quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Explorando o novo futuro energético

O mundo está se desenvolvendo, a população crescendo a busca por mobilidade e a demanda por energia aumentando. Isso significa que alcançar o equilíbrio entre energia limpa, conveniente e barata requer ainda mais comprometimento, ideias e habilidades. Como será o novo futuro energético?
Pronto para explorar o novo futuro energético?
Apesar da crise econômica atual, prevê-se que até 2050 a demanda mundial de energia duplique. Nessa altura, a população mundial terá aumentado para cerca de 9 bilhões de pessoas, dos 6,5 bilhões atuais. Nos países em desenvolvimento, a geração de riqueza está tirando milhões de pessoas da pobreza, projetando-as para estilos de vida modernos e alimentados pela energia.
Em breve, o abastecimento mundial de gás e de petróleo facilmente acessíveis não conseguirá acompanhar a demanda. A sociedade terá de expandir a utilização de fontes de energia renováveis e biocombustíveis, mas também de energia nuclear, carvão e combustíveis fósseis não convencionais, tais como as areias petrolíferas, cuja produção requer mais energia e, portanto, emite mais CO2.
De fato, mesmo com o rápido crescimento de fontes de energia renováveis, os combustíveis fósseis continuarão a ser a fonte de energia dominante no mundo durante décadas. Isso significa que as emissões de gases de efeito estufa poderão aumentar para além do que os cientistas dizem ser saudável para o planeta, a menos que nós decidamos alterar a nossa abordagem.
A Shell está fazendo a sua parte para satisfazer a demanda crescente de energia em todo o mundo de uma forma responsável. Estamos melhorando nossa eficiência energética e desenvolvendo biocombustíveis da próxima geração que não competem com o cultivo de alimentos. Estamos ainda estabelecendo parcerias com o governo em projetos-piloto de armazenamento subterrâneo de CO2 e promovendo programas para capturar emissões de CO2 e comercializar licenças de emissão.

Diversidade energética

Para contribuir com o desafio energético dos próximos anos buscamos investir em diversidade energética. Nosso porfótlio conta com pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas aos combustíveis fósseis, como energia eólica, solar e biocombustíveis.
Ter um portfólio diversificado é importante para garantir a demanda energética.
Maior distribuidora de biocombustíveis de primeira geração do mundo, com vendas superiores a 7 bilhões de litros em 2008, a Shell tem nesta fonte de energia sua maior aposta para reduzir as emissões de carbono (CO2).
Como a viabilização desta energia requer intensa pesquisa, a Shell Brasil começou a desenvolver em 2008, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento de Biocombustíveis Avançados (de segunda geração). O objetivo é superar os desafios existentes para produzir biocombustíveis a partir de resíduos de cana-de-açúcar.
A empresa comercializou, em 2008, 2,54 bilhões de litros de biocombustíveis no país e contribuiu com 236 milhões de litros de álcool para o suprimento global da Shell nos últimos anos.

Eficiência Energética

Superar o novo futuro energético, garantindo a crescente demanda dos próximos anos e respeitando o meio ambiente, é fundamental para a Shell. Por isso, investimos continuamente em fontes que garantam mais energia e menos emissões de CO2.
Buscamos conseguir mais energia, com menos emissões de CO2.
Por meio da Shell Global Solutions, a empresa oferece a seus clientes soluções para o aumento de eficiência energética de plantas industriais, diminuição das emissões de CO2 e racionalização do consumo de energia, água e outros insumos.
Em 2008, o programa de Eficiência Energética obteve economia de energia entre 5% e 15% nos diversos clientes, mantendo os mesmos resultados do ano anterior, acompanhado da redução de 16 mil toneladas de emissões de CO2. Desde 2003, esse programa da Shell Global Solutions ajudou a reduzir em 76 mil toneladas as emissões de CO2.
A partir de 2009, além dos atuais clientes, para o desenvolvimento de novos negócios, a unidade focará nos mercados de papel e celulose, químicos e petroquímicos, metálicos e mineração.

Segurança Energética

Uma energia difícil de ser obtida. Em um futuro próximo, a demanda de energia deve superar a oferta de suprimentos de petróleo e gás natural que hoje está acessível. Por isso, além de fazer uso mais eficiente da energia disponível, precisamos buscar outras fontes.
Para a Shell é fundamental investir em novas fontes de energia, para assegurar a demanda no futuro.
No Brasil, os esforços da Shell para fazer frente a essa realidade refletem-se nos investimentos em pesquisa de biocombustíveis e na extração de petróleo e gás em locais de difícil acesso.
No segmento de Exploração e Produção (EP), o objetivo é aumentar o portfólio no país. Primeira empresa privada a produzir petróleo na Bacia de Campos (RJ), a Shell, que já investiu mais de R$ 6 bilhões em suas atividades de EP no Brasil, fechou 2008 presente em 15 blocos.
As atenções da área se voltaram também para a preparação do Parque das Conchas (BC-10), na costa do Estado do Espírito Santo, para a extração do primeiro óleo no segundo semestre de 2009. A empresa também atua na produção de óleo e gás nos campos de Bijupirá e Salema (RJ), cujas atividades começaram em 2003.
A alta complexidade dos campos descobertos no Parque das Conchas (BC-10) levou ao desenvolvimento e à combinação inovadora de uma série de tecnologias, como a instalação de equipamentos que dispensam o uso de sonda de perfuração e a utilização de dutos com flutuadores para reduzir o peso na conexão com a plataforma.
A Shell também investe em projetos de pesquisa com universidades brasileiras, como o de modelagem estratigráfica de reservatórios, realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O Novo Futuro Energético

O consumo energético global aumenta cada ano que passa e é responsável por uma série de problemas com a que a Humanidade se confronta, em particular os relacionados com as eventuais e altamente preocupantes alterações climáticas. A energia é, contudo, também, a base da nossa prosperidade. Estamos, portanto, confrontados com um grande desafio: o de cobrir a crescente procura de energia de uma forma mais eficiente, diversificada, segura e mais amiga do ambiente, com as melhores tecnologias e utilizando os recursos energéticos renováveis.
Um dos desafios mais marcantes da nossa era é encontrar mais fontes de energia que emitam menos dióxido de carbono. Nosso papel é contribuir para a compreensão da complexidade do sistema energético atual, que irá nos ajudar a tomar decisões sensatas sobre como construir um futuro responsável no que diz respeito à energia.

A matriz energética brasileira mitos e realidade

A política energética do Brasil não está baseada nos interesses reais e maiores de um desenvolvimento sustentável, a curto, médio e longo prazo. O foco são os interesses político partidários do governo em exercício, a serviço de interesses multinacionais. Os investimentos no setor energético do PAC foram definidos, também, para garantir a arrecadação junto às empresas barrageiras de verbas para a campanha eleitoral de 2010.
A sociedade civil organizada, as diversas instituições acadêmicas e científicas, o empresariado e, sobretudo, o povo brasileiro, têm direito a informações verdadeiras, completas e sem distorções sobre a hidroeletricidade. Os dados reais são sonegados á opinião pública, ou “adaptados” aos interesses político-partidários do momento, e às conveniências de multinacionais, empenhadas na geração de energia barata para produtos de baixo valor agregado, como a siderurgia, destinados á exportação, que garantem vultuosas remessas de lucros e a cobrança de royalties.
Financiado pelo BNDES, com o dinheiro público do FAT, sem apoio em critérios técnicos e científicos e, neste momento, agregando todas as ilegalidades do licenciamento “destravado” pelo atual min. do Meio Ambiente, empresas multinacionais estão se apoderando do controle da geração de energia. Um dos grupos internacionais já detém 30% do controle energético das regiões sul e sudeste! Em plena crise financeira, nossos atuais colonizadores estão se preparando para o futuro, enquanto o Brasil permanece na contramão do desenvolvimento sustentável, comprometendo os seus recursos hídricos e o meio ambiente de forma irreversível, além de aumentar os problemas sociais, com o desalojamento de populações inteiras. Apenas em Rondônia, para dar lugar às usinas do Rio Madeira, serão mais de 5000 famílias jogadas nas estradas e na capital, engrossando as fileiras da miséria, somadas ao milhão de brasileiros atingidos pelas barragens, dos quais nem um terço foi indenizado!
O mito de que a hidroeletricidade deve continuar como base da nossa matriz se firma em 3 postulados (dos quais nenhum corresponde á verdade) e uma ameaça: é uma energia limpa, renovável e mais barata para o consumidor doméstico, além dos riscos de novo “apagão”.
Não é limpa porque emite metano, gás que tem uma contribuição 20 vezes maior que o CO2 para o aquecimento global. Equipes da COPPE/UFRJ e do INPA mediram as emissões de metano, dos reservatórios e das turbinas de várias usinas em operação, inclusive Tucuruí e Balbina. Esta, cujos custos integram a nossa dívida externa, emite dez vezes mais CO2 que uma termoelétrica a carvão (3 toneladas de carbono por megawatt-hora, enquanto na térmica esse índice é de 0,3 tonelada de carbono por megawatt-hora – Alexandre Kemenes, pesquisador do INPA). Não é renovável porque os reservatórios têm vida útil prevista para 100 anos, em razão do assoreamento, que podem ser reduzidos, dependendo do aporte de sedimentos. Não é barata para o consumidor doméstico, dependendo das distâncias e dos custos das linhas de transmissão.
Quanto á possibilidade de outro “apagão” é mais uma distorção dos fatos reais. A “crise” de 2001 foi o resultado da falta de planejamento em infra-estrutura para geração e transmissão de eletricidade (não havia interligação entre os sistemas) do uso doméstico e industrial ineficientes, do desperdício e do subsídio governamental para produtos de exportação que necessitam elevado consumo de energia (como o alumínio). Por último vem a baixa precipitação das chuvas, nas bacias hidrográficas das represas, fator imprevisível que se repete agora, em Machadinho/RS.
Há várias alternativas para os pesados investimentos em hidroeletricidade, entre as quais, a repotenciação (processo aprovado pela Comissão Internacional de Barragens, criada por iniciativa do Banco Mundial, para analisar os projetos a serem por este financiados, que se transformou em uma Comissão multi setorial, com o objetivo de fazer uma avaliação das grandes hidrelétricas do mundo); a instalação de todas as turbinas nas 67 usinas em operação (a maioria instalou apenas parte das turbinas – das 14 previstas para Porto Primavera, faltam 4 – e Furnas tem uma usina desativada); investimentos na melhoria das linhas de transmissão, em eficiência energética e em economia de energia (o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL – investiu R$ 971 milhões e obteve uma economia de energia de 24.598 GWh/ano, o equivalente à geração de uma usina com capacidade para 6.612 MW); aproveitamento do metano emitido pelos reservatórios e turbinas; investimento em pesquisas de fontes alternativas e renováveis e na implantação dos respectivos projetos como energia eólica, energia solar energia das ondas (há um projeto patenteado do LTS/COPPE/UFRJ, com equipamentos produzidos inteiramente no Brasil) o bagaço da cana, hidrogênio biológico etc.
Um estudo da UNICAMP calculou que a repotenciação acrescentaria mais de 11 mil MW de potência, quase tudo o que o PAC planeja acrescentar até 2010 e praticamente o dobro das duas usinas do Madeira, que terão uma potência de 6.500 MWh, em torno de 4.000 MWh médios de energia firme. O custo por MW da repotenciação é de 1/3 a 1/5 do custo do MW de uma usina nova. Custo total de repotenciação das 67 usinas: R$ 5,4 bilhões para 8 mil MW (cálculo do Prof. Oswaldo Sevá). Custo inicial das usinas do Rio Madeira: R$ 25,72 bilhões, além do custo adicional estimado entre R$ 10 e R$ 15 bilhões para as linhas de transmissão.
As pesquisas do INPE (Luiz Bambace) e do INPA (Alexandre Kemenes) duas instituições brasileiras, cujo conceito nacional e internacional é de excelência, indicam que o aproveitamento do metano emitido pelos reservatórios e pelas turbinas pode aumentar a capacidade de geração energética dessas usinas em até 30%, diminuindo o aquecimento global.
Ribeirinhos, pescadores, povos da floresta, índios, patrimônios naturais, como as quedas d’água, grutas, cavernas etc, são considerados pela indústria barrageira como “interferências” ou “entraves” às obras a serem afastados, da maneira mais econômica e rápida. Tucuruí, cujos custos socioambientais são incalculáveis, na qual todos os anos na época das cheias, quando as comportas têm que ser abertas, há uma perda de potencial equivalente a 8.300 MW, porque faltam turbinas, foi feita para fundir alumínio e beneficiar minérios. Isso com o dinheiro dos brasileiros que têm acesso à energia elétrica, e arcam com os custos dos contratos leoninos da Eletronorte que beneficiam as indústrias consumidoras de energia.
Para encerrar, ou a sociedade civil, o povo, assumem agora, ainda este ano, o seu papel como titulares de todos os recursos ambientais e o “poder” público, inserido na CF/88, e se reúne para rediscutir e definir a matriz energética brasileira, sem as “mentiras institucionalizadas” do MME e seus órgãos – Eletrobrás, ANEEL e EPE (a expressão é do Prof. Oswaldo Sevá) ou perderemos o bonde do desenvolvimento sustentável e, em poucas décadas, o Brasil passará de economia “emergente” para “imergente”, retornando à clássica posição de colônia, desta vez das multinacionais. Esse é o Brasil que estamos construindo e legando para as futuras gerações?

