Engenheiros japoneses conseguiram em 19/03, (noite de sexta-feira no Brasil) conectar os cabos de energia à usina nuclear atingida pelo terremoto e o tsunami da semana passada, numa corrida para tentar conter o vazamento radioativo que agora já é considerado no mínimo tão grave quanto o de 1979 na ilha de Three Mile, nos EUA.
Apesar de ainda não ser possível determinar se isso será o suficiente para reiniciar o bombeamento de água necessário para resfriar os superaquecidos bastões de combustível nuclear, a ligação de energia foi ao menos mais um passo adiante na usina de Fukushima, 240 quilômetros ao norte de Tóquio.
Quase 300 engenheiros que trabalham dentro do raio de 20 quilômetros que foi isolado pelas autoridades devido à radiação estavam focados em conseguir religar a energia das bombas de água em quatro dos seis reatores.
“A Tepco (operadora da usina) conectou a linha de transmissão externa com o ponto de recepção da usina e confirmou que a eletricidade foi restabelecida”, informou a empresa em comunicado.
O próximo passo será verificar se o equipamento está funcionando e não foi danificado, antes de iniciar o resfriamento do reator número 2, seguido pelos 1, 3 e 4, acrescentou. Se isso funcionar, será um ponto de virada.
“Se eles conseguirem ligar as bombas e puderem começar a jogar água sem provocar nenhuma falha, devem conseguir controlar a usina nos próximos dias”, disse o pesquisador Laurence Williams, da Universidade Central Lancashire, na Grã-Bretanha.
O fato de terem religado a energia, no entanto, não exclui outras opções para a usina nuclear, incluindo enterrá-la debaixo de areia e concreto — mesmo método empregado em Chernobyl em 1986 para selar vazamentos enormes.
O Japão elevou o nível de gravidade da crise nuclear do país de 4 para 5 numa escala internacional de intensidade até 7. Assim, a situação em Fukushima se iguala ao acidente de Three Mile Island em 1979, apesar de alguns especialistas afirmarem que o caso japonês é mais grave. Chernobyl, na Ucrânia, teve intensidade 7 nessa escala.
A empresa que opera a usina do Japão reconheceu pela primeira vez que seria possível enterrar o grande complexo erguido há 40 anos — um sinal de que medidas isoladas, como atirar água de helicópteros militares sobre o reator ou esforçar-se para religar as bombas de resfriamento, podem não funcionar.
“Não seria impossível encerrar os reatores em uma capa de concreto. Mas nossa prioridade neste momento é tentar primeiro resfriá-los”, disse em coletiva de imprensa um funcionário da Tokyo Electric Power Co (Tepco).
Uma semana depois – Com uma semana completa desde que um terremoto de 9,0 graus e um tsunami de dez metros de altura devastaram cidades costeiras e mataram milhares de pessoas, a pior crise nuclear mundial desde Chernobyl e as piores crises humanitárias do Japão desde a 2a Guerra Mundial pareciam estar longe de encerradas.
Os mortos confirmados pelo terremoto e o tsunami já são quase 7.000, e ainda há 10.700 desaparecidos; teme-se que muitos destes estejam mortos.
Cerca de 390 mil pessoas, entre as quais muitos idosos, estão desabrigadas e enfrentam temperaturas de quase 0 grau Celsius em abrigos improvisados nas áreas costeiras do norte do país. Faltam comida, água, medicamentos e combustível para aquecimento.
O governo assinalou que poderia ter sido mais ágil no enfrentamento dos desastres múltiplos. “Um terremoto e um tsunami de dimensões sem precedentes atingiram o Japão. Em consequência disso, aconteceram coisas que não tinham sido previstas em matéria da reação geral ao desastre”, disse em coletiva de imprensa o secretário chefe do gabinete, Yukio Edano.
Turistas, estrangeiros e muitos japoneses continuam a deixar Tóquio, temendo uma explosão de material radiativo do complexo nuclear situado 240 quilômetros ao norte, embora as autoridades de saúde e a agência de fiscalização nuclear da ONU tenham dito que os níveis de radiação na capital não são prejudiciais à saúde.
Há pouco alívio em vista para cerca de 300 técnicos da usina nuclear que estão trabalhando nos destroços radiativos, usando máscaras, óculos e roupas protetoras especiais com suas costuras fechadas com fita adesiva para impedir a passagem de partículas radiativas.
“Meus olhos se enchem de lágrimas quando penso no trabalho que estão fazendo”, disse à Reuters Kazuya Aoki, técnica de segurança da Agência de Segurança Nuclear e Industrial do Japão.
Até o domingo o governo espera que a eletricidade chegue às bombas do fortemente danificado reator 3 — ponto focal da crise porque emprega óxidos mistos, ou mox, contendo tanto urânio quanto plutônio, este altamente tóxico.
Indagado sobre a possibilidade de os reatores serem soterrados em areia e concreto, Nishiyama respondeu: “Essa solução está presente em nossa consciência, mas por enquanto estamos focados em resfriar os reatores.”
Se os reatores forem enterrados, uma parte do Japão terá acesso proibido a pessoas por décadas. “Não é tão fácil assim”, disse Murray Jenex, professor da Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, quando perguntado sobre a chamada opção Chernobyl de enterrar os reatores.
“Os reatores são um pouco como um aparelho de fazer café. Se você deixa o calor ligado, eles fervem até secar e então racham. Colocar concreto em cima disso não tornaria seu aparelho de café mais seguro. Mas, com o tempo, sim, seria possível construir um escudo de concreto e deixar por isso mesmo.”
Sem eletricidade e água – A situação dos desabrigados pelo terremoto e o tsunami se agravou depois de uma onda de frio levar neve pesada às áreas mais afetadas.
O fornecimento de água, óleo para aquecimento e combustível está baixo nos centros de desabrigados, onde muitos sobreviventes aguardam embrulhados em cobertores. Faltam remédios para muitos idosos. A comida é racionada. Funcionários dos serviços de resgate informam que há falta aguda de combustível para seus veículos.
O governo disse nesta sexta que analisa a possibilidade de transferir alguns dos desabrigados para partes do país não atingidas pela devastação.
Quase 320 mil famílias no norte do país continuavam sem eletricidade na sexta-feira à tarde, sob frio congelante, disseram as autoridades, e, segundo o governo, ainda falta água corrente para pelo menos 1,6 milhão de famílias.
O governo ordenou que todas as pessoas residentes em um raio de 20 quilômetros da usina nuclear danificada abandonem suas casas e aconselhou as pessoas que vivem em um raio de até 30 quilômetros a não saírem de suas casas.
A embaixada dos EUA em Tóquio exortou cidadãos residentes em um raio de 80 quilômetros da usina a deixarem a região ou ficarem dentro de casa “como precaução”, e o Ministério do Exterior britânico pediu a seus cidadãos que “estudem a possibilidade de deixar a região”. Outros países já pediram a seus cidadãos no Japão que deixem o país ou se desloquem para o sul do país. (jornaldiariosudoeste)
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