As lições atômicas que o Japão não aprendeu
Foto de satélite feita dia 16/03/11 pela DigitalGlobe mostra a usina de Fukushima Daiichi. Vapor pode ser visto saindo dos reatores 2 e 3. Também podem ser vistos danos nos reatores 1 e 4 e em outros prédios.
Em 16 de julho de 2007, às 10h13 um terremoto de magnitude 6.8 na escala Richter danificou a central nuclear japonesa de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo, com sete reatores. No primeiro dia da catástrofe, a Empresa de Eletricidade de Tóquio (Tepco), proprietária também da central de Fukushima, minimizou os danos. No dia seguinte, contudo, admitiu que os projetistas da planta não previram que poderia enfrentar um terremoto dessa magnitude. E assumiu que centenas de litros de água com 600.000 becquerels (unidade de medida da radioatividade) vazaram para o mar. Um dia depois, a empresa reconheceu que a cifra subia para 1.300 litros com 90.000 becquerels. É certo que aquele vazamento foi muito pequeno comparado com o de Fukushima. Mas a informação que a Tepco deu deixou muito a desejar. Os documentos do Departamento de Estado revelados por Wikileaks informavam que ainda que o material vazado não represente uma ameaça para o meio ambiente, o próprio Governo japonês estava muito chateado com a forma como a Tepco havia administrado o incidente.
Shinzo Abe, o então primeiro-ministro japonês, declarou: “Os relatórios da Tepco chegaram tarde. Recordei a eles duramente que os relatórios devem ser feito de forma rigorosa e a tempo. As plantas nucleares não podem operar sem a confiança do cidadão. A rapidez na hora de informar e a transparência na informação são necessárias para obter essa confiança”.
A central de Kashiwazaki-Kariwa foi fechada temporariamente e o Organismo Internacional da Energia Atômica (OIEA) se comprometeu a ajudar na investigação do acidente. O diretor do organismo nuclear da ONU, Mohamed El Baradei, pediu a Tóquio que informasse com “total transparência” e destacou: “É importante aprender a lição sobre um terremoto”.
Entretanto, a lição da transparência continua pendente. O Japão ainda não ofereceu informação precisa sobre a radiação vazada na central de Fukushima, nem sobre a sua evolução ou extensão previstas, informa Rafael Méndez. Também não explicou em que situação se encontram as piscinas de combustível gasto das centrais afetadas. Supostamente, os reatores 4, 5 e 6 não tinham nenhum problema porque estavam parados quando o terremoto sacudiu o país. Contudo, na madrugada de terça-feira, o Governo anunciou em uma entrevista coletiva que havia um incêndio no reator número 4, mas também não deu detalhes.
O terremoto de 2007 matou 11 pessoas e feriu cerca de mil. A central interrompeu sua atividade durante quase dois anos, até que em maio de 2009 começou a funcionar um dos sete reatores e, meses depois, os outros. Mas o incidente deixou no ar certa sensação de vulnerabilidade nas centrais. Duas semanas depois do vazamento, vários especialistas da OIEA examinaram, durante três dias, a planta e concluíram que o material radioativo vazado estava abaixo dos limites autorizados, mas criticava também a Tepco por atrasar a informação sobre o vazamento. Os funcionários da Embaixada falaram com os responsáveis da companhia elétrica e estes se mostraram “encantados” com o fato de que a central suportou um terremoto superior ao qual estava projetada para resistir.
O fechamento da central fez com que os 12 principais fabricantes de carros diminuíssem sua produção em cerca de 120 mil unidades, número três vezes superior aos prejuízos causados pelo terremoto de Kobe em 1995. Não obstante, as três principais marcas – Toyota, Honda e Nissan – garantiram que o fechamento da central não afetaria suas exportações. Os diplomatas norte-americanos advertiram há quatro anos: “Mesmo que a indústria parece ter se esquivado da bala desta vez, o terremoto revelou a inesperada vulnerabilidade da cadeia de fornecimento industrial”.
Desde então, ficou mais difícil par o Governo japonês encontrar lugares dispostos a aceitar a implantação de novas centrais. Como se informa num telegrama de 2009, os sentimentos de “não no meu pátio” se alastraram e apenas os municípios que já acolhiam outras plantas atômicas aceitavam a chegada de mais reatores. (Ecodebate)
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