domingo, 22 de novembro de 2009

Estudo aponta uso de peças obsoletas

A expansão do sistema elétrico brasileiro tem elevado o número de equipamentos obsoletos nas subestações de transmissão, fato que aumenta o risco de acidentes. Estudo elaborado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), para o período 2008-2011, identificou 179 disjuntores (dispositivo que protege a instalação elétrica de sobrecargas) superados, que precisam ser substituídos, e outros 211 em estado de alerta, próximos da superação. Somados, representam 48% dos equipamentos avaliados no período.
O relatório, intitulado Estudo de Curto-Circuito, foi entregue em abril à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para auxiliá-la na fiscalização e modernização do sistema. Mas o ritmo de substituição dos equipamentos tem sido motivo de preocupação. Segundo especialistas, as obras não têm acompanhado a evolução do parque nacional, o que provoca restrições na operação do sistema. Para driblar o problema, têm sido adotadas medidas paliativas para reduzir riscos de danos na rede.
Em apresentação feita há cinco meses, no Encontro ONS/Agentes, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, levantou o problema ao afirmar que "a substituição dos equipamentos superados estava ocorrendo em prazo incompatível com a entrada em operação das novas obras da rede, comprometendo os benefícios que seriam proporcionados pelas novas instalações".
Na ocasião, ele citou como exemplo a Subestação Estreito, prejudicada pela superação de equipamentos em outras instalações. Isso estaria restringindo a operação das usinas da bacia do Rio Grande, que poderia atingir 800 MW. Em entrevista ao Estado ontem, no entanto, Chipp disse que os disjuntores estão sendo trocados e frisou que a superação desses equipamentos não tem relação com o blecaute ocorrido na semana passada.
O presidente da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), José Claudio Cardoso, explica que, além de ser cara, a troca dos equipamentos depende de autorização da Aneel. Segundo ele, em alguns casos, se o custo for muito alto, a agência opta por fazer licitação, afinal o custo é repassado para a tarifa. Outra restrição, comenta o executivo, é que a troca exige a paralisação da operação da subestação. Cardoso comenta que um equipamento superado não tem capacidade para isolar um acidente, que pode se propagar para outras instalações e até explodir.
De acordo com o estudo do ONS, para 2011 o número de disjuntores superados sobe para 433 unidades, além de 230 em alerta. "O grande problema é que não há no setor elétrico vigilância na manutenção do sistema. Não adianta instalar um monte de linhas se não houver manutenção adequada", afirma o professor da USP, Ildo Sauer. "Vivemos uma crise de gestão e organização no setor elétrico."

CPI propõe acelerar indenização por blecaute

Ressarcimento deveria ser feito em 48 horas; hoje são 45 dias.
O deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investiga as tarifas de energia, entregou ontem ao diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, uma proposta de redução dos prazos para que os consumidores que tiveram equipamentos danificados por blecautes sejam ressarcidos pelas distribuidoras. Segundo o parlamentar, hoje o prazo para equipamentos em geral é de 45 dias.
Apenas para geladeiras existe um rito mais rápido, de 48 horas. "O que queremos é que para todos os equipamentos valha o prazo de 48 horas", afirmou.
Hubner afirmou que concorda com a necessidade de acelerar a compensação aos consumidores, embora não tenha falado em prazos. "A Aneel já estava discutindo esse assunto. Estamos pensando em formas para acelerar", disse o diretor-geral da Aneel, ressaltando que isso exigiria mudança nas regras. Para o caso do blecaute na semana passada, que atingiu 18 Estados, o que a Aneel tem feito é pedir a colaboração das distribuidoras para que liberem rapidamente os ressarcimentos.
Hubner ponderou que é necessário tempo para que seja investigada se a real causa da queima do aparelho foi a interrupção do fornecimento de energia.
PRAZOS
O consumidor que deseja reclamar eventual prejuízo tem um prazo de 90 dias, a partir do dia 10/11/09 (data do apagão), para fazer sua solicitação. Em São Paulo esse procedimento pode ser feito pelo site da AES Eletropaulo (www.aeseletropaulo.com.br) ou em formulários à disposição em lojas da empresa ou de sua rede conveniada.
De acordo com a Aneel, a empresa tem um prazo de 10 dias para realizar a vistoria, a partir da reclamação. O PROCON informa que em caso de produtos perecíveis, como alimentos, o prazo é de um dia.
A partir da vistoria, a distribuidora tem outros 15 dias para comunicar se o pedido foi aceito ou não.

Fundação esotérica diz que alertou governo para risco de novo apagão

Médium convocada pelo Senado adverte para a possibilidade de novo blecaute, provocado por fenômenos climáticos.
A médium Adelaide Scritori, presidente da Fundação Cacique Cobra Coral, entidade esotérica que se diz capaz de interferir em eventos climáticos, encaminhou alerta ontem ao governo sobre o risco de novo blecaute no sistema elétrico nacional nos próximos 39 dias, provocado por fortes ventos na divisa do Paraná com São Paulo. A médium, que diz receber o espírito do cacique que dá nome à fundação, poderá depor no Senado para explicar o apagão de 10 de novembro, que deixou 18 Estados sem energia, atendendo à convocação proposta pelo líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM) e aprovada pela Comissão de Ciência e Tecnologia.
A convocação foi feita em tom de deboche, mas levada a sério pela fundação. O senador tucano disse que só a entidade esotérica poderia explicar o apagão, já que o governo não esclarece as causas. Em entrevista por e-mail ao Estado, Adelaide Scritori disse que aceita o convite. Sobre o risco de novos apagões, disse que o governo precisa tomar medidas urgentes se quiser evitar o pior. A seguir, os principais trechos da entrevista:
P - A sra. vai mesmo ao Senado depor sobre o apagão, atendendo à solicitação do senador Arthur Virgílio?
Se for preciso e tiver o que falar, estamos à disposição. A Fundação Cacique Cobra Coral é apolítica e inerte.
P - Conversou com o senador após a notícia da convocação?
Não. Estamos fazendo contato com o senador José Sarney, que conhecemos desde que era presidente, em 1986. No governo dele começou nosso contato com o setor elétrico, por meio do ex-ministro Aureliano Chaves (Minas e Energia).
P - Qual foi a causa do apagão? Foi mesmo um raio?
40% foi meteorológico e os outros 60% referem-se a nota publicada na Isto É de 2008 (nota no dia 16 de janeiro de 2008 citava alerta da médium para o risco da "negligência do governo federal nos últimos anos").
P - O Brasil corre risco de enfrentar outros apagões? Quando?
Mandamos alerta ao governo neste fim de semana sobre risco de novo blecaute, provocado por fortes ventos na divisa do Paraná com Santa Catarina nos próximos 39 dias, se medidas urgentes não forem adotadas. Temos insistido na necessidade de conclusão de um linhão interligando o Sul ao Sudeste. Quando se tem um país com uma área continental como a nossa, sempre corre. Reservatórios estão com níveis excelentes e o fator hidráulico só irá trazer problemas a partir de 2010 ou 2011, por causa de uma grande estiagem que o Centro-Sul vai enfrentar.
P - O que o governo pode fazer para evitar riscos no setor elétrico?
Desde o racionamento de 2001, no Nordeste, quando ajudamos a elevar o nível do São Francisco para encher o reservatório de Xingó e Itaparica, houve um compromisso conosco de concluírem o linhão de Tucuruí, que interliga o Norte com o Nordeste, para troca de energia entre as duas regiões. Nos últimos anos houve vários problemas hidrológicos por lá, mas, como o linhão está pronto, não precisam depender da Fundação Cacique Cobra Coral. Agora um novo linhão precisa unir o Sul ao Sudeste, mas é um investimento de longo prazo. Estamos pedindo uma vistoria em torres de transmissão de localidades que vamos informar ao governo e solicitar averiguações in loco. Faremos uma operação para minimizar os efeitos da tempestade esperada, como já fizemos em outras operações semelhantes para o Ministério de Minas e Energia.
P - A fundação tem feito contatos com o governo? Só com o presidente do Senado, José Sarney, e autoridades do setor elétrico. Neste fim de semana encaminharemos ao Planalto mais detalhes.
O que deve dizer aos senadores ao depor no Senado? O que for perguntado e tiver nexo.
P - A fundação tem realmente o poder de interferir nas condições climáticas? O que pede em troca?
Nós só acolhemos o pedido. Quem pode responder são os governos conveniados. São eles que atestam nossa eficácia. Pergunte a Serra, Kassab, César Maia, Eduardo Paes ou à Eletrobrás, ONS, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, etc.
P - Como a fundação sobrevive?
As empresas Tunikito corretora de seguros são o braço financeiro e empresarial da fundação.

