Fim das chuvas mantém usinas
em risco
Ameaça de desabastecimento de energia
elétrica continua e pode se agravar com o fim do período chuvoso, que termina
em abril.
Às vésperas do fim do período
úmido, o cenário de abastecimento de energia elétrica no Brasil ainda é
nebuloso. Enquanto o governo mantém um discurso positivo de que o sistema está
equilibrado e não há risco de racionamento, as previsões de meteorologistas vão
na direção contrária e amedrontam o setor produtivo. Não há expectativa de que
as chuvas dos próximos meses consigam recuperar o nível dos reservatórios do
Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% do armazenamento do País.
Nas últimas semanas, os números
do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para os reservatórios do
Sudeste/Centro-Oeste foram consecutivamente revistos, de 41,3% para 37,3%.
Diante da frustração das águas de março, agora o governo joga suas fichas nas
chuvas de abril - mês que fecha o período úmido. Mas, se depender das previsões
da Climatempo e Somar Meteorologia, é bom o governo começar logo um plano de
incentivo à eficiência energética entre os consumidores, conforme cogitou o
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, na semana passada.
O meteorologista da Climatempo,
Alexandre Nascimento, destaca que, se até agora o nível dos reservatórios não
foi recuperado, não serão as chuvas de abril que farão isso. Segundo ele, é
natural o volume de chuvas diminuir com o passar dos meses. Em dezembro e
janeiro, o volume de chuvas nas bacias do Rio Grande e Paranaíba varia de 150 a
250 milímetro (mm); em março, de 150 a 200 mm; e em abril, de 50 a 100 mm.
"Mesmo que chova o volume
normal, não será suficiente para recuperar o reservatório. No máximo, vai
reduzir a velocidade de queda. Não há luz no fim do túnel." Nascimento
afirma que para resolver o problema teria de chover entre 1 mil a 1,5 mil mm
durante dois ou três meses. Mesma previsão faz Willians Bini, da Somar
Meteorologia. Segundo ele, até o próximo verão não há chuva para recuperar os
reservatórios.
Os dois meteorologistas afirmam
que nos últimos meses a procura por previsões climáticas cresceu exponencialmente.
Todos querem saber se vai chover, quanto vai chover e onde vai chover. O
trabalho deles é traduzir os cenários climáticos para o setor elétrico em
termos de vazão do rio e quantidade de chuva. "Fazemos reuniões
presenciais, conference call e relatórios para os clientes, que sempre estão
ávidos por informações", afirma Bini.
Segundo ele, a maior preocupação
das empresas - já que o governo garante que não haverá racionamento - é com o
preço da energia no mercado à vista, hoje em R$ 822 o MWh. O valor acaba
balizando as negociações de novos contratos de consumidores livres (que compram
energia direto do produtor). Para o segundo trimestre, o MWh está custando em
torno de R$ 700; para o segundo semestre, R$ 550; e para 2015, R$ 220 o MWh,
diz Walter Fróes, da CMU Comercializadora.
As empresas que têm contrato
vencendo entre este ano e 2015 estão preocupadas com o peso que a energia terá
no custo futuro dos produtos. Segundo o sócio da Comerc, Cristopher Vlavianos,
considerando o preço nos contratos que estão vencendo agora, em torno de R$ 120
o MWh, o aumento é considerável. Mesmo em relação ao preço de 2015, menor que o
deste ano, o aumento é de 83%.
O presidente da Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone, confirma
a preocupação. Ele afirma que há no setor grandes empresas que estão com
contrato vencendo. "O preço pode inviabilizar a produção de algumas
empresas", afirmou ele, destacando que o custo da energia para a indústria
cresceu 243% entre 2003 e 2011.
Para as empresas que estão no
início da cadeia têxtil, como fiação e tecelagem, a energia elétrica representa
entre 27% e 28% do custo de transformação. "Uma falta de energia seria
administrável, já que temos a experiência de 2001. Mas o aumento do custo virou
um grande problema."
A indústria de vidro também tem
problema de contratos vencendo em 2015. Mas, por enquanto, a principal
preocupação é o repasse dos custos decorrentes da falta de chuva (como a
exposição das distribuidoras sem contratos para abastecer o mercado e a
operação das térmicas) para todos os consumidores. "Quem vai pagar a
conta? Será um novo encargo? As empresas estão apreensivas", afirma o
superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de
Vidro (Abividro), Lucien Belmonte. (OESP)
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