Sistema
Elétrico brasileiro enfrenta pressão durante o verão sem chuva
Calor,
falta de água e matriz energética impõem desafios ao sistema elétrico.
Cerca
de 80% de toda a energia do país vem da hidroeletricidade.
Este é o verão mais quente dos últimos 71 anos.
Desde que o Instituto Nacional de Meteorologia começou a medição, em 1943, não
se via um janeiro com média tão alta de temperatura: quase 32°C.
Os brasileiros reagiram rápidos e ligaram
milhões de aparelhos de ar condicionado e ventiladores. O resultado é uma série
de recordes históricos de consumo de energia. Até o horário de pico, que
costuma acontecer no início da noite, mudou para parte da tarde.
Para complicar a situação, este também é um dos
verões mais secos das últimas décadas.
Culpa de um fenômeno climático chamado de alta
do atlântico, uma massa de ar quente e seco impede a entrada de umidade.
Sem chuva, os níveis dos reservatórios vão caindo.
Em São Paulo, a represa da Cantareira, a maior do sistema que abastece a
capital paulista, tem apenas 22% de sua capacidade.
A água que pode faltar nas torneiras também
ameaça o setor elétrico, já que 80% de toda a energia do país vem da
hidroeletricidade.
De acordo com o operador nacional do sistema
elétrico o nível dos reservatórios hoje é pior nas regiões sudeste e
centro-oeste, com menos de 40% da capacidade.
No governo, ninguém até agora falou em risco de
novos apagões ou de racionamento. Para evitar apagões, o governo mantém ligadas
todas as usinas térmicas a gás, a óleo e a carvão. São fontes de energia mais
caras e poluentes.
Já se foi o tempo em que os reservatórios
cheios garantiam o consumo de energia do país por até três anos seguidos sem chuvas.
Hoje não passa de cinco meses. Nos últimos anos tem sido mais fácil construir
hidrelétricas sem barragens, com menos áreas alagadas e impactos ambientais.
Sem novos reservatórios, o Brasil perdeu a capacidade de estocar água da chuva
como fazia antes. Ficamos mais vulneráveis e abrimos caminho para as fontes
sujas.
No país campeão mundial de água doce, a
hidroeletricidade continua sendo uma vantagem estratégica. O potencial estimado
de produção é de 250 mil megawatts. Hoje exploramos apenas um terço disso e aí
mais uma questão.
Um relatório da Coppe financiado pelo Banco
Mundial indica que as maiores usinas hidrelétricas em construção hoje no país,
Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, podem não produzir toda a energia prevista
porque foram planejadas levando-se em conta a média das chuvas das últimas
décadas. Só que o padrão de chuvas está mudando.
Diversificar a matriz pode ser a solução, desde
que funcione. A energia eólica é um bom exemplo. Já temos 144 parques
instalados no Brasil, mas 48 não estão gerando energia por falta de linhas de
transmissão.
Seriam 1.265 megawatts a mais, o suficiente
para abastecer Salvador durante um mês. Segundo a Associação Brasileira de
Energia Eólica, 12 destes parques entram em operação este mês e outros 16 em
março.
Tem ainda a microgeração de energia. O projeto
está em andamento há quase dois anos, seguindo o modelo de países como Estados
Unidos e Alemanha, mas ainda engatinha. Em vez de incentivar a medida, os
governos estaduais decidiram cobrar ICMS de quem tira do próprio bolso para
gerar a energia que consome. As únicas exceções são Minas Gerais e Tocantins.
Ainda tem o PIS e o COFINS.
Não se trata apenas de um verão mais quente com
menos chuva. Os desafios do setor elétrico vão muito além das mudanças do
clima. (g1)
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