Relatório da ONS não deve sugerir obras para evitar novo apagão

Diretor-geral da ONS diz que ''prevenir apagão como o que ocorreu é antieconômico'' e que 'nenhum país faz isso''.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ainda não havia concluído o relatório sobre o apagão do último dia 10, que atingiu 18 Estados brasileiros, mas o diretor-geral da entidade, Hermes Chipp, adiantou ao Estado que dificilmente vai sugerir obras para evitar a repetição do incidente. "Teria de fazer praticamente um sistema redundante. É antieconômico", afirmou Chipp, que passou o feriado da Consciência Negra na sede do ONS trabalhando no documento que deve ser entregue amanhã ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico.
O executivo já havia adiantado que três curtos-circuitos quase simultâneos provocaram o desligamento das linhas que trazem energia de Itaipu.
Segundo ele, o incidente tem pouca probabilidade de acontecer, o que elimina a justificativa para investimentos de grande porte.
Chipp defendeu ainda que o Brasil altere o critério de segurança, analisando os investimentos em reforço da rede de acordo com o impacto econômico que a falta de energia pode trazer. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Já concluíram o relatório? Será entregue na segunda-feira mesmo?
Estamos trabalhando no relatório, segunda-feira é uma expectativa que eu coloquei. O relatório será entregue para o grupo que foi criado no âmbito do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico e, depois, será encaminhado para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Há alguma indicação de que é preciso reforçar o sistema?
Não se projeta sistema para esse tipo de ocorrência (do apagão de terça-feira), de probabilidade muito remota. Nenhum país do mundo faz isso. Até porque teria de fazer praticamente um sistema redundante. É antieconômico, não se planeja isso. Agora, eu acho, que independentemente dessa ocorrência, nós podemos avançar para critérios de planejamento em pontos estratégicos do sistema, em função da gravidade do impacto de uma contingência. Por exemplo, você pode, com investimento adicional, passar a suportar contingências duplas (como a queda simultânea de duas linhas, por exemplo), desde que o impacto justifique o investimento.
De que tipo de investimento o sr. fala?
Pode ser a duplicação de uma linha, um reforço em subestação. Mas não nesse caso (do apagão) porque aquele sistema já suporta contingência dupla. Veja bem: de 2000 a 2009 ocorreram nove contingências triplas, só que com curtos-circuitos com intervalos de tempo entre um e outro sempre superior a três segundos e, provavelmente, não tão próximos a uma subestação. Não aconteceu nada com o sistema, porque é como se você desse no sistema três pancadas distintas e desse tempo para ele se recuperar entre cada uma delas. Agora não, é como se fossem as três ao mesmo tempo. Não se planeja para isso.
O último apagão levou a um plano de reforço dos equipamentos de ilhamento do sistema. Eles foram feitos?
Olha só, tem outra coisa que está sendo colocada por generalistas, que não é bem assim. Você vai entender o que eu vou dizer: você está operando em regime normal, o sistema está normal, nada está acontecendo. Aí tem uma contingência. A tensão pode cair mais rapidamente ou menos rapidamente. Quando cai rapidamente, como nessa contingência e nos blecautes de 2002 e 1999, ocorre um fenômeno que a gente chama de colapso de tensão, quando a tensão vai a zero ou quase zero. E o mergulho da tensão é uma curva muito íngreme, muito rápida. Não dá tempo de fazer ilhamento. Quando a tensão cai lentamente, você persegue o ilhamento, porque ainda está em condições de tensão para que essa ilha se mantenha. Não vou dizer para você que não possamos fazer nada a partir dessa experiência, nós sempre investigamos para minimizar o efeito dominó. Agora, pela velocidade em que a tensão caiu, é pouco provável conseguir. Temos três metas fundamentais: a primeira delas é trabalhar preventivamente para que esse evento não ocorra novamente. A segunda é, uma vez ocorrido, como minimizar o efeito dominó. A terceira é reduzir o tempo de recomposição.
Então, evitar não é possível...
Para essa contingência, o tipo de evento que ocorreu, se eu tiver alguma indicação de que se pode tomar alguma medida com relação a isolamento, ou proteção adicional para a descarga elétrica, vai ser feito. Agora, ocorrido esse evento, que é de probabilidade baixíssima, se não tiver nenhuma medida preventiva para você evitar... Embora de probabilidade remota, se aconteceu uma vez quer dizer que pode se repetir. Se o relatório indicar que é preciso fazer alguma coisa preventivamente, faremos. Se tiver indicação de que podemos evitar o efeito dominó ou melhorar o tempo de recomposição, também faremos.
E já há alguma recomendação nesse sentido?
Não, não tem, por enquanto não tem. Acredito que, até o segundo segmento, que é o ilhamento, é pouco provável (sugerir medidas), dada a rapidez do colapso de tensão.
E quanto ao tempo de volta?
Quando você relativiza com relação aos outros países, nosso tempo de volta é, em média, menor. Porque é um sistema com dimensão continental, transmissão a longas distâncias. Então, relativamente aos outros países que tiveram blecaute, tivemos um tempo de recomposição menor. Mas não significa que a gente se sente confortável com isso, a gente vai sempre perseguir um tempo menor.
Há especialistas que sugerem a operação de térmicas na base para reduzir a dependência de Itaipu. Faz sentido isso?
Não, nenhum sentido. Você jamais vai impor ao consumidor... Há um mês, eu fui chamado lá na CPI para explicar os Encargos de Serviço do Sistema (taxa cobrada na conta de luz que paga, entre outras coisas, o uso das térmicas), porque nós geramos térmicas para manter o nível-meta (dos reservatórios das hidrelétricas). Todo mundo falando que não quer pagar, não pode pagar. Mas eu digo: "Paga porque o custo do racionamento - e estou falando em racionamento e não em blecaute - é impagável". Agora, gerar térmica para manter o carregamento naquele sistema de 750 kV, que representa cerca de 4 mil megawatts (MW) para ficar esperando uma contingência dessa, de baixíssima probabilidade, é absurdo.
Quando o sr. fala em probabilidade remota, dá para se mensurar? É uma chance em quanto?
Não, não dá. Você não tem idéia do que foi esse curto. Nem gosto de falar nisso. Esse curto que aconteceu não tem nos livros. Três curtos monofásicos, que evoluíram para trifásico, pela proximidade da estação... Isso não existe, foi uma contingência totalmente atípica. Diferentemente do apagão de 1999, esse se espalhou para outras regiões do País.
Isso é um efeito da maior interligação? Tem como evitar?
Em um blecaute com origem muito mais severa como esse, em relação aos outros dois, o sistema Sul ficou intacto e os sistemas Nordeste e Norte, praticamente intactos. Isso foi outra confusão que fizeram. O sistema Sudeste ficou metade ligada e metade apagada. No fundo, esse fenômeno de efeito dominó só afetou quatro estados de maneira significativa: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e parte de Minas Gerais, uns 20%, além do Mato Grosso do Sul. Nos outros Estados, foi atuação do esquema regional de alívio de carga. Esse sistema atua quando há um desequilíbrio entre carga e geração acima de um determinado montante. Todas as distribuidoras contribuem com uma parte (cortando demanda para equilibrar com a carga). Foi uma questão de geração. Pela natureza do impacto do efeito dominó, quatro Estados se afetaram significativamente. O resto foi uma questão de perda de geração. Com um evento muito mais severo, caiu menos nas outras regiões do que na Região Sudeste. Isso significa que o sistema está bem mais robusto do que antes.
É certo que o sistema tinha dependência excessiva de Itaipu naquele momento?
Não. Ela sempre opera com essa carga nessa época do ano, quando está com reservatório cheio e vertendo. A gente explora mais as usinas que estão com os reservatórios cheios, se não tiver nenhum problema de segurança, para poder reduzir o investimento em energia. Nós estávamos com valores bastante folgados suportando inclusive contingência dupla.
O Plano de Ampliações e Reforços (PAR) da rede de transmissão identifica algum ponto crítico na rede?
Não, não. São obras de reforço na segurança para atender aos padrões de desempenho. Nem PAR nem PET (Plano de Expansão da Rede de Transmissão) indicam obras para evitar esse tipo de contingência, é antieconômico. Isso é em qualquer país do mundo, não é só no Brasil. Nem nos países mais desenvolvidos da Europa, na Ásia, não fazem isso. Nem os dois operadores americanos, cada um com carga de 160 mil MW, fazem isso. Ninguém faz isso.

As lições de Ricupero e o apagão

No passado a política externa praticada pelo Itamaraty era chamada de "punhos de renda", caracterizada pelo comportamento soberbo, frio, calculista, sem gestos e sem emoção de seus diplomatas. Com a redemocratização o estilo mudou, mas os diplomatas preservaram a conduta discreta, vestindo as palavras de argumentos técnicos e, por vezes, duros, mas fundamentados na experiência, no conhecimento, no saber e deixando para os governantes a adjetivação dos discursos.
O embaixador Rubens Ricupero é dessa geração e seu desempenho na diplomacia por quase meio século ganhou respeito de veteranos e jovens. Nos últimos dias, em duas entrevistas ao Estado, Ricupero ensinou importantes lições de críticas à política externa do governo Lula, com que o chanceler Celso Amorim certamente concorda, mas não dará curso algum porque foi capturado pelos interesses políticos imediatos da eleição em 2010. Afinal, sua filiação ao PT mostra que também ele tem pretensões eleitorais.
À impetuosidade e ao oportunismo político dos presidentes Lula e Hugo Chávez de incorporarem a Venezuela ao Mercosul na marra e às pressas, Ricupero respondeu com um alerta sobre problemas que podem ocorrer no futuro. Em acordos de comércio - adverte -, o país que se dispõe a ingressar precisa antes discutir suas regras e se comprometer a cumpri-las. Foi o que ocorreu com Portugal e Espanha quando aderiram à União Europeia, em 1986, depois de muitos anos de negociação.
A Venezuela acaba de se tornar o quinto membro do MERCOSUL, sem discutir o conjunto de normas de comércio, muito menos o acordo da Tarifa Externa Comum (TEC), praticada no comércio com terceiros países, que Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai levaram anos negociando para aprová-lo. Enquanto no Congresso a oposição reclamava de falta de democracia na Venezuela, Ricupero foi direto ao ponto da questão.
O coronel Hugo Chávez tem dado provas corriqueiras de não ter vocação para viver em harmonia coletiva, muito menos cumprir acordos que atrapalhem seus objetivos políticos. Seu estilo é afastar barreiras na marra e no grito. Se a mídia lhe faz oposição, ele fecha emissoras de TV e rádio. Se sua popularidade cai, ele inventa uma guerra para reconquistá-la com falsos apelos patriótico-nacionalistas. Rompe contratos unilateralmente, nacionaliza empresas sem indenizá-las pelo investimento feito. Enfim, não gosta de respeitar regras e acordos. Muito menos os que não conhecem ou nem sequer discutiu seu conteúdo - como o MERCOSUL. O chanceler Celso Amorim sabe disso e dos riscos de desmoralização quando chegar o momento em que Hugo Chávez mandar o MERCOSUL às favas.
A segunda crítica do embaixador é ainda mais séria e grave. Por mais de 40 anos atravessando vários governos, ocupando cargos importantes dentro e fora do País, Ricupero tem perfeita noção e consciência de que a função do diplomata é servir aos interesses do Estado (assim, com letra maiúscula), não de governos que se renovam e sucedem a cada quatro anos e trazem objetivos políticos próprios.
A preocupação com a miscelânea que o governo Lula costuma fazer, confundindo razões e interesses de Estado com os do governo e do PT, levou Ricupero a criticar: "O governo está moldando o perfil com o qual quer entrar para a História. A política externa tornou-se mais identificada ao governo e também ao seu partido, o PT. Não está mais identificada ao Estado", afirmou, em entrevista a Denise Chrispim Marin, publicada na edição de domingo passado. E cita como exemplos do dedo de Lula e do PT a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad; a posição do Brasil contra a Colômbia, não como moderador no conflito com a Venezuela; e o ingresso intempestivo e descabido da Venezuela no MERCOSUL.
Aos autoelogios de Lula e do PT à política externa, a experiência de Ricupero responde: dos três eixos da diplomacia - uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU para o Brasil, a conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a preponderância brasileira na América do Sul -, todos fracassaram.
É verdade que o mundo, sobretudo a velha Europa, tem um certo fascínio pela figura e pela liderança de Lula, do operário que chegou ao poder e conseguiu exercê-lo. Diferente de Lech Walessa. Por isso o desculpam em muitas coisas, mesmo no mais primário amadorismo de propor, em 2003, a criação de um fundo mundial para combater a fome arrecadando impostos sobre a venda de armas no mundo. Ou seja, mata-se a fome no planeta incentivando a humanidade a se armar. Que tal?
O apagão político - O governo Lula divagou, mudou versões, criou confusão e não conseguiu convencer ao explicar as razões do apagão. Tampouco dar garantias críveis de não repetição de outros desastres no futuro. Mas nem governo nem oposição focaram um vício de origem às falhas do setor elétrico que atravessa governos e espalha incompetência: o loteamento, entre políticos e apadrinhados, de cargos que deveriam ser ocupados por técnicos de carreira experientes e preparados.
Com exceção de Dilma Rousseff, no início do governo Lula, todos os demais ocupantes da pasta de Minas e Energia têm origem política - do DEM, no governo FHC, e do PMDB (leia-se José Sarney), na gestão Lula.
Se ficasse só nos ministros, o estrago até seria mais controlado. Mas não. O método é ampliado para as diretorias de estatais elétricas e mesmo para funções de segundo e terceiro escalões, em que os políticos enxergam alguma forma de extrair vantagens para seus partidos.
Além de péssimo efeito entre funcionários, derivado do desprezo pelo critério meritório para ganhar promoções e ascender na profissão, o loteamento político cria insegurança entre quem ocupa funções técnicas sempre que precisa contrariar ordens do incompetente chefe. Este, por ter poder de mando, mas não capacidade e preparo para exercer a chefia, sente-se reduzido quando contestado e acaba dando ordens desastradas.Nesse ambiente vale a pergunta: de quem partiu a ordem para desligar a Usina de Itaipu na noite do apagão?

