sábado, 26 de abril de 2014

Carros e carroças

Descoberto o defeito, basta enviar a cartinha do recall e tudo bem, não se recebe nenhuma punição.
“Os carros brasileiros são verdadeiras carroças...”
Quando ouvi está frase do sr. Fernando Collor fiquei surpreso: “Como assim? O cara apronta todas e ainda vem falar mal! É um Playboy mesmo...”
Mas agora que possuo um carro pude constatar que foi a frase mais sensata que ele falou!
Tudo começou com os famosos e “legais” recalls, que bonito, é inglês, é charmoso... é um crime! Comprei um Corsa Sedã Milenium em 2000, meu primeiro carro! Fiz seguro disso, seguro daquilo e, realmente, me sentia seguro em levar minha família passear. Quantas vezes desci/subi a serra para Caraguatatuba ou para Campos do Jordão. Quantas vezes fui para Atibaia, via Rod. Fernão Dias e suas curvas perigosas. Mas eu estava seguro! Meu carro possui estabilidade, possui cinto de segurança com trava não sei do que, fiz revisão de um ano, troquei pastilha disso, óleo daquilo tudo para ter s-e-g-u-r-a-n-ç-a!
Ainda ficava atento para as normas da Polícia Rodoviária: faróis ok, pneus ok, extintor de incêndio ok, taxas, impostos ok. Quando começaram os recalls... Recall de cinto de segurança... Ufa, o meu não está no meio. Recall da mangueira da refrigeração... Ufa, o meu não está no meio. Assim vai... É como AIDS, drogas, parece que nunca vai acontecer com você ou com algum parente próximo.
Até que recebi uma cartinha da GM, com os seguintes dizeres: “Não deixe de ler as informações contidas dentro desta carta, elas são importantes para o seu carro...” Abri e me deparei com o seguinte absurdo:
“...Compareça a uma concessionária para fazer a substituição do rolamento externo das rodas traseiras...”; “Isto se faz necessário por haver a possibilidade de desprendimento da roda traseira, decorrente de fragmentação do rolamento externo causada por eventual manuseio inadequado deste componente...”
Meu primeiro pensamento: “Onde foi que eu errei?“
Pega nota daqui, pega recibo dali, estava tudo certo: fiz todas as manutenções indicadas no manual. Caiu a ficha: não foi falha minha... Foi da GM!
“Desprendimento da roda traseira”, li em voz alta ao mesmo tempo que, em minha mente, passava um filme das curvas perigosas da descida da serra até Caraguatatuba, ou então da Fernão Dias... Quão perto estive da morte? Mesmo fazendo TUDO que é solicitado! Quantas vezes poderia ter matado alguém e depois ser julgado culpado, sendo inocente... Por Deus, e não graças à GM ou à Polícia Rodoviária, isso não aconteceu.
Indignado fui até o Procon atrás de meus direitos, todo cheio de razão:
“Bom dia, em que posso ajudá-lo?” – diz a atendente.
“Bom, eu comprei um Corsa há quase três anos, e agora eles estão dizendo que preciso fazer um recall” – respondi entregando a carta da GM.
Ela leu e disse: “Não podemos fazer nada, eles estão dentro da lei.”
“Como assim, comprei um carro, não paguei barato por isso e ele veio com defeito, que aliás não é uma mangueirinha aqui ou um fiozinho ali, trata-se de uma RODA que pode se DESPRENDER do carro!”
No que ela respondeu: “Veja bem, eles não estão dizendo que há um defeito, eles estão dizendo que há a possibilidade do desprendimento...”
Fiquei atônito: “Quer dizer que eles estão utilizando um jogo de palavras para burlar a lei?”
Ela deu de ombros...
“Tudo bem então, mas a GM tem que pagar de alguma forma, ela precisa ser punida!!!” – indaguei.
“Somente se você entrar na justiça com um advogado. Mas por quê? Eles estão dando a possibilidade de você fazer o recall!” – disse ela apática.
Após ouvir isso, pensei, “Nossa, agora eu preciso agradecer à GM por me dar a chance de fazer um recall de um defeito de fabricação deles! Como eles são bonzinhos e eu tão malvado...”
Vendo que não tinha muitas chances no Procon, tentei a última cartada:
“Bom, isso é um absurdo! Como eles podem fazer isso e nós não temos chance de reagir, temos que aceitar e pronto? E quanto ao dia de serviço que vou perder para levar o carro? Quem vai pagar? A GM?”
“Não!” – ela respondeu – “Eles dão a opção de você agendar o recall”.
“Estou cometendo uma heresia!” – pensei – “A GM é uma mãe para nós! Como pude pensar essas coisas dela!” – e fui embora derrotado pelo sistema...
Mas não perdi a esperança que alguém ou algum meio faça algo! Divulgue essa barbaridade! Faça os brasileiros abrirem os olhos a esse absurdo!
Como pode isso? Então a GM constrói um carro de qualquer jeito e lança no mercado. Se não for encontrado nenhum defeito, tudo bem; se for encontrado, mesmo após anos, basta mandar uma cartinha aos usuários utilizando jogo de palavras e tudo bem, não recebe nenhuma punição!
Agora eu pergunto:
- Quantos acidentes já ocorreram por causa desse DEFEITO?
- Eu preciso manter tudo em ordem: faróis, freios, pneus, cinto de segurança, extintor de incêndio, etc., senão sou multado pela Polícia Rodoviária. E a GM não é multada quando comete uma barbaridade dessas?
- Como eles ficaram sabendo desse defeito? Será que já aconteceu(ram) algum(ns) acidente(s)?
Esse defeito apareceu após alguns testes. Somente agora. Bom, quando se lança um medicamento é necessário fazer milhões de testes. Num carro não? Outra coisa, se fosse a mangueira de refrigeração, ou a lâmpada de iluminação do porta malas, mas não! Trata-se de uma RODA de pode se SOLTAR! É um defeito gravíssimo! Como não foi percebido antes? Que tipos de testes são esses que não conseguem detectar esse defeito? (bestcars.uol)

Nenhum comentário: