sexta-feira, 18 de abril de 2014

Petróleo perde espaço na matriz energética

Fontes renováveis de energia terão forte crescimento até 2035, mas óleo continuará sendo líder.
Aposta: Casco da primeira sonda do pré-sal. Especialistas destacam que Brasil tem grande potencial para investir em fontes mais limpas.
Enquanto o Brasil faz investimentos bilionários no pré-sal e os Estados Unidos avançam a passos largos na exploração do shale gas (gás não convencional) a matriz energética mundial tende a ficar mais limpa nos próximos 20 anos. Mas, apesar do forte avanço das fontes renováveis, como eólica e solar, especialistas do setor acreditam que o petróleo vai continuar como a principal fonte energética do mundo, ainda por muitos anos.
De acordo com o relatório “World energy outlook 2013", que a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) distribui de forma reservada, a participação das fontes renováveis vai pular dos 13% na matriz energética mundial em 2011 para quase 18% em 2035. O gás também ganha destaque: subirá de 21,3% para 23,69%. No mesmo período, a fatia do petróleo vai cair dos atuais 31% para 27%, o que lhe garante ainda a liderança isolada.
‘A era do petróleo não acabou’
O chefe da Divisão da Indústria de Petróleo e Mercados da Oil Market Report, publicação da IEA, Antoine Halff, e que participou da elaboração do relatório de 2013, destaca que, apesar do forte crescimento das renováveis, o petróleo “é absolutamente indispensável" para atender à demanda por combustíveis e o crescimento econômico mundial. A expectativa é que até 2035 sejam necessários pelo menos 14 milhões de barris diários a mais.
- A demanda por petróleo vai realmente ficar muito forte. Apesar disso, o petróleo vai ficar mais difícil e caro de produzir, mesmo com os avanços na tecnologia. A era do petróleo não acabou. O que não faria sentido, dadas as nossas necessidades energéticas futuras, seria não investir em petróleo agora — afirmou Halff.
A alta no consumo por petróleo será puxada pelas economias emergentes, como China e Índia, que vão responder por cerca de 75% do aumento da demanda até 2035, segundo análise da E&Y (ex-Ernest & Young).
- A demanda por energia vai crescer. É isso que impulsiona o avanço das renováveis e do gás dos EUA. Mas há a questão da distribuição do gás, que é cara, e a falta de escala das renováveis — diz Alexandre Rangel, sócio em consultoria do Centro de Energia e Recursos Naturais da EY.
Segundo os cenários da IEA, a geração de energia eólica e solar vai crescer quase 460% até 2035. A geração hidrelétrica terá avanço de 67% no período, seguida da biomassa, com alta de 42%. Já a energia nuclear crescerá 66%, passando de 5,16% da matriz para 6,44% em 2035.
- O mundo caminha para uma transição para fontes renováveis, mas é impossível diminuir o ritmo do consumo de petróleo tão rapidamente. Não tem como retirar o petróleo, gás e carvão, senão voltaríamos à idade das cavernas — disse Milton Costa, secretário executivo do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP).
‘Shale’: êxito difícil de repetir
Para José de Sá, sócio da Bain & Company, com tantas fontes de energia competindo, é imperativo para o Brasil aumentar sua produtividade para reduzir o custo de exploração no pré-sal.
- É importante ser extremamente competitivo. Mas o Brasil faz certo em explorar o pré-sal, pois é o que está na mesa. O país ainda não está inserido no mundo do gás não-convencional e começa agora a entender as suas reservas. O sucesso do shale gas nos EUA dificilmente vai se repetir em outros países na mesma proporção. E as renováveis, como a eólica e a solar, só terão preços competitivos em relação ao gás na geração de energia elétrica na próxima década — diz Sá.
A economista Paula Barbosa, especialista em petróleo e gás, lembra que fontes como eólica e solar "não garantem geração contínua de energia":
- A Petrobras tem que investir na produção do petróleo. É a nossa maior riqueza. O mundo ainda vai levar muito tempo para se tornar independente do petróleo, porque, além de ser fonte de energia primária, tem todo o desenvolvimento petroquímico, cujos produtos ainda não encontraram substitutos.
Segundo ela, mesmo com os EUA se tornando exportadores após 2017, os preços do petróleo não tendem a cair, com a alta na demanda. Segundo o Outlook 2035, da petroleira BP, o consumo de energia total no mundo deve aumentar 1,5% ao ano, em média, nos próximos 20 anos. (oglobo)

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