Governo atribui ao mau tempo o maior apagão elétrico em 10 anos

O governo federal acredita que a concentração de "descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes" na região de Itaberá, no interior de São Paulo, causou o apagão que deixou às escuras por quatro horas mais da metade do País, na noite de 10/11/09. Ao todo 18 Estados e 70 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o mau tempo teria provocado um curto-circuito que levou à queda na transmissão de energia da Hidrelétrica de Itaipu. Num efeito dominó, a pane desligou pelo menos 15 linhas de transmissão, segundo estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Apesar da versão oficial, fontes da Eletrobrás disseram ao Estado que o governo continua sem explicação para três fatos: a quantidade de linhas de transmissão desligadas, a área atingida e o horário da pane, a partir das 22 horas, quando o consumo já é baixo. Segundo técnicos, o sistema deveria ter "ilhado" a região inicial do apagão, evitando o alastramento do blecaute e a queda das linhas de corrente contínua (as vias expressas que ligam diretamente Itaipu a São Paulo).
O anúncio das causas do apagão foi feito após mais de 20 horas de informações contraditórias do governo, que chegaram a irritar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e fizeram a oposição convocar Lobão, além da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (pré-candidata à presidência), para prestar esclarecimentos em três comissões do Congresso.
Lobão negou que o problema tenha sido provocado por falta de investimentos e defendeu a solidez do sistema elétrico brasileiro. "Nenhum governo fez tantos investimentos neste setor quanto o atual", disse o ministro, citando o aumento de 30% nas linhas de transmissão entre 2003 e 2009 e os R$ 22 bilhões investidos. Ele comparou o blecaute a uma acidente de avião ao dizer que "as máquinas são feitas para serem perfeitas, como o avião, que as vezes cai".
Após reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), grupo que tem a função de acompanhar a segurança do abastecimento de energia elétrica no País, Lobão tentou por diversas vezes mostrar que situações extremas de meteorologia, como as que teriam sido registradas ontem na região de Itaberá, podem afetar qualquer sistema em qualquer país.
O Brasil é o país de maior concentração desses fenômenos meteorológicos, e essa área concentra ainda mais. Ele citou casos que teriam ocorrido no leste dos EUA, no Canadá e na Itália, semelhantes ao caso brasileiro. Em 2003, EUA e Canadá levaram quatro dias para restaurar o sistema elétrico depois de uma pane que afetou 50 milhões de pessoas.
O diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek, disse que foi a "Lei de Murphy" que provocou o apagão de anteontem. Dos 1 mil quilômetros de rede, em apenas seis quilômetros as cinco linhas de transmissão andam juntas. "E foi bem nesse trecho que caiu o raio", afirmou. Samek acredita que a solução para evitar que o apagão se repita é depender menos de Itaipu. Especialistas ouvidos pelo Estado também apontaram a "fragilidade" do sistema interligado.
De acordo com Luiz Eduardo Barata, diretor do ONS, apesar da extensão do apagão, os sistemas de proteção funcionaram adequadamente, impedindo que o defeito se propagasse por toda a rede, o que poderia causar danos maiores. "O grande prejuízo que se teve foi a interrupção no suprimento de energia para o consumidor, mas do ponto de vista de prejuízos materiais não existe nada, porque houve proteção devida e correta dos circuitos", disse.
O ONS estima que houve interrupção parcial de energia no Sudeste e no Centro-Oeste equivalente a 28.800 megawatts médios (MW) ou mais de 40% da demanda de energia do País. O blecaute ocorrido em 1999 durou quatro horas e resultou numa queda de cerca de 70% da energia. Em 2002, a queda foi de 60%.

ONS quer evolução na segurança

Proposta do operador é reforçar áreas de maior atividade econômica para reduzir prejuízo com apagão.
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, defende uma evolução nos critérios de segurança do setor elétrico brasileiro para reduzir prejuízos econômicos com eventuais cortes de energia. A proposta, diz, não tem relação com o blecaute que atingiu 18 Estados, mas pode evitar que acidentes de menor proporção causem transtorno a indústrias e população. Segundo Chipp, o reforço a áreas de grande atividade econômica é tendência mundial.
Atualmente, o sistema brasileiro opera com critério de segurança conhecido como n-1, segundo o qual há sempre uma linha adicional para atuar em caso de queda da primeira linha - o mesmo vale para equipamentos em subestações. Em casos específicos, como no sistema de escoamento de Itaipu, há uma terceira linha, garantindo segurança em caso de quedas das outras duas.
Chipp sugere a definição de regiões estratégicas que poderiam receber a terceira linha, ou equipamento, caso o impacto econômico do corte de energia justifique o investimento. "É uma tendência que vemos em outros lugares do mundo: a evolução para um critério levando em conta a relação custo-benefício", argumenta. A ideia é reforçar ainda mais o abastecimento quando o impacto for mais caro do que o investimento. A linha de Itaipu, ressalta, não se enquadra nesse caso.
Chipp diz que ainda não há estudo sobre quais seriam as áreas estratégicas. Mas adianta que a análise deve respeitar a probabilidade de acidentes nas linhas de transmissão que abastecem as regiões. Como exemplo, cita as linhas que passam por regiões com grande probabilidade de desastres naturais ou ocorrência de queimadas.
"Há determinados locais que vale a pena observar a contingência dupla (ou um critério n-2), porque, se ela ocorrer, o impacto pode ser muito severo", aponta. A identificação desses locais não se iniciou porque o sistema trabalha ainda com o critério de n-1. "Mas, quando se olha investimentos futuros, tem de partir para essa linha, independentemente do que aconteceu. Tem de olhar contingências prováveis.
"O operador do sistema elabora anualmente o Plano de Ampliação e Reforço (PAR), que sugere investimentos para expandir a capacidade ou melhorar a segurança da rede de transmissão. Em um sinal de que não vê problemas no sistema de escoamento de Itaipu, o ONS incluiu no PAR vigente só uma obra relacionada a este sistema: a instalação de mais um transformador na subestação Tijuco Preto, de Furnas.
A medida tem por objetivo evitar a redução da capacidade de intercâmbio entre as Regiões Sul e Sudeste, em caso de queda de um dos três transformadores instalados no local. "É para quando tiver indisponibilidade de um transformador não reduzir a capacidade de transferência de energia do Sul para o Sudeste. Para evitar que tenha situação hidrológica boa no Sul e não se possa transferir", diz Chipp. "Não tem nada a ver com o blecaute.
"FRASES de Hermes Chipp, Diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
- (A definição de regiões estratégicas que poderiam receber a terceira linha, ou equipamento, caso o impacto econômico do corte de energia justifique o investimento) "é uma tendência que vemos em outros lugares do mundo: a evolução para um critério levando em conta a relação custo-benefício"
"Quando se olha investimentos futuros, tem de partir para essa linha, independentemente do que aconteceu. Tem de olhar contingências prováveis"
"Há determinados locais que vale a pena observar a contingência dupla porque, se ela ocorrer, o impacto pode ser muito severo"

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Busca por causas põe ministros em contradição e irrita Lula

Pela manhã, não havia consenso sequer sobre número de linhas que sofreram pane.
Irritado com versões desencontradas sobre o apagão que deixou mais da metade do País às escuras, na noite de terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da equipe informações consistentes e unificadas sobre o episódio. "Parem de falar besteira sobre coisas que vocês não sabem", esbravejou ele logo pela manhã, de acordo com relato de ministros, ao ouvir diferentes opiniões sobre as causas do blecaute. "Não quero meias explicações nem dados parciais."
O presidente disse a auxiliares que o conflito de versões acabava ajudando a oposição a elaborar "teses" contra o governo. "Não falem nada antes de ter certeza", insistiu. A ordem foi transmitida ao comando nacional do PT, que estava reunido em Brasília, com o objetivo de traçar diretrizes para a campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência, em 2010.
Lula ficou particularmente irritado com a explicação do presidente da Itaipu, Jorge Samek, de que "um tufãozinho" poderia ter derrubado torres de transmissão. Embora muitas autoridades adotassem o argumento dos "incidentes meteorológicos" para justificar a queda de mais de 50% da demanda de energia, não havia consenso sobre o número de linhas de transmissão que teriam sofrido pane, causando efeito dominó no sistema elétrico.
Foram muitas as informações contraditórias. Por voltas das 14 horas, ao fim de uma solenidade no Itamaraty, Lula admitiu que não sabia o que havia provocado o apagão. "Duas coisas estão certas: não faltou geração de energia e o problema não foi de falta de linha para interligar", afirmou ele, evitando qualquer relação do apagão de ontem com o do governo Fernando Henrique Cardoso.
Na época, Lula chegou a dizer que a gestão de FHC havia sofrido um "apagão do planejamento". "O que aconteceu em 2001 foi que a gente não produzia energia suficiente, não tinha linha de transmissão para interligar o sistema. Nós fizemos não apenas forte investimento no setor de energia como forte investimento na modernização do sistema energético brasileiro", afirmou ontem o presidente.
Logo cedo, enquanto o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, garantia que o blecaute teria sido causado pelo desligamento de três linhas de transmissão que transportam energia da hidrelétrica de Itaipu para o sistema nacional, o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, ia a outra direção. Muniz dizia que a pane havia derrubado as cinco linhas que levam para São Paulo a energia gerada na hidrelétrica. A explicação foi compartilhada por Samek, presidente de Itaipu. "Já tivemos problemas em uma ou duas linhas, mas nunca nas cinco ao mesmo tempo", disse o executivo-chefe da usina.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que também integra o Conselho de Itaipu, foi um dos primeiros a expor a contradição da versão da queda de linhas de transmissão. "Se a linha tivesse sido danificada por um temporal, a energia não teria voltado às 5 horas", observou Bernardo. Detalhe: as linhas com problemas causados por temporais ligam Ivaiporã (PR), Itaberá (SP) e Tijuco Preto (SP), mas a cidade de Itaberá, centro dos "incidentes meteorológicos", não teve apagão.

