Catástrofe pode trazer novidades na vida política japonesa e na maneira de encarar questões ambientais.
Numa coletiva, um dia depois do terremoto, o primeiro ministro, Naoto Kan, disse que os japoneses estavam enfrentando um desafio sem precedentes, que, um dia, a nação lembraria a data como a criação de um novo Japão.
À medida que a terra continua tremendo, o número de vítimas aumenta e o risco de um acidente nuclear em Fukushima se torna assustador. Levará meses, se não anos, para os sobreviventes retomarem suas vidas. O premiê, porém, estava certo quando disse acreditar que o desafio poderá extrair respostas sem precedentes do Japão. Pelo menos quatro mudanças podem ser esperadas.
Primeiro, o desastre pode ter sacudido também o establishment político. Ele ocorreu logo após a renúncia do chanceler Seiji Maehara, que teria recebido de um estrangeiro uma pequena soma, a título de doação política. A mesquinhez da acusação e a maneira como o ministro foi exposto foram deprimentes. A gravidade da catástrofe pode fazer com que a mídia que alimenta esse gênero de futilidades recobre o juízo.
Segundo, embora poucos lugares no mundo conseguissem resistir a uma tragédia tão grande, é preciso um debate nacional para se decidir qual a melhor maneira de proteger o litoral do Japão em tempos de mudança climática e aumento do nível do mar. O país tem muitas pequenas comunidades vulneráveis a tsunamis, que vêm ocorrendo com uma regularidade assustadora. À medida que a população de pequenas comunidades diminui, decisões mais rigorosas sobre distribuição de recursos devem ser aceleradas.
Em terceiro lugar, os danos na central nuclear de Fukushima devem provocar uma mudança na aceitação desse tipo de energia. Existem hoje 55 usinas atômicas no Japão que produzem 30% de suas necessidades energéticas. Mas o país está no Círculo de Fogo do Pacífico e sobre diversas placas tectônicas. Certamente, dúvidas serão levantadas sobre a segurança da energia nuclear.
Finalmente, o Japão precisará adotar medidas para promover inovações no campo da ciência e tecnologia em nome de seus próprios interesses ambientais e energéticos. A porcentagem de jovens formados em áreas científicas está em queda e os japoneses têm dificuldade para atrair estrangeiros para suas instituições. O Japão não pode se dar ao luxo de perder o bonde da revolução da energia verde, fundamental para um país pobre em recursos energéticos. (OESP)
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