Desde 1977, engenheiros defendem um sistema de filtragem em reatores para remover a radioatividade dos gases expelidos; a crise no Japão pode ser nova oportunidade.
Um aspecto do drama que estamos acompanhando na usina nuclear de Fukushima, no Japão, desde o terremoto seguido de tsunami do dia 11/03, é o esforço da Tokyo Electric Power (Tepco) para evitar um acúmulo de pressão no sistema de contenção de seus reatores de água fervente nas usinas 1 e 2. Estes reatores perderam sua conexão com a rede elétrica por causa do terremoto e seus geradores reservas, movidos a diesel, não entraram em funcionamento.
Como resultado, não houve eletricidade para bombear água e remover a energia térmica gerada pela radiação residual do combustível. Com isso, a pressão dentro dos reatores começou a aumentar e as válvulas de escape foram abertas para aliviar esta pressão. Em seus porões o sistema de contenção do reator contava com piscinas d’água destinadas à supressão de aumentos acentuados na pressão, além de bombas movidas a vapor que poderiam fazer a água circular das piscinas para os reatores. Mas, após algum tempo, as piscinas começaram a ferver, impossibilitando seu uso.
Em três dos reatores (as unidades 1, 2 e 3 que estavam em funcionamento - e portanto quentes), o nível da água apresentou queda, expondo o combustível, que se superaqueceu e liberou parte de sua radiação no sistema de contenção. A pressão do vapor também se acumulou no sistema de contenção, ao ponto de este quase explodir. Com isso, a Tepco recebeu permissão do governo para liberar parte do gás do sistema de contenção. Por causa dos elementos radioativos no gás, a população das imediações foi retirada e levada a uma distância mínima de 20km da usina.
Felizmente, a liberação de material radioativo foi muito menor do que a que ocorreu em Chernobyl. Boa parte da radiação ainda está presa ao combustível, e a maioria da radioatividade liberada deve ter se dissolvido na água. E o mais importante: o vento levou os vapores tóxicos na direção do mar.
Em 1979, durante o acidente no reator de Three Mile Island, o combustível foi também parcialmente exposto e o revestimento do combustível também apresentou defeito, liberando uma considerável dose de radiação dentro do sistema de contenção, e houve uma explosão de hidrogênio. Mas o sistema de contenção não apresentou pressão muito acima do normal e por isso a atmosfera não recebeu uma dose significativa de radiação. A principal diferença entre este acidente e o atual está no fato de os sistemas de resfriamento de Three Mile Island terem contado com energia elétrica para funcionar, condensando o vapor que estava dentro.
O problema do aumento acentuado na pressão do sistema de contenção e a necessidade potencial de exaustão são uma antiga questão na comunidade que cuida da segurança no funcionamento de reatores nucleares. Em 1977, um grupo de engenheiros nucleares da Universidade da Califórnia sugeriu que um sistema de filtragem fosse instalado em reatores para remover a radioatividade dos gases expelidos. Alguns países adotaram a ideia.
A Comissão Reguladora Nuclear (NRC) dos EUA rejeitou a ideia. O argumento implícito foi a opinião da indústria segundo a qual já haveria proteção suficiente, caracterizando tal despesa como um desperdício. Após Three Mile Island, em 1979, não conseguimos reformar a NRC nem obrigar o uso de projetos aperfeiçoados de contenção. A tragédia no Japão pode estar nos dando nova oportunidade. (OESP)
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