quarta-feira, 16 de março de 2011

Repensar a matriz energética

A desgraça do Japão reaviva, de um ponto a outro da Europa, uma velha questão: devemos abandonar a energia nuclear? A França é a mais envolvida no caso: pobre em petróleo, ela só consegue atender às necessidades de energia graças a um parque nuclear muito denso. São 58 reatores, frente aos 56 do Japão. Somente os EUA possuem equipamento superior ao da França.
Os franceses, portanto, têm experiência. E foi com base nela que, desde o fim de semana, os ministros procuram tranquilizar e difundir seus conhecimentos: "O que ocorreu no Japão não é imaginável na França", dizem eles. O premiê François Fillon chegou a oferecer ao Japão "a experiência nuclear francesa" para o país pôr fim às ameaças que pesam sobre usina de Fukushima-Daiichi.
Essa bravata deixa os ecologistas em cólera. Eles lembram que o parque nuclear francês é antigo. Os incidentes não são raros. A França se vangloria de ser moderna. Está na vanguarda da tecnologia mundial com seus famosos reatores EPR, que vendeu a diversos países. O único inconveniente desses mirabolantes EPR é que os franceses não conseguem construí-los. Os que estão em processo de instalação, na Finlândia, França e Normandia, rivalizam em termos de atrasos, defeitos e gastos além dos previstos.
Todo o movimento ecologista da Europa utiliza a desgraça japonesa para tentar moderar a expansão das centrais nucleares. Os argumentos são bastante conhecidos. Então, em vez de repeti-los novamente, preferimos ouvir um especialista, o físico austríaco Wolfgang Kromp: "Contra tais forças da natureza (terremotos e tsunamis) a técnica humana é impotente e assim permanecerá. O acidente de Fukushima teria sido menos dramático se tivéssemos renunciado a utilizar instalações tão velhas. Mas, mesmo com centrais muito mais sofisticadas, é uma irresponsabilidade desenvolver usinas nucleares numa região tão exposta a riscos sísmicos como o Japão".
Wolfgang Kromp amplia o espectro do risco sísmico. A seus olhos, é igualmente insano instalar centrais nucleares às margens ou ao longo de rios, pois, nesses dois relevos, a terra pode tremer. Essas advertências dizem respeito também à França onde diversos reatores funcionam perto de praias ou ao logo de rios.
Aliás foi na central nuclear de Blayais, perto da Gironda que um desastre quase se produziu em dezembro de 1999. Nesse dia, as águas do rio subiram bruscamente, inundando a central e o seu sistema de resfriamento. Estivemos muito próximos de uma catástrofe: a fusão do núcleo do reator. (OESP)

Nenhum comentário: