há um aumento de 23% nas emissões.
Esse e outros assuntos polêmicos serão discutidos durante a
VIII Conferência de Centrais Hidrelétricas – Mercado e Meio Ambiente, que
acontecerá nos dias 21 e 22 de agosto na Fecomércio.
A opinião de Tiago também é compartilhada por Charles Lenzi,
presidente executivo da Abragel – Associação Brasileira de Energia Limpa, uma
das corealizadoras do evento. “É extremamente relevante a volta dos
reservatórios que, historicamente viabilizaram a geração de energia mais limpa
no Brasil. Em 2001, quando houve o racionamento, foram os reservatórios que
salvaram o Brasil. Na ocasião passamos a ficar com o equivalente a quatro anos
de capacidade de energia armazenada, hoje não chega a um ano. Deixamos de
construir os reservatórios e paga-se um preço por isso, com sérios impactos na
confiabilidade da geração. Se não tivermos reservatórios de acumulação a saída
será investir em térmicas e a sociedade precisa entender as consequências de
uma ou outra escolha”.
Lenzi reforça que nenhum outro país no mundo tem o potencial
energético do Brasil. “As fontes alternativas vão representar 16% da matriz
elétrica em 2020 de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE. Só
de PCHs, vislumbra-se um potencial de mais de 20 MW em projetos e estudos já
desenvolvidos. O de Eólica e Biomassa é imenso e ainda teremos a Solar nos
próximos anos. Assim, imaginar um cenário com 30% de fontes alternativas não é
algo muito difícil. Acredito que até 2030 isso será possível”, afirma. (ambienteenergia)
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