Descoberto o defeito, basta
enviar a cartinha do recall e tudo bem, não se recebe nenhuma punição.
“Os carros brasileiros são
verdadeiras carroças...”
Quando ouvi está frase do sr.
Fernando Collor fiquei surpreso: “Como assim? O cara apronta todas e ainda vem
falar mal! É um Playboy mesmo...”
Mas agora que possuo um carro
pude constatar que foi a frase mais sensata que ele falou!
Tudo começou com os famosos e
“legais” recalls, que bonito, é inglês, é charmoso... é um crime! Comprei um
Corsa Sedã Milenium em 2000, meu primeiro carro! Fiz seguro disso, seguro
daquilo e, realmente, me sentia seguro em levar minha família passear. Quantas
vezes desci/subi a serra para Caraguatatuba ou para Campos do Jordão. Quantas
vezes fui para Atibaia, via Rod. Fernão Dias e suas curvas perigosas. Mas eu
estava seguro! Meu carro possui estabilidade, possui cinto de segurança com
trava não sei do que, fiz revisão de um ano, troquei pastilha disso, óleo
daquilo tudo para ter s-e-g-u-r-a-n-ç-a!
Ainda ficava atento para as
normas da Polícia Rodoviária: faróis ok, pneus ok, extintor de incêndio ok,
taxas, impostos ok. Quando começaram os recalls... Recall de cinto de
segurança... Ufa, o meu não está no meio. Recall da mangueira da
refrigeração... Ufa, o meu não está no meio. Assim vai... É como AIDS, drogas,
parece que nunca vai acontecer com você ou com algum parente próximo.
Até que recebi uma cartinha
da GM, com os seguintes dizeres: “Não deixe de ler as informações contidas
dentro desta carta, elas são importantes para o seu carro...” Abri e me deparei
com o seguinte absurdo:
“...Compareça a uma
concessionária para fazer a substituição do rolamento externo das rodas
traseiras...”; “Isto se faz necessário por haver a possibilidade de
desprendimento da roda traseira, decorrente de fragmentação do rolamento
externo causada por eventual manuseio inadequado deste componente...”
Meu primeiro pensamento:
“Onde foi que eu errei?“
Pega nota daqui, pega recibo
dali, estava tudo certo: fiz todas as manutenções indicadas no manual. Caiu a
ficha: não foi falha minha... Foi da GM!
“Desprendimento da roda
traseira”, li em voz alta ao mesmo tempo que, em minha mente, passava um filme
das curvas perigosas da descida da serra até Caraguatatuba, ou então da Fernão
Dias... Quão perto estive da morte? Mesmo fazendo TUDO que é solicitado!
Quantas vezes poderia ter matado alguém e depois ser julgado culpado, sendo
inocente... Por Deus, e não graças à GM ou à Polícia Rodoviária, isso não aconteceu.
Indignado fui até o Procon
atrás de meus direitos, todo cheio de razão:
“Bom dia, em que posso
ajudá-lo?” – diz a atendente.
“Bom, eu comprei um Corsa há
quase três anos, e agora eles estão dizendo que preciso fazer um recall” –
respondi entregando a carta da GM.
Ela leu e disse: “Não podemos
fazer nada, eles estão dentro da lei.”
“Como assim, comprei um
carro, não paguei barato por isso e ele veio com defeito, que aliás não é uma
mangueirinha aqui ou um fiozinho ali, trata-se de uma RODA que pode se
DESPRENDER do carro!”
No que ela respondeu: “Veja
bem, eles não estão dizendo que há um defeito, eles estão dizendo que há a
possibilidade do desprendimento...”
Fiquei atônito: “Quer dizer
que eles estão utilizando um jogo de palavras para burlar a lei?”
Ela deu de ombros...
“Tudo bem então, mas a GM tem
que pagar de alguma forma, ela precisa ser punida!!!” – indaguei.
“Somente se você entrar na
justiça com um advogado. Mas por quê? Eles estão dando a possibilidade de você
fazer o recall!” – disse ela apática.
Após ouvir isso, pensei,
“Nossa, agora eu preciso agradecer à GM por me dar a chance de fazer um recall
de um defeito de fabricação deles! Como eles são bonzinhos e eu tão malvado...”
Vendo que não tinha muitas
chances no Procon, tentei a última cartada:
“Bom, isso é um absurdo! Como
eles podem fazer isso e nós não temos chance de reagir, temos que aceitar e
pronto? E quanto ao dia de serviço que vou perder para levar o carro? Quem vai
pagar? A GM?”
“Não!” – ela respondeu –
“Eles dão a opção de você agendar o recall”.
“Estou cometendo uma
heresia!” – pensei – “A GM é uma mãe para nós! Como pude pensar essas coisas
dela!” – e fui embora derrotado pelo sistema...
Mas não perdi a esperança que
alguém ou algum meio faça algo! Divulgue essa barbaridade! Faça os brasileiros
abrirem os olhos a esse absurdo!
Como pode isso? Então a GM
constrói um carro de qualquer jeito e lança no mercado. Se não for encontrado
nenhum defeito, tudo bem; se for encontrado, mesmo após anos, basta mandar uma
cartinha aos usuários utilizando jogo de palavras e tudo bem, não recebe
nenhuma punição!
Agora eu pergunto:
- Quantos acidentes já
ocorreram por causa desse DEFEITO?
- Eu preciso manter tudo em
ordem: faróis, freios, pneus, cinto de segurança, extintor de incêndio, etc.,
senão sou multado pela Polícia Rodoviária. E a GM não é multada quando comete
uma barbaridade dessas?
- Como eles ficaram sabendo
desse defeito? Será que já aconteceu(ram) algum(ns) acidente(s)?
Esse defeito apareceu após
alguns testes. Somente agora. Bom, quando se lança um medicamento é necessário
fazer milhões de testes. Num carro não? Outra coisa, se fosse a mangueira de
refrigeração, ou a lâmpada de iluminação do porta malas, mas não! Trata-se de
uma RODA de pode se SOLTAR! É um defeito gravíssimo! Como não foi percebido
antes? Que tipos de testes são esses que não conseguem detectar esse defeito? (bestcars.uol)
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