sexta-feira, 18 de março de 2011

''Samurais'' lutam contra explosões

''Samurais'' lutam para evitar fusão em reatores
Ao menos 180 trabalhadores, considerados heróis, revezam-se para resfriar instalações.
Esforços
Helicópteros militares do Japão recolhem água do mar para despejar sobre reatores
Eles se arriscam a explosões, fogo e um inimigo invisível: a radiação, que poderá matar rapidamente ou décadas depois, enquanto correm para impedir um desastre dentro da escura e superaquecida usina nuclear. Os 180 trabalhadores que atuam em situação de emergência no complexo de Fukushima-Daiichi surgem como heróis nessa calamidade desencadeada por um terremoto e um tsunami.
Chamados de samurais dos tempos modernos, os técnicos voltaram ao trabalho ontem depois de um aumento de radiação os forçar a deixar seus postos durante horas. "Não sei de que outra maneira dizer, mas eles são como combatentes suicidas numa guerra", disse Keiichi Makagawa, professor do Departamento de Radiologia do Hospital Universitário de Tóquio.
Pequenas equipes formadas por esses trabalhadores anônimos entram e saem precipitadamente por 10 a 15 minutos cada vez para bombear água do mar para os reatores superaquecidos, monitorá-los e limpar os detritos deixados pelas explosões. Se ficassem mais tempo ficariam muito expostos à radiação. E eles lutam também com o problema de equipamentos quebrados e a falta de eletricidade.
Mesmo em períodos normais, os trabalhadores usam macacões, máscaras que cobrem o rosto com filtros, capacetes e luvas quando entram em áreas onde podem se expor à radiação. Alguns carregam um reservatório de oxigênio, para não inalar partículas radioativas que poderiam chegar a seus pulmões.
Mas o escape brusco de radioatividade na manhã de ontem levou o governo a ordenar a retirada do complexo por cinco horas.
A medição mais alta dentre os vários locais que tinham que ser acessados pelos trabalhadores chegou a 600 milisievert, o equivalente ao limite de exposição diária durante vários anos, de acordo com estatísticas divulgadas pela Companhia de Energia Elétrica de Tóquio.
Os milisievert são a medida da exposição a uma radiação, que pode causar câncer e anomalias congênitas. Uma exposição severa pode provocar queimaduras e doenças ligadas à radiação, como náuseas e vômitos, além de afetar as células sanguíneas.
Um indivíduo pode absorver seis milisievert num ano, provenientes de fontes naturais ou sintéticas como o raio X. Acredita-se que pequenas exposições adicionais no ano de menos de 100 milisievert não produzem nenhum mal perceptível, mas além dessa medida podem causar riscos à saúde.
Segundo o australiano Tony Irwin, consultor da área nuclear, a dose normal no caso de um técnico trabalhando com radiação é de 20 milisievert por ano, em média durante cinco anos, com o máximo de 50 ao ano.
"Portanto, eles deviam tentando fazer um rodízio de pessoas para garantir que trabalhem dentro desse limite. Hoje, muitos países estabelecem um limite de emergência de 100 msvs por ano", disse ele.
O Ministério de Saúde do Japão elevou ontem o limite máximo legal de exposição para os trabalhadores das centrais nucleares de 100 para 250 milisievert. E qualificou a medida como "inevitável diante das circunstâncias".
Esta semana, os trabalhadores lutaram horas para abrir uma válvula de escape de pressão e para permitir a entrada de água nos reatores. Quando um trabalhador deixou o local por um curto período, o fluxo de água cessou e o combustível para as bombas de água acabou. O prédio onde está o tanque de combustível usado explodiu na terça-feira, fazendo dois enormes buracos na parte superior da parede do edifício. Logo em seguida, um trabalhador da usina constatou um incêndio, que foi debelado. Segundo o jornal Yomiuri, um trabalhador que abriu uma válvula para permitir a saída do vapor acumulado estava hospitalizado após ficar exposto à radiação por 10 minutos, mesmo usando roupas de proteção. (OESP)

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