Brasil de hoje é diferente do Brasil do racionamento

Ministra afirma que sistema elétrico é 'extremamente robusto'; para Edison Lobão, apagão é 'assunto encerrado'.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, rebateu em 12/11/09, as críticas feitas à demora na apuração das causas que levaram ao apagão elétrico na noite de terça e afirmou que a comparação feita com episódios do governo anterior é inadequada. "É absolutamente inequívoco que o Brasil de hoje é diferente do Brasil que sofreu racionamento por oito meses. Temos energia sobrando, naquela época faltava", afirmou a jornalistas após evento no CCBB a respeito dos números do desmatamento na Amazônia Legal.
Foi a primeira vez que a ministra, que já comandou a pasta de Minas e Energia, se pronunciou sobre o assunto. Dilma garantiu que o sistema de geração e transmissão de energia é "extremamente robusto" e que o episódio está sendo avaliado pelo Ministério de Minas e Energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)."Respondo a vocês com o que disse Lobão (ministro de Minas e Energia, Edison Lobão). Não tenho nenhuma informação a acrescentar", afirmou.
De acordo com a ministra, o sistema foi submetido a uma situação muito forte de vendaval, chuvas e raios que teria desligado a transmissão como forma de proteção. "A avaliação da causa é essa. Se houve mais elementos, a responsável é a Aneel", disse.
Dilma lembrou que em 2005 houve uma situação similar no Brasil, ainda que não na mesma proporção, nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Ela citou sua experiência à frente da pasta, disse que sua resposta não era politizada e salientou que os diferentes setores de energia elétrica devem ser ouvidos sobre o tema.
A ministra voltou a dizer que a Aneel é que ficará a cargo do levantamento completo das causas, mas mostrou-se tranquila em relação a isso, afirmando que a agência já fez uma tarefa similar no evento do passado. Ela encerrou a entrevista coletiva mostrando bom humor. "Nós, seres humanos, temos um problema imenso: não controlamos chuva, vento, raio, apesar de sempre termos tentado. Mas não conseguimos ainda. Talvez, algum dia."
'ASSUNTO ENCERRADO'
Também nesta quinta, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o apagão que deixou 18 Estados brasileiro às escuras não foi discutido em uma reunião que ele teve hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não tratamos do blecaute. O assunto está encerrado. Conseguimos restaurar o serviço em pouco tempo e já identificamos as causas", afirmou o ministro, logo após sair de um encontro que contou também com autoridades do setor elétrico. Lobão, entretanto, afirmou que o governo analisa providências para "melhorar mais ainda" o sistema que "já é bom e confiável."


Pane agora afetou mais Estados do que em 1999

Mas sistema, agora, mostrou mais agilidade para restabelecer energia.
O apagão de 10/11/09 afetou um número maior de Estados do que o último grande incidente do setor, em 1999, quando dez deles ficaram mais de quatro horas sem luz. Desta vez, por conta de maior interligação entre as regiões brasileiras, a queda de linhas de transmissão que transportam energia de Itaipu afetou 18 Estados, alguns apenas parcialmente. Mas, segundo especialistas, o sistema mostrou mais agilidade para o restabelecimento da energia.
Os dois apagões tiveram início pouco depois das 22 horas. Em 1999, o governo também alegou que a interrupção foi provocada pela queda de um raio, desta vez sobre subestação de Furnas em Bauru. Naquela ocasião, o suprimento foi cortado em 22 mil megawatts (MW) médios. Agora, 28 mil MW médios caíram. O número de consumidores afetados, no entanto, foi menor agora - cerca de 40% da rede, ante 70% em 1999.
"O apagão de agora foi mais amplo porque o sistema está mais interligado. Mas mostrou que está também mais ágil para restabelecer o fornecimento", comentou o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e presidente da Eletrobrás no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva. De fato, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia começou a ser restabelecida por volta das 22h30, pela região Sul. Às 0h45, a energia começava a chegar a Rio e Espírito Santo.
O incidente desta semana chegou a Estados como Rondônia e Acre, além de regiões do Nordeste, que ficaram a salvo do blecaute de 1999. Isso porque hoje há mais linhas de transmissão ligando o Sudeste a essas regiões, resultado de investimentos na ampliação da rede brasileira nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que permitem maior intercâmbio de energia, as novas linhas tornam Norte e Nordeste mais vulneráveis a problemas no Sul e Sudeste.
A vulnerabilidade, por sinal, é apontada por especialistas como um sinal de que as lições de apagões anteriores não foram devidamente aprendidas. Em 2002, após o apagão que novamente deixou dez Estados sem luz, as autoridades do setor elétrico anunciaram um grande programa de investimentos em sistemas de "ilhamento" da rede, que impediriam o efeito dominó observado anteontem.
SOBRA
O blecaute de 1999 é encarado como um prenúncio do racionamento de 2001, quando o País teve de economizar energia para evitar apagões. Hoje, por outro lado, o Brasil passa hoje por um momento de sobreoferta de energia, por conta das fortes chuvas que caíram durante o inverno e da queda no consumo. Segundo dados do ONS, os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, principais pulmões do setor elétrico, estavam com 68,8% de sua capacidade de armazenamento na terça-feira.
O volume é 18,2 pontos porcentuais superior ao verificado em 10 de novembro de 2008, o que significa que o estoque de energia no sistema é hoje 34,8 mil megawatts médios maior do que o daquele dia. O nível dos reservatórios das usinas do Sudeste/Centro Oeste na última terça-feira era 44,1 pontos porcentuais acima do nível mínimo de segurança estabelecido para esta época do ano. Para especialistas, o cenário indica que não há riscos de suprimento pelos próximos dois anos. No início de agosto de 2001, as hidrelétricas daquelas regiões estavam com 26,7% de sua capacidade de armazenamento.

Ministra agora tentará mostrar que não há crise

Planalto quer destacar experiência de Dilma no setor.
Depois de montar uma operação para blindar a ministra Dilma Rousseff logo após o apagão, o governo quer agora que sua candidata ao Palácio do Planalto assuma aos poucos a linha de frente nas respostas às críticas da oposição. A estratégia, acertada pelo Planalto e pelo núcleo encarregado de montar a campanha da chefe da Casa Civil, é aproveitar a experiência dela na área para tentar desconstruir a tese de que o Brasil estaria à beira de uma nova crise energética.
Ex-ministra de Minas e Energia, Dilma evitou, até ontem, situações que a obrigassem a tratar do blecaute. O governo achou melhor tirá-la da linha de tiro num primeiro momento, mas deve reverter essa situação assim que estiverem mais claras as causas da falha no fornecimento.
Dilma não deve tomar a iniciativa de abordar o assunto, mas não vai fugir do debate, garantem aliados. A ideia é aproveitar agendas públicas para rebater os ataques do PSDB, mais precisamente as entrevistas que conceder à imprensa, como ontem.
Em 11/11/09, dia seguinte ao blecaute, Dilma reuniu-se com membros do governo e dirigentes petistas para definir como reagiria ao noticiário. Ela concordou com a proposta de submergir por alguns dias, para aguardar os esclarecimentos sobre os motivos do apagão e a análise sobre as condições em que se encontra o sistema de energia do País. Ela passou o resto do dia em casa, estudando as condições da rede e recebendo informações sobre os acontecimentos minuto a minuto.
Após o blecaute, o Planalto achou mais prudente deixar que outros membros do governo filtrassem os primeiros ataques da oposição. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, Jorge Samek, foram encarregados de prestar os esclarecimentos na área técnica. Para as reações políticas, entraram em cena o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e os líderes do PT e do governo na Câmara e no Senado.
DISCURSO
A notícia do blecaute chegou justamente quando Dilma começava a colocar em prática um plano para endurecer o discurso contra os tucanos. A ideia, nesse caso, era responder ao que o governo entendeu como uma ofensiva do PSDB contra a agenda de pré-campanha que a chefe da Casa Civil iniciou há algumas semanas. O estopim da mudança no discurso de Dilma foi o artigo publicado no Estado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no qual disse haver um "autoritarismo popular" e um "subperonismo" no governo Lula.
O novo tom das falas da ministra apareceu já na noite de sexta-feira da semana passada, quando ela acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 12ª edição do Congresso do PC do B. Surpreendendo a plateia de militantes da sigla aliada, a ministra abriu o discurso com duras críticas às "forças do passado", que descreveu como "patéticas" e "atrasadas".
No dia seguinte, com prefeitos do PT, Dilma manteve a mesma linha. Disse que existe uma "oposição quase midiática" no País. Na terça-feira, ela retomou as críticas, no Rio.
''Não estamos livres de blecautes'', diz Dilma, em 1ª aparição após apagão
Ministra-chefe da Casa Civil afirma que assunto 'está encerrado' e afasta possibilidade de retomar racionamento
Depois de submergir por mais de 40 horas, após o apagão da terça-feira à noite, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, falou ontem pela primeira vez do problema e admitiu que o País pode voltar a ter apagões. "Nós não estamos livres de blecautes", declarou a ministra.
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro no dia 29 de outubro, Dilma afirmou: "Nós também temos uma outra certeza, que não vai ter apagão. É que nós hoje voltamos a fazer planejamento. Então, nós olhamos, qual é a necessidade que o Brasil tem de energia nos próximos cinco anos? Nós, ao olharmos isso, providenciamos as usinas que são necessárias para o Brasil."
A ministra e pré-candidata ao Planalto fez questão de diferenciar o que houve terça-feira com o que ocorreu na gestão Fernando Henrique Cardoso, negando que o governo tenha prometido que não ocorreriam mais blecautes. "O que nós prometemos é que não terá neste País mais racionamento. Racionamento é barbeiragem", atacou Dilma. "Eu não vou entrar nesse tipo de polêmica, que não me interessa. Não é por aí a discussão. Não se pode politizar uma coisa tão séria para o País. Respondi a vocês tecnicamente".
Antes de avisar que, para ela, o assunto "está encerrado", a ministra insistiu que "não teve" apagão e afirmou que a imprensa estava "confundindo" duas coisas. Para a ministra, "uma coisa é blecaute" e emendou que "ninguém pode prometer que não vai ter interrupções nesse sistema". Segundo ela, o que ocorreu não significa uma fragilidade do sistema e que, para ele ser 100% seguro, seria "muito mais caro" e "nós teríamos de pagar uma conta de luz bastante mais gorda do que nós pagamos". "Porque nenhum país do mundo tem esse nível de redundância." Em seguida, afirmou que o Brasil trabalha com 95% de segurança.
A ministra "lamentou" os transtornos causados pelo apagão aos consumidores, reconhecendo que o fato foi "muito desagradável". Mas afirmou que não se pode "tentar apresentar ao País uma fragilidade que não existe". Depois de insistir que "o Brasil de hoje é diferente do Brasil que sofreu oito meses de racionamento" porque "nós temos energia sobrando e, naquela época, tinha racionamento", a ministra comentou que não era possível evitar as intempéries.
"Se tem uma coisa que nós humanos não controlamos são as chuvas, raios e ventos", declarou, ao salientar que a matriz energética do Brasil tem um diferencial positivo em relação à de países desenvolvidos. Lembrou que enquanto grande parte da Europa e os EUA usam termelétricas movidas a combustíveis fósseis, no Brasil a matriz energética é formada na maior parte por hidrelétricas. Dilma disse ainda que a Aneel vai investigar o que aconteceu.
Oposição quer levar Dilma à Câmara
O apagão alimentou os discursos da oposição no Congresso e levou seus líderes a convocar os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de Minas e Energia, Edison Lobão, a depor em três comissões, duas da Câmara e uma do Senado. A oposição tratou sempre a ministra Dilma como candidata oficial do presidente Lula à sucessão em 2010 e lembrou uma entrevista que ela concedeu ao programa Bom Dia Ministro, no dia 29.
As comissões de Fiscalização e Controle e de Minas e Energia, da Câmara, farão audiência pública conjunta para ouvir as explicações de Lobão. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), fez o convite para Lobão e Dilma explicarem o apagão na Comissão de Infraestrutura da Casa. "Quero que venha dar explicações a ministra que disse que apagão nunca mais aconteceria. No governo passado, o que houve foi um racionamento. Desta vez, foi apagão", disse o senador tucano. Em 1999, ainda no governo Fernando Henrique, o Brasil sofreu um outro grande blecaute, que atingiu dez Estados e o DF.
O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), ironizou comentários que Dilma teria feito recentemente. Segundo Aníbal, "dias atrás" ela teria dito: "Apagão no País? Nem morta". O tucano criticou as justificativas apresentadas pelo governo. "Não foram questões climáticas, tem alguma coisa a mais." Na Comissão de Fiscalização da Câmara, o requerimento de convite a Lobão é do deputado do PSDB Vanderley Macris (SP), que informou que o ministro comunicou à comissão que comparecerá - mas as datas não foram definidas.
Na Comissão de Minas e Energia, o convite ao ministro é de autoria do líder do PPS, deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP). Para ele, a falha no fornecimento de energia revela uma "fragilidade" do sistema elétrico. Segundo Macris, Lobão telefonou à presidência da Comissão de Fiscalização quando soube da aprovação do requerimento e se colocou à disposição dos deputados.
Jardim afirmou que o governo precisa aumentar os investimentos no setor para evitar escassez. O deputado lembrou que o governo tem acionado um número cada vez maior de termelétricas e afirmou que o uso da energia dessas fontes, mais cara e mais poluente, é resultado de falta de planejamento.
ENSINAMENTO
A senadora e pré-candidata do PV à presidência, Marina Silva, afirmou, após conversas com especialistas para avaliar as causas do blecaute, que o caso serve como "ensinamento" para a questão de investimentos na área. Para ela, o setor elétrico merece maior planejamento e cuidado técnico. "Precisamos considerar que isso causa um prejuízo social, moral, econômico e político", alertou.

