domingo, 12 de agosto de 2012

Questão-chave

A energia de fontes limpas e renováveis está na raiz da chamada economia verde e o Brasil está muito à frente dos demais países nesse quesito. Mas, se ganha em sustentabilidade, o país vem perdendo em competitividade. A energia elétrica custa mais caro no Brasil do que nos países ricos e mesmo nos emergentes.
A conclusão é de um estudo encomendado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e divulgado durante o seminário Energias Renováveis para o Desenvolvimento Sustentável, realizado terça-feira de manhã no Forte de Copacabana, dentro da programação Humanidade 2012, evento paralelo à Rio+20 promovido pela Firjan e Fiesp, as federações de indústrias de São Paulo.
Com 48% de sua matriz energética apoiada em fontes limpas (principalmente hidrelétrica), o país lidera os esforços em direção à energia renovável e acessível para a maioria da população brasileira e tem sabido aproveitar as oportunidades criadas pelas áreas de geração e cogeração.
Intitulado "Análise da Qualidade da Matriz Elétrica Mundial", o estudo mostrou que, em um ranking que lista os 71 principais países, o Brasil é o 5º melhor posicionado depois da Suíça, Suécia, Noruega e Islândia. Para cada gigawatt gerado, o Brasil emite 60,6 toneladas de gás carbônico (CO2) equivalente, quase dez vezes menos do que a média mundial, de 504 toneladas aproximadamente.
O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, alertou, no seminário, para a diferença de custo em comparação com outros países. Os brasileiros pagam R$ 329 por Megawatt por hora (MW/h) enquanto o preço médio mundial é R$ 215 e entre os demais países do grupo conhecido como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) é R$ 140. Vieira explicou que metade do preço que o brasileiro paga pela energia é composta por impostos federais, estaduais e municipais, e mais encargos de várias categorias (manutenção do sistema, uso da rede de transmissão, uso de combustível etc.).
"Mas, mesmo sem os impostos, o custo líquido de R$ 165 por MW/h ainda é o mais alto entre os BRICs" (na mesma base de comparação), disse o presidente da Firjan. O custo da energia é chave para a indústria nacional por ter um peso relevante nos custos totais de produção, levando à perda de vantagens competitivas tanto frente a produtos importados quanto nas exportações. Além disso, os industriais estão em campanha para que o governo reveja as condições de renovação das concessões de energia elétrica nos contratos que estão próximos do vencimento.
Em resposta à crítica, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, disse que o custo da energia no Brasil incorpora uma necessidade de investimentos constante, além de programas de redução de desigualdades regionais e sociais. "Temos de lembrar que vamos ter de investir em eficiência energética, linhas de transmissão e sistemas; então, é um setor que tem uma característica de intensidade de capital bastante forte", afirmou o secretário.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a economia verde é baseada na garantia de bem estar da humanidade com igualdade social e redução significativa de riscos ambientais e escassez.
"A energia verde é parte central da economia verde", definiu Philippe Benoit, diretor da Divisão de Meio Ambiente e Eficiência Energética da Agência Internacional de Energia (IEA). "Quando pensamos em um mundo em que atividades econômicas têm de ser "verdes", os combustíveis usados também têm de ser verdes", afirmou o especialista.
Kandeh Yumkella, diretor da seção para o desenvolvimento industrial da Organização das Nações Unidas (Onudi), elogiou o fato de que, ao registrar 48% de sua matriz energética associada a fontes limpas e renováveis, o Brasil já ultrapassou, com muita antecedência, as metas da ONU. Em janeiro o Secretário Geral da organização, Ban Ki-moon, anunciou que 2012 seria o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos. São três objetivos a serem atingidos até 2030: garantir acesso universal a serviços de energia moderna, dobrar a taxa de implementação da eficiência energética e dobrar a proporção de energia renovável na matriz energética global dos atuais 15% para 30%.
"Os números (do estudo da Firjan) mostram que, quando a questão da sustentabilidade não era tão discutida, o Brasil fez as escolhas acertadas, investindo em fontes que poluem pouco. Hoje está cada vez mais claro que o Brasil tem de continuar a investir nessas fontes, principalmente em energia hidrelétrica e nuclear que são as mais limpas", analisou Cristiano Prado Barbosa, gerente de competitividade industrial e investimentos da Firjan.
Thelma Krug, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ex-secretária de mudanças climáticas e qualidade ambiental do Ministério do Meio Ambiente, comentou que "o Brasil sabe harmonizar a inclusão social, o meio ambiente e a consideração com os aspectos econômicos". Um exemplo é a cogeração de energia por meio do aproveitamento do bagaço da cana utilizada para produzir o etanol, que é, igualmente uma fonte limpa.
Thelma alertou, porém, para que não se repitam erros do passado na estruturação das fontes de energia renováveis como, por exemplo, o alagamento de parte de florestas ocorrido durante a construção de Tucuruí, que terminaram por criar um débito na conta de emissões de gases de efeito-estufa do país, neutralizando parte do resultado positivo do empreendimento. Ainda assim, na avaliação de Thelma, o Brasil tem aprendido a transformar "problemas em oportunidades". Ela acredita que o grande desafio para assegurar a economia verde a partir de agora é "seguir mudando o pensamento de todos os setores envolvidos, governos, empresas, pessoas". (conteudoclippingmp)

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