Para muita gente, a
questão não é “e se”, mas “e quando” o petróleo acabar. Por ser um combustível
fóssil, resultado da decomposição de organismos, quando as reservas atuais
acabarem será preciso esperar milhões de anos até se formarem poços novos. Mas
cientistas não acreditam que o óleo vá se extinguir tão cedo. O que deve
acontecer logo é o fim do estoque abundante, algo fundamental numa sociedade
como a nossa.
Nos próximos anos, a
produção tende a cair – projeções indicam queda de 3% ao ano. “Muitos geólogos
dizem que 2005 é o último ano da bonança”, escreveu Matt Savinar, especialista
no tema.
Com a queda na
produção, o preço do barril deve subir assustadoramente e nossa sociedade pode
entrar no que o engenheiro petrolífero Richard Duncan chamou de “Idade da Pedra
Pós-Industrial”. Duncan acredita que vai ser impossível manter o nível de
industrialização que temos hoje e que existe um risco real de voltarmos,
progressivamente, a viver como homens dos tempos das cavernas.
Mesmo quem não
aposta num cenário tão radical prevê um encolhimento das economias. “Quando
passarmos desse ponto máximo na produção, nossa vida terá que ser reorganizada,
numa escala muito menor. Não será possível, por exemplo, viajar de carro ou de
avião com a frequência que fazemos hoje”, diz James Kunstler, autor de The Long
Emergency (“A Longa Emergência”, sem tradução no Brasil).
E o que virá depois?
Para Osvaldo Saavedra, do Núcleo de Energias Alternativas da Universidade
Federal do Maranhão, a tendência é que o petróleo seja substituído por um
conjunto de fontes de energia, já que é impossível encontrar um substituto tão
concentrado e fácil de transportar quanto o óleo. Cada região ou indústria
usará a opção que melhor lhe convier: biomassa, energia nuclear, hidrogênio ou
alternativas naturais como energia solar e eólica. “O problema é que criar
novas estruturas de produção, armazenamento e distribuição para cada energia é
um processo de décadas. E não é nada barato”, diz o engenheiro e pesquisador da
UFRJ, José Fantine. Não é à toa que muitos cientistas nos avisam para começar
as mudanças já.
Bem-vindo à casa do futuro!
Plástico
A maioria dos objetos
de nosso cotidiano usa plástico. Já há pesquisas com cana-de-açúcar e milho
como matérias-primas substitutas, mas ainda não é possível fazer a troca. Outra
medida será reaproveitar objetos. “Cientistas estão trabalhando em técnicas de
reciclagem, permitindo que cada vez mais plástico seja produzido sem o uso de
matéria-prima virgem”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria
do Plástico, Merheg Cachum.
Pomadas
“Em muitos produtos,
podemos substituir óleos de origem mineral por materiais de origem vegetal. Mas
ainda não existem substitutos à altura para pomadas”, diz Marcos Antonio
Correia, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP. As alternativas
testadas, como manteigas de cacau e de karité, não são tão eficientes: ficam
rançosas, não impedem a passagem de umidade para a pele e não são eficazes como
condutoras de ingredientes ativos (como no caso de assaduras ou queimaduras).
Medicamentos
A medicina de hoje
estará totalmente comprometida. Além de ser um ingrediente-chave para vários
suprimentos de plástico usados em hospitais (cateteres, luvas, válvulas
cardíacas e seringas), petróleo é a base de alguns dos remédios mais consumidos
no mundo, como analgésicos (aspirina, por exemplo), antibióticos (muitos exigem
solventes para extrair o agente antibiótico), sedativos e xaropes contra a
tosse.
Comidas
Você deve quase tudo
o que come às reservas do óleo. “O aumento da produção nos últimos anos não
aconteceu por um aumento repentino da luz do Sol. Essa revolução não seria
possível sem, por exemplo, os pesticidas (derivados de petróleo)”, escreveu
Dale Allen Pfeiffer no artigo Comendo Combustíveis Fósseis. Segundo os estudos
de Pfeiffer, sem esses combustíveis seriam necessárias pelo menos 3 semanas de
trabalho para produzir a dieta diária de um americano. Como isso é inviável, é
provável que o fim do petróleo nos obrigue a mudar o cardápio. “As pessoas vão
ser obrigadas a produzir sua comida perto de casa, em uma escala menor”, diz
James Kunstler.
Produtos sintéticos
Carpetes, cortinas,
tintas acrílicas, compensados de madeira, sofás. Olhe para os ambientes da sua
casa e repare quantas coisas são feitas a partir de produtos sintéticos,
completamente dependentes de petróleo.
Fotos
Filmes fotográficos e
películas de cinema também não sobreviveriam sem o óleo.
Você
Xampu, batom, esmalte
e roupas (mesmo as de algodão, já que há petróleo nos produtos usados no
tingimento). Tudo isso depende do óleo. Não é à toa que uma pessoa consome 22
barris de petróleo por ano. Isso dá mais de 9,5 litros por dia. 70% é gasto em
transporte (no combustível do carro ou do ônibus), mas ainda sobra petróleo
suficiente para quase tudo que você está usando enquanto lê a Super. (super.abril)
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