ONS ainda busca explicação para curto-circuito que causou apagão

Uma semana depois do incidente, setor já põe em xeque competência do Operador Nacional do Sistema.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) continua na busca dos motivos da queda simultânea das três linhas de transmissão da energia da Hidrelétrica de Itaipu, que causou o apagão da semana passada. Só se sabe que houve curto-circuito.
Segundo fontes ligadas ao órgão, a falta de informação tem colocado em xeque até mesmo a competência do operador. "O grande problema é que eles ainda não conseguiram decifrar todos os fatores que provocaram o blecaute", afirmou a fonte.
Em17/11/09, depois de reunião com mais de 80 técnicos do ONS, Grupo Eletrobrás e outras empresas do setor para produzir o relatório que será entregue à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o operador voltou a bater na tecla de que o apagão foi provocado por condições climáticas adversas, como um raio.
Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já havia dado a mesma justificativa para o blecaute, fato que foi contestado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo os especialistas, a baixa intensidade da descarga não seria capaz de provocar um desligamento como o que ocorreu.
Para o presidente da consultoria de energia PSR, Mario Veiga, é muito difícil especular sobre qualquer motivo que tenha provocado o apagão. Mas ele não descarta a possibilidade de um raio ter atingido a subestação. "É preciso deixar claro, no entanto, que não é qualquer raio nem qualquer vento que provoca um apagão da dimensão do ocorrido na semana passada."
Além disso, explicam técnicos do setor, nenhum blecaute desse tipo ocorre por um único fator. Trata-se de uma conjunção de motivos. O ONS, no entanto, descarta algumas possibilidades, como a ação de algum hacker ou sabotagem. "Nenhuma ação humana seria capaz de derrubar as três linhas em espaços tão curtos de tempo", afirmou um técnico.
Outra hipótese descartada é uma sobrecarga de energia nas linhas. O sistema já havia passado pelo horário de pico de maior consumo de energia e as tempestades que atingiram a região durante o dia estavam um pouco mais fracas. "Ou seja, o pior já tinha passado", avaliou um especialista.
SEQUÊNCIA
Um documento da diretoria técnica de Itaipu sobre a operação da hidrelétrica, em 10 de novembro, dia do apagão, mostrou que o sistema de transmissão da energia da usina para o Brasil já havia apresentado problemas no período da tarde, quase 10 horas antes do blecaute.
Segundo o relatório, houve o desligamento automático, às 13h31, da linha de 765 kV Itaberá/Tijuco Preto 02, "supostamente causado por descarga atmosférica, sendo ligada às 13h56min após análise das proteções atuadas".
A informação sobre o problema no sistema de transmissão consta no material encaminhado pela direção de Itaipu ao Ministério Público Federal (MPF) de Goiás, que abriu procedimento administrativo para apurar as causas e os responsáveis pelo apagão da semana passada.
A diretoria técnica da usina informou ao MPF-GO que, por recomendação do ONS, o "intercâmbio Itaipu/Eletrobrás (60 Hz) foi reduzido em até 1,4 mil MW médios" das 13h30min às 19h15min. Essa medida foi adotada por conta do registro de descargas atmosféricas ao longo do sistema de transmissão de 765 kV - medida adotada sempre pelo ONS em casos de tempestades.
Apesar das medidas operacionais preventivas, houve o desligamento de todas as linhas de transmissão que escoam a energia da usina ao Brasil e ao Paraguai às 22h13, provocando a perda total da geração de Itaipu. Segundo o ONS, os dois fatos não tem nenhuma ligação.
O apagão hora a hora
Sistema de transmissão teve pane quase 10 horas antes do apagão no dia 10/11/09.
13h30min – ONS recomenda redução da geração de Itaipu, “devido a descargas atmosféricas ao longo do sistema”
13h31min – Desligamento automático da linha de Itaberá – Tijuco Preto 02, “causada por descarga atmosférica”
13h56min – Sistema é religado, “após análise das proteções atuadas”
19h15min – ONS determina o fim da redução de potência de Itaipu, que havia sido determinada às 13h30
19h30min – Como a média adicional da recomendação da NOS das 13h30, vertedouro da hidrelétrica é fechado
22h13min – Perda total da geração de Itaipu com a interrupção do envio de 10,9 mil MW para o Brasil e 880 MW ao Paraguai
22h25min – As unidades geradoras de Itaipu são restabelecidas
22h48min – Normalizado o fornecimento de energia para o Paraguai
23h30min – Início do restabelecimento do fornecimento para o Brasil
03h51min – Normalizado o fornecimento de energia para o Brasil

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Gestão Lula ''aparelhou'' o setor

Apagão pôs em xeque a gerência e a manutenção do sistema.
O apagão de terça-feira lançou dúvidas sobre a infraestrutura elétrica brasileira. Um problema tão grave poderia revelar tecnologia defasada. Especialistas, porém, descartam essa hipótese. Os equipamentos usados no sistema de transmissão nacional estão dentro dos padrões internacionais e não despertam preocupações. O problema pode estar, segundo eles, no gerenciamento e na manutenção. "É inegável que houve um aparelhamento político dos órgãos reguladores do sistema elétrico no governo Lula e isso pode ter prejudicado tanto a manutenção técnica quanto a fiscalização dos sistemas de segurança", criticou Otavio Santoro, sócio-diretor da Indeco, empresa especializada em soluções em energia.
O diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Eduardo Barata, disse que a entidade avalia a implementação de um novo software de gestão do setor em 2011. Segundo ele, os preparativos para a substituição do atual, usado há quase uma década, podem ter motivado as críticas atuais.
"O apagão pode ter servido como um alerta, mostrando que nem tudo está indo tão bem quanto fazem supor os investimentos constantes no setor", disse o diretor do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles, lembrando que o consumidor de energia paga anualmente R$ 8 bilhões pelo transporte de energia em sua conta de luz. Na sua opinião, o governo deveria focar no desenvolvimento de fontes de geração mais próximas ao mercado, evitando sobrecarregar a rede de transmissão.
Já Mário Veiga, da PSR Consultoria, lembra que os investimentos feitos pelas empresas têm contribuído para melhorar sobremaneira o sistema, mas não há a transparência para permitir à sociedade visualizar o que já foi feito. Ele lembrou da lista de recomendações apresentadas em 2003, pelo então presidente da Eletrobrás, Altino Arantes Filho. Indagado, Barata comentou que só falta implementar um circuito alternativo que havia sido planejado entre Foz do Iguaçu e Cascavel (PR).
REFORÇO
O Plano de Ampliações e Reforços do SIN (PAR) para os anos de 2009 e 2011 só prevê uma obra relacionada ao sistema de escoamento de Itaipu: a instalação de uma unidade reserva do transformador de alta voltagem da subestação de Tijuco Preto, de Furnas. O plano, elaborado uma vez por ano, lista uma série de obras que têm como objetivo aumentar a capacidade de transmissão para a absorção de energia nova, além de garantir maior confiabilidade ao sistema.

Lula: ''Não sabemos o tamanho do vento''

Em discurso, presidente diz que não há controle sobre intempéries
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, usou seu discurso no lançamento do plano de ação para prevenção e controle do desmatamento da Amazônia legal para defender o governo do apagão de terça-feira à noite, sem fazer nenhuma referência ao que chamou no dia anterior de "incidente". "Nós não controlamos as intempéries", afirmou, em discurso de improviso.
Anteontem, após o conflito de versões entre ministros, o governo buscava uma linha só de defesa. O presidente chegou a dizer a auxiliares que o conflito de versões acabava ajudando a oposição a elaborar "teses" contra o governo. "Não falem nada antes de ter certeza", insistiu.
"Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tem algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma delas eram as intempéries", declarou Lula, ontem, acrescentando que "dá um terremoto, o Japão faz casa de borracha, faz casa de papel, aqui no Brasil faz piscinão, piscininha".
E o presidente ainda completou: "A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva. Sabe que, quando vem, tudo que a gente bolou, escafedeu-se." Na sequência, ressaltou que a questão do clima "é delicada, porque o mundo é redondo". "Se o mundo fosse quadrado ou retangular e a gente soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, torce pra ficar só lá. Mas o mundo gira e a gente também passa lá embaixo onde está mais poluído. A responsabilidade é de todos."
Cobrado sobretudo pelas várias vezes em que citou o racionamento e o apagão do governo Fernando Henrique Cardoso, Lula se mostrou absolutamente impaciente durante toda a cerimônia no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que durou duas horas e meia. Inicialmente, mostrou-se insatisfeito com a quantidade de discursos: dez, incluindo o dele.
O presidente se irritou depois com o fato de o PowerPoint preparado pelo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, ter demorado a funcionar. Lula se levantou, gesticulou, cobrou. "Alguém que seja técnico vai fazer funcionar esta TV?", indagou. Em seguida, afirmou que "depois de toda a espera, espero que a gente tenha notícia para dar para vocês".
Gestão Lula ''aparelhou'' o setor
Apagão pôs em xeque a gerência e a manutenção do sistema.
O apagão de terça-feira lançou dúvidas sobre a infraestrutura elétrica brasileira. Um problema tão grave poderia revelar tecnologia defasada. Especialistas, porém, descartam essa hipótese. Os equipamentos usados no sistema de transmissão nacional estão dentro dos padrões internacionais e não despertam preocupações. O problema pode estar, segundo eles, no gerenciamento e na manutenção. "É inegável que houve um aparelhamento político dos órgãos reguladores do sistema elétrico no governo Lula e isso pode ter prejudicado tanto a manutenção técnica quanto a fiscalização dos sistemas de segurança", criticou Otavio Santoro, sócio-diretor da Indeco, empresa especializada em soluções em energia.
O diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Eduardo Barata, disse que a entidade avalia a implementação de um novo software de gestão do setor em 2011. Segundo ele, os preparativos para a substituição do atual, usado há quase uma década, podem ter motivado as críticas atuais.
"O apagão pode ter servido como um alerta, mostrando que nem tudo está indo tão bem quanto fazem supor os investimentos constantes no setor", disse o diretor do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles, lembrando que o consumidor de energia paga anualmente R$ 8 bilhões pelo transporte de energia em sua conta de luz. Na sua opinião, o governo deveria focar no desenvolvimento de fontes de geração mais próximas ao mercado, evitando sobrecarregar a rede de transmissão.
Já Mário Veiga, da PSR Consultoria, lembra que os investimentos feitos pelas empresas têm contribuído para melhorar sobremaneira o sistema, mas não há a transparência para permitir à sociedade visualizar o que já foi feito. Ele lembrou da lista de recomendações apresentadas em 2003, pelo então presidente da Eletrobrás, Altino Arantes Filho. Indagado, Barata comentou que só falta implementar um circuito alternativo que havia sido planejado entre Foz do Iguaçu e Cascavel (PR).
REFORÇOO Plano de Ampliações e Reforços do SIN (PAR) para os anos de 2009 e 2011 só prevê uma obra relacionada ao sistema de escoamento de Itaipu: a instalação de uma unidade reserva do transformador de alta voltagem da subestação de Tijuco Preto, de Furnas. O plano, elaborado uma vez por ano, lista uma série de obras que têm como objetivo aumentar a capacidade de transmissão para a absorção de energia nova, além de garantir maior confiabilidade ao sistema.

