Especialistas veem falhas de segurança em central de Angra
Lições
Complexo de Angra; “Risco zero é utopia, mas não há razão técnica para parar obras”, diz dirigente da Eletronuclear.
País precisa adotar novos procedimentos de retirada da população e geradores móveis movidos a diesel.
O uso de geradores móveis de energia abastecidos por diesel e a ampliação do raio de proteção da população no entorno da central atômica em caso de emergência. Essas são algumas das providências que o Brasil deverá adotar nas usinas de Angra dos Reis, no litoral fluminense, após o incidente ocorrido na usina nuclear de Fukushima, no Japão, aponta o especialista Aquilino Senra, professor de engenharia nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Certamente algum procedimento operacional será alterado, ou haverá mudança de projeto", diz Aquilino. Segundo ele, um dos pontos fundamentais de prevenção é o plano para remover a população no entorno da central de Angra, que deverá ser revisado e aperfeiçoado, por recomendação de órgãos reguladores. Hoje, o planejamento para situações de emergência da central nuclear prevê a retirada em uma área de até 5 km em torno de Angra 1 e Angra 2, onde vivem cerca de 20 mil pessoas.
A cada dois anos, há um treinamento com a participação de voluntários. "No Japão, foram removidas 120 mil pessoas em um raio de 20 km. Aqui (em Angra), não temos essa previsão. Temos de estar mais preparados para tirar as pessoas em caso de emergência. Isso é fundamental"
Aquilino lembra que outros acidentes nucleares, como o de 1979, nos EUA, e o de 1986, em Chernobyl, na Ucrânia, provocaram uma série de recomendações que acabaram incorporadas em centrais nucleares de todo o mundo. Para o especialista, a perda dos geradores a diesel de emergência no Japão, varridos pelo tsunami, foi a "causa raiz" dos vazamentos de material radioativo.
Segundo Aquilino, a falta de geradores móveis em Fukushima foi uma falha de projeto. As usinas de Angra não possuem esses equipamentos.
Chefe de gabinete da Eletronuclear, empresa que tem a finalidade de operar e construir as usinas termonucleares do País, Leonam dos Santos Guimarães diz que o plano de emergência externo de Angra é objeto de normatização internacional. "Não é só no Brasil que são 5 km para evacuação e até 15 km para colocar as pessoas abrigadas, é no mundo inteiro. O governo japonês optou por expandir e ir além da norma internacional, com evacuação na faixa de 20 km e abrigos até 30 km."
Para ele, uma eventual mudança no plano de Angra "é um tema a ser discutido".
A central japonesa tinha 13 geradores de emergência movidos a diesel. Todos foram destruídos. Leonam afirma que "possivelmente, unidades móveis também teriam sido destruídas". Angra 1 tem seis e Angra 2 possui oito geradores de emergência, todos fixos. Para Leonam, segurança é um "processo de melhoria contínua". "Segurança absoluta é utopia. Risco zero é utopia. Certamente as lições aprendidas de Fukushima vão aperfeiçoar a segurança das usinas, como os acidentes de 1979 e 1986 aperfeiçoaram", diz ele, ressaltando que outras usinas no Japão resistiram "perfeitamente" ao tremor e ao tsunami.
Sobre a prometida construção de Angra 3, o representante da Eletronuclear avalia que "não existe nenhuma razão racional ou técnica para que esse episódio venha a impactar as obras da usina". "Mas saímos da área racional e técnica e entramos numa área do emocional, subjetivo e político. Nessa área, não há como fazer previsões."
O Ministério Público Federal informou que pediu à Eletronuclear um relatório sobre o plano de retirada e sobre as diferenças entre os reatores usados no Brasil e no Japão. "Imagino que o procurador esteja querendo se informar melhor. Estamos à disposição", diz Leonam. (OESP)
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