Governo põe Itaipu sob suspeita

Agência quer saber se planejamento de produção foi devidamente autorizado e se houve erro de operação do ONS
Apesar de o diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek, ter dito ainda na terça-feira que a usina havia contribuído com "zero de problema" para o apagão, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vão investigar a geração da hidrelétrica na noite da pane no sistema de transmissão. Os órgãos de regulação e de planejamento da geração e distribuição querem saber se a produção a plena carga das 18 turbinas de Itaipu (11.850 megawatts) sobrecarregou e fragilizou as linhas de transmissão, deixando-as mais vulneráveis a "incidentes meteorológicos".
A Aneel terá de saber também se o planejamento da produção de Itaipu foi devidamente autorizado pelo ONS e se, eventualmente, houve erro do próprio Operador Nacional ao permitir uma produção acima do suportável pela rede de transmissão. "Itaipu pode ter trabalhado em zona de risco", disse ontem ao Estado uma fonte do governo.
Essa pressão sobre a rede pode até forçar um curto-circuito, levando a um desligamento em cascata do sistema de transmissão. "Raios, ventos e chuvas fortes", causas apontadas pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia) para o apagão de terça, podem apenas ter precipitado uma pane que já era iminente.
O sistema de controle de velocidade dos geradores monitora a frequência da rede. Quando sobe a velocidade de rotação das turbinas, em um momento de baixo consumo, o sistema começa a tirar geração. Quando uma grande linha de transmissão cai e provoca uma redução abrupta da carga, o gerador da usina hidrelétrica tende a acelerar. Para evitar pane em cadeia no sistema, o gerador tem de ser desligado.
O sistema hidrelétrico é uma cascata de usinas, e Itaipu é a última da série do Paraná. Como não há outras usinas abaixo dela, a lógica da operação é "maximizar a geração a jusante" - nas usinas acima de Itaipu -, onde é possível armazenar energia, isto é, onde é possível estocar água para geração futura.
Em razão do controle rigoroso do tamanho do Lago de Itaipu, por causa dos tratados firmados com a Argentina e o Paraguai, ela é uma "usina fio d"água", e não de armazenamento. A tendência, para desperdiçar o mínimo de água possível, é que a hidrelétrica gere o máximo de energia com o "fio d"água" corrente. Pelos acordos internacionais, o reservatório de Itaipu tem um estoque limitado de água para evitar que, na eventualidade de abertura total das comportas, isso provoque inundações de proporções catastróficas no território argentino.
O ONS tem de entregar à Aneel o Relatório de Análise de Perturbação com a síntese do que ocorreu no apagão. A previsão, segundo a agência, é que seja apresentado em reunião na semana que vem.

Depois do apagão, Brasil deve entrar em fase de energia elétrica mais cara

Até 2013, 62% da expansão será com termoelétricas, que custam mais e causam problema ao meio ambiente.
Uma parcela de 62% do crescimento da energia elétrica no Brasil previsto de 2009 até 2013 será com usinas térmicas, o que deve encarecer a energia e causar mais problemas de meio ambiente. Marcio Prado, analista do setor no Santander, preocupa-se com a excessiva dependência das usinas térmicas no Nordeste, movidas a óleo, que estão programadas para responder por 29,5% do crescimento da oferta de 2009 até 2013. Elas vão encarecer o preço da energia, são poluentes e têm enfrentado problemas na implementação dos contratos.
Os problemas do setor elétrico brasileiro entraram em pauta na semana passada, com o apagão da terça-feira, que atingiu 18 Estados. Para Prado, do ponto de vista da geração, parece não haver risco de faltar eletricidade no Brasil até 2013, já que a freada no PIB em 2009 criou folga no sistema. Ele nota, porém, que o ideal era que o aumento da oferta não fosse tão baseado nas térmicas, especialmente nas do Nordeste, a óleo.
"Existe uma incerteza sobre se, de fato, todas essas térmicas vão entrar em funcionamento nos prazos previstos e, ainda que entrem, elas têm custo caro." O analista não cita nomes, mas dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que há atrasos em 19 usinas termoelétricas com energia vendida para 2010 e 2011 em leilões do governo.
Aquele cenário de aumento da oferta até 2013 é uma projeção recente do próprio governo, realizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e inclui também a previsão sobre a evolução da demanda. Segundo as projeções, a oferta de energia no País deve crescer de 54.877 megawatts (MW) médios em 2009 para 68.712 MW médios em 2013, e a demanda de 51.845 MW médios para 64.664, no mesmo período.
O problema, porém, é que a diferença entre a oferta e a demanda previstas para 2013, de 4.048 MW médios, é quase idêntica ao aumento previsto entre 2010 e 2013 da energia das termoelétricas a óleo do Nordeste, de 4.086 MW médios. Na verdade, o cronograma da oferta de energia dessas usinas parte de zero em 2008 para 4.770 MW médios em 2013. Nesse ano, portanto, sem aquelas usinas, o sistema operaria em condições apertadíssimas e, em caso de uma hidrologia ruim (poucas chuvas), haveria risco de apagões.
Essas previsões pressupõem um crescimento do PIB de 5% em 2010, e de 4% ao ano até 2013. Num cenário alternativo, estimado por Prado, no qual o PIB tenha uma vigorosa expansão média de 5,5% naquele período, mesmo com a implantação completa e nos prazos previstos das usinas térmicas no Nordeste, o sistema trabalharia sem nenhuma folga em 2013 - na verdade, haveria um pequeno déficit de 186 MW médios. Com um crescimento médio do PIB de 5%, mesmo com a implantação sem atraso das usinas termelétricas do Nordeste, a sobra de oferta em 2013 cairia para 1.516 MW, menos da metade da folga média de 2009 a 2013, prevista no cenário oficial do governo.
Prado diz que o governo parece estar atento ao risco da dependência excessiva das usinas térmicas a óleo. Assim uma das ideias por trás do leilão de energia eólica em dezembro é justamente a de garantir a substituição parcial daquelas usinas, caso alguns projetos não venham a ser concretizados.
Ele nota que as usinas eólicas demoram aproximadamente um ano e meio para serem construídas. Dessa forma, elas teriam condições de já estar prontas em 2012, quando a dependência das usinas a óleo se torna crítica. Até 2011, a sobra de energia projetada é bem maior do que a oferta prevista destas usinas. Em 2012, porém, a oferta projetada das térmicas do Nordeste, de 2.976 MW médios, é maior do que folga prevista (diferença entre oferta total e demanda total), de 2.976 MW médios.
"Se a contratação das eólicas no leilão de dezembro for muito fraca, e se houver uma onda de crescimento forte e sustentado da economia, a situação começará a preocupar", diz Prado.

Freada do PIB ajudou ajuste da demanda à oferta

A forte desaceleração do PIB em 2009 (o crescimento previsto pelo mercado está em torno de zero), por conta da crise econômica global, foi providencial para ampliar a segurança com que o sistema elétrico vai funcionar nos próximos anos. "Em 2008, a relação entre oferta e demanda estava no talo", diz Marcio Prado, analista de energia do Santander.
Ele nota que a oferta de energia a partir de 2014 não é uma grande preocupação, por causa do próprio prazo de maturação dos projetos: "A ideia é sempre garantir que a demanda cinco anos à frente esteja garantida, porque, em seis anos, dá, em princípio, para construir a usina hidrelétrica ou nuclear que for necessária".
Segundo as mais recentes projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda em 2009 será de 51.845 megawatts (MW) médios, praticamente a mesma de 2008, que foi de 51.897 MW médios. A oferta, porém, está prevista para crescer 3.174 MW médios, criando uma folga de 3.032 MW médios.
O planejamento energético funciona com leilões para entrega de energia em cinco anos (A- 5) e para entrega em três anos (A - 3). "No A-5 se contrata o grosso da demanda, e no A-3" se faz algum ajuste - se fica claro que a demanda vai crescer mais do que a gente imaginou, contrata-se a diferença marginal", observa Prado.
Hoje, em termos de hidrelétricas, há grandes projetos que devem entrar em operação nos próximos anos, como a Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, e as Usinas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, já em construção. Apesar disso, como explica o analista, no horizonte de planejamento de cinco anos, até 2013, o predomínio é das térmicas.

BNDES planeja ampliar crédito

2009 deve liberar R$ 14 bi, 70% mais que 2008.
Enquanto o governo tem dificuldades para tirar do papel os investimentos para o setor de energia elétrica por meio da Eletrobrás, que investiu menos da metade do seu orçamento este ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) planeja aumentar o volume de financiamento ao setor.
Desde 2003, o banco participou de 268 projetos que totalizaram R$ 99 bilhões aplicados na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.
A previsão é fechar 2009 com a liberação de R$ 14, 3 bilhões, quase 70% a mais do que 2008. Até setembro, R$ 8,8 bilhões já tinham sido liberados, mas as aprovações de novos projetos já superam R$ 13 bilhões, indicando a evolução dos desembolsos em 2010.
Para a chefe do Departamento de Energia Elétrica do banco, Márcia Leal, o investimento nesse segmento, posto em xeque pelo apagão da semana passada que afetou total ou parcialmente 18 Estados brasileiros, não é baixo. Só o BNDES já viabilizou 12 mil quilômetros de linhas entre 2003 e 2009 e deve aumentar substancialmente em 2010 com a demanda das usinas do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), em Rondônia.
"Temos apoiado intensamente projetos de transmissão. Pela natureza dos investimentos, a geração demanda mais recursos, mas isso não quer dizer que uma atividade esteja mais intensa do que outra. Ao contrário, houve um esforço nos últimos anos de superação de gargalos na estrutura, como a integração da Região Norte ao sistema", diz Márcia
Do total de 268 projetos aprovados na área de energia elétrica, que demandaram R$ 58 bilhões do BNDES desde 2003, 178 eram de geração e consumiram R$ 41,9 bilhões.
TRANSMISSÃO
Para transmissão, que soma 45 projetos, os empréstimos foram de R$ 7,39 bilhões. "Estamos em ritmo intenso de aprovações para energia, não é algo circunstancial", diz Márcia.
Os projetos de transmissão, que já representam 1.362 quilômetros este ano, são viabilizados pelo BNDES.

Rede inteligente controla energia

Sistema 'smart grid' usa sensores para monitorar fluxo de transmissão de eletricidade em cada ponto da rede.
Apesar da explicação oficial, de que o apagão da noite de terça-feira foi causado por "descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes" na região de Itaberá, interior de São Paulo, existem muitas dúvidas sobre o que realmente ocorreu. Cerca de 70 milhões de brasileiros, em 18 Estados, ficaram no escuro por várias horas porque a rede elétrica não tem ainda os controles adequados. Mas isso deve mudar nos próximos anos.
Um novo conceito, chamado de rede inteligente, promete dotar a infraestrutura elétrica de controles e sensores capazes de identificar problemas no momento em que ocorrem. Com isso, será possível isolá-los e consertá-los mais rapidamente, minimizando seus efeitos. Também será possível direcionar a energia para rotas alternativas, no caso de falhas em trechos da rede.
Se a rede fosse inteligente, o impacto do apagão poderia ser menor. Fora do Brasil, as empresas elétricas têm adotado cada vez mais a rede inteligente, que promove economia de energia, torna o serviço mais resistente a falhas e permite oferecer planos de serviço diferenciados para o consumidor, como ocorre na telefonia.
"Com mais sensores na rede, as distribuidoras teriam visão melhor do que estava acontecendo na rede de transmissão e o impacto não seria tão grande", explicou Elton Tiepolo, executivo da IBM Brasil. "Com a tecnologia de smart grid (rede inteligente), seria possível, por exemplo, definir que uma região com muitos hospitais seria a última a ser afetada.
"Com a nova tecnologia, seria possível ter o registro, segundo a segundo, de como a energia deixou de ser transmitida, sendo possível determinar o ponto exato do problema.
Nos Estados Unidos, o governo Barack Obama destinou US$ 5 bilhões para projetos nessa área. Lá, a grande preocupação é a segurança da rede. O sistema elétrico americano é mais regionalizado, e a ideia é criar mais conexões entre essas infraestruturas regionais para garantir que o fornecimento não pare, por exemplo, no caso de ataques terroristas. "Comparado com o sistema brasileiro, o americano é muito menos conectado", disse Tiepolo.
No Brasil, a discussão entre as empresas e o governo ainda está no começo. A tecnologia inclui o conceito de geração distribuída, em que empresas (e até consumidores) que produzem energia, com geradores ou painéis solares, por exemplo, conseguem fornecer eletricidade ao sistema. "A rede elétrica inteligente tem mecanismos para se autobalancear", disse Maurício Torres, analista de Marketing de Utilities da Imagem, empresa de geotecnologia.
As soluções de smart grid permitem a criação de pacotes diferenciados de energia elétrica, a exemplo da telefonia. Seria possível oferecer descontos para os consumidores que não ligassem o chuveiro no horário de pico. Ou para quem concentrasse a maior parte do consumo na madrugada. Seria possível criar até pacotes pré-pagos. "O cliente terá uma cobrança mais justa", disse Torres.
Até agora, a discussão sobre a rede inteligente no Brasil esteve focada no combate à fraude. Os medidores eletrônicos de eletricidade poderiam acabar com os "gatos", as ligações clandestinas. Esse sistema de telemetria também acabaria com a necessidade de a distribuidora mandar um funcionário ler o medidor uma vez por mês.
As redes de transmissão de energia já possuem feixes de fibra óptica instaladas nos cabos OPGW (sigla em inglês de Optical Ground Wire), que funcionam como para-raios. Esses cabos já são usados para monitorar a rede, mas ainda sem a precisão que os modernos sistemas de smart grid permitem.
Para a rede de distribuição, uma tecnologia chamada de Powerline Communications (PLC) ou Broadband Over Power Lines (BPL) permite transmitir dados pela própria rede metálica. Esse sistema também possibilita a oferta de acesso rápido à internet para o consumidor, via tomada. O regulamento para o serviço foi aprovado este ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas ainda não há oferta comercial.
Nos EUA, o BPL não conseguiu alcançar sucesso, sendo visto mais como uma solução de acesso para áreas rurais. A Eletropaulo Telecom instalou o sistema em 300 prédios nos bairros de Cerqueira César, Pinheiros e Moema, em São Paulo. No piloto feito pela empresa, com 150 apartamentos, a velocidade conseguida foi de 10 megabits por segundo (Mbps). A companhia não planeja oferecer o serviço ao cliente final.

Fim de linha

Quantidade de concessões em termos finais entre 2015 e 2017
Segmentos - Quantidade de concessões - Montante sobre o total
Geração – 58 unidades geradoras – 21,5 GW equivalente a 12,9 GW médios (20% da geração do país)
Transmissão – 73.000 Km de linhas – 83% da rede básica do SIN (Sistema Interligado Nacional)
Distribuição – 41 concessionárias – 30% do mercado de distribuição
Geradoras
Volume de energia assegurada das concessões (geração) que vencerão entre 2015 e 2017 sem direito a prorrogação
Empresas – 2.015 – 2.016 – 2.017 – Total – Participação (%)
Chesf – 5.868 – 0 – 0 – 5.868 – 45,4 %
Furnas – 1.047 – 0 – 911 – 22,1 %
Cesp – 2.894 – 0 – 0 – 2.894 – 22,4 %
Emae – 0 – 0 – 0 – 0 – 0,0 %
Baixada Santista Energia – 345 – 0 – 0 – 345 – 2,7 %
Cemig – 383 – 0 – 229 – 612 – 4,7 %
CEEE – 234 – 0 – 0 – 234 – 1,8 %
Copel – 115 – 0 – 0 – 115 – 0,9 %
Total – 11.786 – 0 – 1.140 – 12.926 – 100%

Em duas hipóteses, ONS atribui apagão a problemas climáticos

Conjunção de casualidades foi tão improvável que deixou todos de queixo caído, diz técnico.
Uma semana após o apagão que atingiu 18 Estados, o Operador Nacional do Sistema elétrico (ONS) revelou ontem que os técnicos têm duas hipóteses para a causa, ambas decorrentes de problemas climáticos. A primeira é a já divulgada possibilidade de raios nas três linhas de transmissão entre Ivaiporã (PR) e Itaberá (SP). A segunda, considerada mais provável, é que três isoladores das linhas de transmissão tenham entrado em curto-circuito simultaneamente por causa de fortes chuvas e ventos.
"Uma corrente de eventos desse tipo pode ser comparada às casualidades que derrubam um avião. E ninguém deixa de voar por causa disso", disse ontem o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, ao comentar a primeira prévia do documento. O relatório definitivo só será divulgado na segunda-feira. "Ventos, chuvas e as consequências de descargas elétricas ocorrem de maneira aleatória. Seria evitar o impossível", afirmou.
Segundo o ONS, curtos-circuitos são comuns no sistema, mas nunca ocorreram de forma simultânea. Um dos técnicos comentou que foi uma conjunção de casualidades tão improvável que deixou a todos "de queixo caído".
Desde 2000, por exemplo, já ocorreram nove curtos triplos (em três linhas), mas com mais de dois ou três segundos entre eles, o que impediu a amplitude do problema. De acordo com o ONS, a queda simultânea das linhas foi facilitada porque o incidente ocorreu muito próximo da subestação onde elas convergem.
Chipp criticou a posição do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que havia negado a existência de intempéries climáticas no dia do apagão. "Acho que o Inpe deve cuidar das condições climáticas. Dos efeitos disso quem cuida somos nós. Não discuto as declarações do Inpe e espero que eles façam o mesmo." Procurada, a direção do Inpe disse que só se manifestará quando ficar concluído o relatório climático da região, previsto para até o fim desta semana.
Danos nos isoladores são raros, mas não impossíveis de ocorrer, diz o professor da Universidade São Paulo (USP) Sidney Martine, que presidiu a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista. Consultado pelo Estado sobre a versão apresentada pelo ONS, ele disse que as peças de cerâmica já poderiam estar danificadas antes do temporal, contribuindo para a ocorrência.
O especialista, porém, não acredita em problemas de manutenção. "Podem acontecer pequenas rachaduras, imperceptíveis a olho nu." Segundo ele, porém, ainda não houve tempo suficiente para investigar o que houve. "É necessário um processo de análise de todos os registros de dados das subestações para indicar o que realmente houve."
Chipp também lembrou que já é procedimento do ONS reduzir a carga de Itaipu quando o Sistema Meteorológico do Paraná indica intempéries climáticas ao longo da linha de transmissão, para evitar problemas como o que provocou o apagão.
Naquele mesmo dia, ele admitiu que tinha havido um aviso desse tipo, a carga foi reduzida, mas houve a sinalização de que o clima já teria melhorado, quando a carga foi restabelecida no início da noite. "Depois disso não tivemos mais aviso nenhum." O diretor do ONS também descartou qualquer possibilidade de ter ocorrido falha técnica ou humana.

Linhas de transmissão de Itaipu falharam na tarde do apagão

Documento aponta que sistema já havia apresentado problemas quase 10 horas antes do blecaute
Documento da diretoria técnica de Itaipu sobre a operação da hidrelétrica binacional em 10 de novembro, dia do apagão, mostrou que o sistema de transmissão que escoa a energia da usina ao Brasil já tinha apresentado problemas no período da tarde, quase 10 horas antes do blecaute que atingiu 18 Estados brasileiros. Segundo o relatório, houve o desligamento automático, às 13h31min, da linha de 765 kilovolts (kV) Itaberá/Tijuco Preto 02, "supostamente causado por descarga atmosférica, sendo ligada às 13h56min após análise das proteções atuadas".
O grupo de trabalho criado pelo governo para analisar as causas do apagão está reunido na manhã desta terça-feira no Ministério de Minas e Energia. A reunião é presidida pelo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Participam também o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim; o diretor de engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal e o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp.
A informação sobre o problema no sistema de transmissão consta no material encaminhado na segunda-feira, 16, pela direção de Itaipu ao Ministério Público Federal (MPF) de Goiás, que abriu procedimento administrativo para apurar as causas e os responsáveis pelo apagão da semana passada.
A diretoria técnica da usina informou ao MPF-GO que, por recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o "intercâmbio Itaipu/Eletrobrás 60 Hz (hertz) foi reduzido em até 1,4 mil MW (megawatts) médios" das 13h30min às 19h15min. Essa medida foi adotada por conta do registro de descargas atmosféricas ao longo do sistema de transmissão de 765 kV. Adicionalmente, o vertedouro da hidrelétrica foi fechado às 19h30min.
Apesar das medidas operacionais preventivas, houve o desligamento de todas as linhas de transmissão que escoam a energia da usina ao Brasil e ao Paraguai às 22h13min, provocando a perda total da geração de Itaipu. Isso significou uma interrupção no envio de 11,78 mil MW médios da usina, dos quais 10,9 mil MW médios ao Brasil e 880 MW médios ao Paraguai. Às 22h25, as unidades geradoras da hidrelétrica foram restabelecidas, e o fornecimento de energia ao país vizinho começou a ser retomado às 22h29min, sendo normalizado às 22h48min.
No Brasil, o processo de restabelecimento teve início às 23h30min, com a retomada do sistema de transmissão 765 kV, com conexão entre Itaipu, Sul e Sudeste totalmente normalizado às 3h51min do dia 11 de novembro. Intercâmbio na linha com frequência de 60 Hz ocorreu às 6h.
Um dos documentos encaminhados ao Ministério Público é o Boletim Diário da Operação do dia 10 de novembro, produzido pelo ONS. Neste material, as causas do desligamento das linhas de transmissão de Furnas não haviam sido identificadas. Horas depois, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o blecaute foi provocado "por descargas atmosféricas (raios), ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá (SP)".
A perda de Itaipu provocou um efeito de perda em cascata no Sistema Interligado Nacional (SIN), uma vez que uma série de linhas de transmissão e usinas foi desligada por segurança em razão do desbalanceamento entre a carga de energia e a geração. No total, isso gerou a retirada do sistema de 28,8 mil MW médios de energia, o que resultou no apagão em 18 Estados. Segundo o ONS, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo foram os mais afetados pelo apagão.